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Mauá vacina alunos particulares na escola e manda rede pública para UBS

Adolescentes de 12 a 17 anos só podem receber primeira e segunda dose da vacina da Pfizer - Claudia Castelo Branco/UOL
Adolescentes de 12 a 17 anos só podem receber primeira e segunda dose da vacina da Pfizer Imagem: Claudia Castelo Branco/UOL

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

10/09/2021 04h00Atualizada em 11/09/2021 07h56

Alunos de 12 a 17 anos de colégios particulares de Mauá, região metropolitana de São Paulo, puderam receber a primeira dose da vacina contra covid-19 em suas escolas. A medida da prefeitura desagradou mães e moradores da cidade, já que a mesma opção não foi oferecida a estudantes da rede pública.

A vacinação em adolescentes começou em agosto, primeiro para aqueles com alguma comorbidade, e depois para os demais. O filho da autônoma Telma Fukuda, de 13 anos, recebeu a primeira dose na sexta-feira passada após duas horas e meia de espera na fila da UBS Santa Lídia.

Ontem, quando entrou em sua rede social, Telma viu uma publicação da prefeitura que informava sobre a vacinação em colégios particulares. "Até me assustei e pensei: por que só a escola particular?", disse. Procurada pelo UOL, a prefeitura informou que "não há priorização de um grupo em detrimento a outro".

A gestão municipal afirmou que a aplicação de vacina em escolas particulares é "mais uma ação para ampliar a vacinação na cidade que deveria ser parabenizada, não questionada".

Telma relata que precisou cancelar entregas que havia marcado para o dia para conseguir tempo de levar o filho, que atualmente cursa o 8º ano do Fundamental, para ser vacinado.

"No dia mesmo, eu vi uma senhora que foi retirar a senha mais cedo, porque não tinha ninguém para ficar na fila para sua neta e não é todo mundo que consegue essa flexibilidade mesmo."

Na condição de anonimato, uma professora da rede pública de Mauá disse que o erro foi "priorizar colégios particulares" em relação às escolas que ficam na periferia.

Em uma publicação feita nas redes sociais da prefeitura, há dezenas de comentários criticando a falta da ação em escolas públicas. "Os alunos dessas escolas particulares têm mais direitos do que os outros?", perguntou uma moradora. Outra pessoa disse: "Enquanto isso, alunos de escola estadual ficaram em média 2 horas no sol quente [para receber a vacina]".

Na publicação, a gestão municipal informou que está em contato há duas semanas com as escolas públicas, mas que "obviamente, a logística em relação às escolas públicas tem que ser mais elaborada, já que a rede é muito maior do que a de unidades particulares".

Apesar dessa justificativa, há apenas uma escola da rede municipal frequentada por adolescentes da faixa etária atualmente liberada para vacinação. Mesmo assim, nem ela recebeu a visita da Secretaria Municipal de Saúde para aplicação das doses nos alunos.

"Os profissionais das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) estão em contato com diretores das escolas para definir o cronograma após o recebimento de autorizações dos pais ou responsáveis", escreveu a prefeitura nas redes sociais.

O tipo de imunizante a ser aplicado nos adolescentes foi usado como outra justificativa da prefeitura nos comentários das redes sociais. "As vacinas dessa marca precisam de um condicionamento diferente daquele utilizado para outras vacinas como CoronaVac e AstraZeneca", disse.

Diferentemente de Telma, a assistente financeira Andreia Maria da Silva Pereira se disse satisfeita ao saber que a filha de 13 anos receberia a primeira dose da vacina no colégio.

"Ficamos lisonjeados devido à secretaria da Saúde entrar em contato conosco para vacinar os alunos. Eles foram no período da manhã, mantendo todos os protocolos de segurança", conta Andreia.

Para a assistente financeira, não houve "discriminação entre a escola pública e particular", mas, sim, uma questão de logística para prefeitura tornar a ação possível. "Acredito que eles vão fazer o mesmo pela rede pública", avalia.

Ao UOL, a prefeitura disse que a vacinação foi iniciada nas particulares, porque elas aceitaram "prontamente, enquanto para as públicas estaduais foram necessários envios de ofícios para delegacia de ensino".

O município garante que não há privilégios "a qualquer classe social ou público específico" e que Mauá foi uma das poucas cidades a não parar a vacinação contra covid-19 desde janeiro deste ano. A prefeitura disse também não ter recebido relatos de espera nas UBSs.

Prefeito tem 5 dias para explicar plano vacinal

A Defensoria Pública enviou um ofício ontem para o gabinete do prefeito Marcelo de Oliveira (PT) e à secretária de Saúde, Célia Cristina Pereira, pedindo explicações sobre o plano vacinal da cidade, as políticas públicas para atender a população mais vulnerável, o exato número de pessoas com mais de 18 anos vacinadas e o cálculo feito pela prefeitura para informar a taxa da população imunizada.

O município tem o prazo de cinco dias úteis para responder os questionamentos do órgão. O pedido foi feito após a Defensoria receber inúmeros relatos de moradores da cidade sobre a falta de transparência da prefeitura.

Segundo balanço da prefeitura, cerca de 180 adolescentes receberam a primeira dose nos colégios Barão de Mauá, Monsenhor e Renil.