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Bolsonaro critica demissão de Alexandre Garcia e mente sobre vacinas

Do UOL, em São Paulo

27/09/2021 12h34Atualizada em 27/09/2021 16h05

Em mais uma fala em que lançou dúvidas infundadas sobre o benefício da imunização contra a covid-19 para o controle da doença no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) repetiu que é contra a obrigatoriedade da vacina citando argumentos que são invalidados por evidências científicas.

Em discurso que marcou o início da semana de eventos em alusão aos 1.000 dias de seu governo, Bolsonaro ainda criticou a demissão de Alexandre Garcia pela CNN dizendo que o jornalista tinha apenas manifestado sua opinião. Porém, na verdade Garcia fez uma defesa, sem se basear em fatos, do chamado tratamento precoce, que se configura na prescrição de medicamentos ineficazes contra a covid-19.

"Assisti na semana passada algo estarrecedor. Em uma grande rede de televisão, num quadro conhecido como Liberdade de Opinião, um famoso jornalista foi demitido por sua opinião. Não tem coisa mais absurda do que isso, para onde estamos caminhando?", disse Bolsonaro.

Na sequência do discurso, Bolsonaro disse que não é contra a vacina. "Se fosse, não teria assinado a medida provisória para comprar. Mas respeitamos a liberdade. Por mais que me acusam de atos antidemocráticos, são apenas acusações, ninguém mais do que eu respeita a opinião de todos. A vacina não pode ser obrigatória", disse.

Ao argumentar, Bolsonaro fez insinuações que são desmentidas por especialistas em epidemia. O presidente citou os testes positivos da ministra Tereza Cristina, do advogado-geral União Bruno Bianco e de seu filho Eduardo Bolsonaro para lançar dúvidas infundadas sobre a vacina.

"Ainda há uma grande incógnita nisso daí (sobre vacinas). É um prato feito para a imprensa dizer que eu sou negacionista. É liberdade. Tem certas coisas que se tem ou não tem", disse Bolsonaro, que ainda não se imunizou contra a covid-19.

A fala de Bolsonaro é negacionista e enganosa porque desconsidera que o principal benefício da vacina é a diminuição da gravidade da doença. A imunização também influencia na transmissibilidade, mas nenhuma vacina no mundo é 100% eficaz na proteção contra a infecção.

No caso da covid-19, estudos rigorosos comprovaram a eficácia mínima exigida de todas as vacinas em uso no mundo, principalmente em seu efeito positivo para evitar o agravamento da infecção.

Especialistas ainda são claros em apontar que o principal benefício da vacina é coletivo, uma vez que quanto mais pessoas estiverem imunizadas, menor será a circulação do vírus.

Também é mentirosa a afirmação de Bolsonaro de que ainda há uma grande incógnita sobre a vacinação. Os efeitos positivos da imunização contra a covid-19 foram irrefutáveis em diversos países do mundo, incluindo o Brasil, que com o avanço de pessoas vacinadas viu o número de casos e mortes pela doença caírem nos últimos meses.

O efeito é ainda mais visível em relação ao número de hospitalizações, que caiu de forma acentuada em todo do Brasil mesmo diante do temor pela variante delta, que pode ter um maior escape da vacina.

Atualmente, o Brasil registra em média 528 mortes em razão da covid-19 por dia, sendo que em abril, na pior fase da epidemia e com a vacinação ainda em seu começo, a média chegou a superar 3 mil mortes.

Sugestão a Queiroga

O tom negacionista de Bolsonaro foi mantido quando ele se referiu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que está cumprindo isolamento nos Estados Unidos após ser infectado pelo novo coronavírus.

Ao citar uma conversa com o ministro para avisá-lo sobre o teste positivo, o presidente deu a entender que sugeriu tratamento precoce, além de ter feito brincadeiras sobre o uso de máscara e vacinas.

"Eu fui no quarto do Queiroga. Estava ele lá, arrumadinho, cheiroso, feliz. Daí disse: 'Queiroga, tudo bem contigo? Tomou a vacina?'. Daí brinquei com ele: 'Dormiu de máscara?" Todo mundo sabe que ele dificilmente está sem máscara", disse Bolsonaro.

"Não vou falar tudo que conversei, mas me dirigi a ele e disse o seguinte: 'você vai seguir o protocolo do [ex-ministro Luís Henrique] Mandetta, esperar sentir falta de ar para procurar médico, ou vai partir para outro medicamento qualquer agora?' Não vou responder a vocês o que ele me disse", afirmou.

Queiroga foi infectado pelo coronavírus ao integrar a comitiva brasileira para a Assembleia-Geral da ONU. Além dele, outros presentes na viagem, como Eduardo Bolsonaro e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, também tiveram teste positivo ao chegarem ao Brasil.

Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem adotado um discurso negacionista em relação a medidas de combate ao coronavírus, como o isolamento social e o uso de máscaras, ambos considerados fundamentais por epidemiologistas para o controle da transmissão.

No começo do mês, em entrevista para negacionistas alemães de extrema-direita, o presidente expôs mais o seu pensamento sobre a pandemia, repetindo mentiras sobre vacinação e outros temas ligados ao novo coronavírus.