Uso de ivermectina contra a covid causou até confusão mental, aponta estudo
Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como opção para tratar covid-19, a invermectina intoxicou pacientes nos Estados Unidos, segundo pesquisa publicada este mês no New England Journal of Medicine.
Parte do chamado kit covid —um conjunto de medicamentos sem comprovação contra o coronavírus—, a invermectina causou efeitos tóxicos, como confusão mental, falta de coordenação nos movimentos do corpo e convulsões.
Os pesquisadores analisaram o desfecho clínico de 21 pessoas que em agosto deste ano ligaram para o Centro de Envenenamento do Oregon, em Portland, nos Estados Unidos, relatando efeitos tóxicos após uso do medicamento.
Onze delas disseram ter usado ivermectina para prevenir o aparecimento da covid-19. O restante usou o remédio para tratar os sintomas do coronavírus.
Ao todo, seis pessoas foram hospitalizadas e quatro internadas em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), sem mortes. Outras quatro apresentaram problemas gastrointestinais, três tiveram confusão mental, dois relataram ataxia (falta de coordenação em movimentos do corpo) e fraqueza, dois reclamaram de hipotensão (pressão arterial muito baixa) e um passou por convulsões.
Na maioria da vezes, os sintomas apareceram 2 horas após a ingestão de uma grande dose do remédio pela primeira vez. Em seis pessoas, os sintomas surgiram gradualmente, após dias e até semanas recebendo doses repetidas tomadas em dias alternados ou duas vezes por semana.
"Não há boas evidências de que [o remédio] possa prevenir ou tratar covid-19", afirma um dos autores, o pesquisador Robert Hendrickson, da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, em Portland. "Mas pode causar toxicidade, e já causou toxicidade quando usado por esse motivo específico [tratar covid]."
É importante que os médicos reconheçam essa toxicidade e incluam-na nas perguntas aos pacientes quando há alguém agudamente confuso, incapaz de andar
Robert Hendrickson, pesquisador
Prescrições disparam
Aprovada originalmente para tratar infecções causadas por parasitas, a ivermectina passou a ser bastante prescrita nos Estados Unidos durante a pandemia, inclusive a formulação veterinária. Em 13 de agosto, as prescrições passaram de 88.000 por semana, 24 vezes acima da média semanal pré-covid (3.600).
Mesmo quando usada para indicações aprovadas, "a ivermectina tem um bom número de efeitos adversos", afirma Hendrickson, que diz "entender" porque as pessoas estão optando pelo ivermectina: É que os primeiros estudos mostraram que o medicamento pode diminuir a replicação do SARS-CoV-2 em laboratório, mas grandes ensaios não mostraram nenhum benefício clínico na prevenção ou tratamento da covid-19.
"Há muita pressão dos pacientes para prescrever, principalmente sobre os médicos primários", diz o pesquisador. "Mas sem eficácia, e certamente com risco de toxicidade grave em vários casos, não vale a pena."
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