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Em meio a surto de gripe aviária, Reino Unido registra caso raro em humano

MADS CLAUS RASMUSSEN/AFP
Imagem: MADS CLAUS RASMUSSEN/AFP

Guilherme Castellar

Colaboração para o UOL, no Rio

11/01/2022 04h00Atualizada em 13/01/2022 07h45

A agência de segurança sanitária do Reino Unido reportou, na quinta-feira passada (6), um caso de gripe aviária em um morador do sudoeste do país. Ao anunciar o caso, o órgão fez questão de reforçar que o risco de transmissão de vírus de gripe de aves para humanos ainda é "muito raro" e ocorreu muitas poucas vezes no país.

O contágio humano foi identificado em meio ao maior surto de gripe aviária de todos os tempos no Reino Unido, com mais de 60 casos confirmados desde novembro passado. Dezenas de aves criadas comercialmente, o que inclui galinhas, patos e gansos, foram sacrificadas.

O surto de gripe aviária no país envolve o vírus de Influenza A do subtipo H5N1. No entanto, ainda não se sabe se é a mesma que infectou o britânico. Exames laboratoriais identificaram apenas se tratar de um vírus da linhagem H5

O governo não informou detalhes do indivíduo, apenas que ele está bem e em isolamento domiciliar. E não há indícios de transmissão entre humanos.

O caso foi identificado após a Agência de Saúde Vegetal e Animal (APHA, na sigla em inglês) identificar um surto de H5N1 no bando de pássaros criados pelo homem, que mantinha muitos animais infectados dentro e ao redor de casa. Pelo protocolo da APHA, todas as pessoas em contato com os animais doentes são examinadas. Assim foi identificado o contágio humano. As aves infectadas foram todas sacrificadas.

Atualmente, não há evidências de que esta cepa detectada no Reino Unido possa se espalhar de pessoa para pessoa, mas sabemos que os vírus evoluem o tempo todo e continuamos a monitorar a situação de perto."
Isabel Oliver, diretora científica da Agência de Segurança sanitária do Reino Unido

Se o contágio de pessoas a partir de aves é considerado raro, a transmissão de vírus de gripe aviária entre humanos é ainda mais incomum. Mas já ocorreu e pode provocar doença grave. Por isso, esses surtos são monitorados com rigor pelas autoridades sanitárias.

Primeiro caso em humano foi registrado em 1997

O H5N1 é conhecido desde meados do século passado, mas foi isolado pela primeira vez em humanos em 1997, em uma criança de Hong Kong. Em 2003, surtos de gripe aviária em humanos foram notificadas na Coréia do Sul, Vietnam, Hong Kong e outras localidades asiáticas.

Em 2004, os surtos ganharam status de pandemia, contaminando e levando à morte centenas de pessoas na Indonésia, Vietnan, Tailândia, China e Camboja, principalmente. À época, havia o temor de que o H5N1 se tornasse tão mortal quanto o vírus da gripe espanhola (H1N1), que matou dezenas de milhões de pessoas no mundo. Após grande esforço dos países asiáticos e o sacrifício de milhões de aves, o surto foi controlado.

Desde 2003, a OMS contabiliza 863 casos em humanos e 456 mortes confirmadas por Influenza A (H5N1). Mais da metade desses casos e mortes foram registrados entre 2004 e 2009.

Em 2015, a gripe aviária voltou a assustar por um aumento de surtos da doença no Egito. Foram 136 casos e 39 mortes. Desde 2018, foram apenas dois casos e uma morte confirmada pela doença, segundo a OMS.

Sobre o vírus

O H5N1 é comum na natureza, sendo encontrado em aves migratórias selvagens, que tendem a sofrer sintomas menos severos. O problema é quando esse vírus se espalha em aves menos acostumadas a eles, como as domésticas. Quando chega a granjas comerciais, onde as aves vivem aglomeradas, muitas vezes o surto só consegue ser controlado com o sacrifício dos animais.

Para infectar humanos, o vírus precisa passar por mutações que permitam que ele consiga superar o nosso sistema imune e se reproduzir em nossas células. Não é algo tão simples, mas quando o vírus encontra liberdade para se disseminar em granjas, encontra o ambiente perfeito para mutações. Ainda assim, uma pessoa precisa ter contato com a ave doente ou suas fezes para se infectar.

Outros subtipos de vírus de gripe aviária geram preocupação no mundo. A China registrou 21 casos de infecções em humanos com a cepa H5N6, em 2021. São 16 a mais que 2020.

O ano passado também registrou os primeiros casos de contágio humano de dois subtipos de gripe aviária: H10N3, na China, e H5N8, na Rússia. Este último tem provocado diversos surtos da doença em aves na Bélgica, Holanda, França, Dinamarca e Alemanha. Especialistas consideram baixo o risco de uma propagação em grande escala desses vírus.