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Entenda o surto de gripe causado pelo vírus influenza A H3N2

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

16/12/2021 04h00

A pandemia do novo coronavírus mal foi controlada no Brasil e um surto de gripe se abate sobre cidades de ao menos cinco estados, incluindo as duas maiores capitais brasileiras. Surgido em Hong Kong na década de 1960, o vírus influenza A (H3N2) sofreu uma nova mutação na Austrália este ano, suficiente para aumentar os atendimentos nos prontos-socorros e internações nos hospitais do Rio de Janeiro e São Paulo.

Enquanto a cidade do Rio já contabilizou mais de 23 mil casos da doença nas últimas semanas, na capital paulista foram 19 internações na semana terminada no dia 14, contra 12 casos de março a junho do ano passado. Ontem, a Bahia registrou a primeira morte relacionada ao vírus, que já chegou também a Rondônia e ao Espírito Santo.

À CNN, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou que a vigilância epidemiológica notou que os pacientes com gripe se restringem ao primeiro atendimento, em nível ambulatorial, como acontece no Rio.

Não estamos vendo como uma situação de gravidade, por enquanto, e sim de atenção."
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo

Mas, afinal, o que é preciso saber sobre essa nova variante?

O que é o vírus H3N2?

O vírus H3N2 é um dos subtipos do vírus influenza A. Conhecido oficialmente como influenza A (H3N2), esse vírus é sazonal. Ele circula entre humanos desde uma epidemia em Hong Kong em 1968. Mas foi apenas a partir de 2005 que ele começou a circular pelo mundo mais frequentemente.

Vírus H3N2 não surgiu na Austrália

Embora a H3N2 tenha aparecido em Hong Kong, uma nova mutação foi identificada "há seis meses na Austrália", diz o virologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) José Luiz Proença Módena. A cepa foi batizada de Darwin em referência à cidade em que ela foi sequenciada.

A vacina da gripe protege contra o vírus H3N2?

Como os vírus influenza passam por mais mutações do que o coronavírus, as vacinas precisam mudar todos os anos para garantir eficácia. A vacina contra a gripe usada no Brasil já tem em sua composição a H3N2, mas não se trata da variante Darwin, a que agora circula no Rio e em São Paulo.

Desde que a variante foi encontrada, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda uma nova formulação para as vacinas contra a gripe que serão aplicadas em 2022, agora com a H3N2 Darwin.

Mesmo assim, a vacina à disposição "ajuda a pelo menos reduzir hospitalização", diz Cristina Bonorino, imunologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). "Essa variante não está na vacina, mas a H3N2 está. Então a vacina tem alguma proteção."

Vacinação contra a gripe no Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana, Rio - João Gabriel Alves/Agência Enquadrar/Folhapress - João Gabriel Alves/Agência Enquadrar/Folhapress
Arquivo - Campanha de vacinação contra a gripe neste ano em Copacabana, Rio
Imagem: João Gabriel Alves/Agência Enquadrar/Folhapress

Quem são as principais vítimas?

A variante atinge principalmente idosos e —ao contrário do coronavírus— crianças. Nesses grupos, a gripe pode ser ainda mais grave, resultando até em internação.

"O [vírus] influenza atinge crianças, mas ninguém sabe ao certo por quê. É uma grande incógnita que ainda buscamos resposta", diz a imunologista.

Ela diz, no entanto, que os infectados até o momento pela Darwin são adultos não vacinados, já que "a campanha de vacinação contra a gripe foca em geral em idosos e crianças, o principal grupo de risco".

Quais os principais sintomas do vírus H3N2?

Os principais sintomas provocados pela Darwin são os mesmos da gripe comum: febre alta, dores nas articulações, nariz congestionado, tosse, inflamação na garganta e fortes dores de cabeça. Pode haver vômito e diarreia principalmente em crianças.

Como se prevenir do vírus H3N2?

A especialista recomenda os mesmos cuidados para fugir da covid-19: usar máscaras, lavar as mãos frequentemente e evitar aglomerações.

Se o paciente apresentar os sintomas dessa gripe, o conselho é se isolar por até seis dias e só sair de casa 24 horas depois que a temperatura tiver caído para 36°C.

Existe tratamento?

Para cuidar do paciente infectado por esse subtipo do vírus, recomenda-se o mesmo tratamento para a gripe comum, com remédios para conter os sintomas. Os casos graves da doença podem precisar de internação.

A médica alerta para o fato de o influenza "conter uma infecção bacteriana associada". Alguns casos, diz, começam "primeiro com resfriado, depois agrava. O paciente fica bem em seguida, mas volta a piorar e pode acabar com uma pneumonia que precisa ser tratada com antibiótico".

A queda na vacinação contra a gripe na pandemia tem influência?

Todas as vacinações caíram nos últimos anos, como a da gripe, "e isso pode ajudar a espalhar o vírus agora". A imunologista acrescenta que a flexibilização das medidas restritivas contra a covid-19 também motiva o aumento de infectados pela H3N2.

"O vírus da gripe está voltando justo agora que começaram a reabrir alguns setores e flexibilizar as medidas de contenção ao coronavírus", diz.

É a mesma coisa que a covid-19. A gente tem de vacinar todo mundo. Toda vez que a população não se vacina, pode surgir variante nova. Isso acontece todo ano com o influenza."
Cristina Bonorino, imunologista da SBI