Bolsonaro termina pesca e volta a Brasília para reforçar tese de inocência

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) encerra nesta segunda-feira (25) a viagem que fez com familiares e aliados para São Miguel dos Milagres, em Alagoas. A previsão é que ele retorne na noite de hoje para Brasília, no Distrito Federal.

O que aconteceu

Indiciado pela terceira vez neste ano, Bolsonaro chega a Brasília na noite de hoje para articular sua defesa. Na semana em que o ex-presidente ficou hospedado em uma pousada de luxo na praia do Toque, na cidade de São Miguel dos Milagres, seu nome esteve no centro da investigação de uma trama por um golpe de Estado. Na terça-feira (19), a Polícia Federal finalizou um relatório com detalhes do plano e indiciou 37 pessoas, incluindo Bolsonaro.

Ex-presidente pescou e aproveitou para "descansar e relaxar com a família", segundo aliados. O UOL apurou que ele se hospedou na pousada Villas Taturé, pertencente a Gilson Machado (PL), empresário, sanfoneiro, ex-ministro do Turismo e fiel apoiador de Bolsonaro. Além deles, estavam também o filho do sanfoneiro, Gilson Machado Filho (PL), vereador eleito em Recife.

Bolsonaro voltará a Brasília para participar de reuniões marcadas com integrantes do PL e vereadores eleitos. Principal nome citado no noticiário nacional e internacional sobre a investigação, Bolsonaro teria utilizado a semana de folga para analisar as notícias, segundo informaram aliados.

Ex-presidente quer reforçar tese de inocência. Entre os argumentos veiculados pelos bolsonaristas para tentar deslegitimar as investigações da Polícia Federal está o plano de criar um "gabinete institucional de crise". A PF apurou que militares pretendiam criar esse grupo depois que o golpe de Estado se consumasse. Aliados de Bolsonaro afirmam também que o relatório veio a público para retirar a visibilidade da participação da primeira-dama Janja no G20, também na semana passada.

Os aliados de Bolsonaro reforçam a tese de que há "uma tentativa de tirá-lo" de uma eventual candidatura à Presidência em 2026. Ele, porém, está inelegível até 2030. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tirou os direitos políticos do ex-presidente por causa da convocação de um encontro com embaixadores para fazer ataques às urnas eletrônicas. O evento foi uma agenda oficial do governo, em julho de 2022, e teve transmissão ao vivo pela TV Brasil. Um apoiador afirmou ao UOL que "este é o preço que Bolsonaro paga por ser contra o sistema".

Semana em Alagoas teve passeios pela cidade de São Miguel dos Milagres, descanso em pousada e pesca. "Ficamos um tempo descansando e off, coisa que o presidente nunca faz", disse um apoiador. Gilson Machado divulgou um vídeo em que aparece com o ex-presidente tocando sanfona — ele ficou conhecido por tocar o instrumento durante lives presidenciais durante a pandemia de Covid-19.

Aliados acreditam que esta semana será "de quebra de narrativa". O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), deve encaminhar nos próximos dias à PGR o relatório final da Polícia Federal que resultou no indiciamento por suposta tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Mas os aliados apostam que esse material só será analisado para se transformar ou não em denúncia na semana que vem.

Relatório que indiciou Bolsonaro

A PGR analisará o caso após receber o relatório de quase 900 páginas, que está no STF. Caberá à PGR analisar todos os fatos e decidir se apresenta denúncia contra os envolvidos.

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PGR terá prazo inicial de 15 dias para se manifestar. Paulo Gonet pode pedir mais tempo ou mesmo solicitar mais diligências caso entenda ser necessário. A expectativa é que ele só apresente a denúncia em 2025, devido ao grande volume de informações da investigação e à complexidade do caso. Além disso, o Judiciário entra em recesso a partir de 20 de dezembro.

De perfil discreto e cauteloso, Gonet nem sempre tem adotado o mesmo entendimento da PF. Ele deve ser minucioso ao se debruçar sobre os detalhes da investigação antes de apresentar uma denúncia.

Como estão os outros indiciamentos contra Bolsonaro

Em julho, Bolsonaro foi indiciado no caso da venda das joias. A PF entendeu que o ex-presidente cometeu os crimes de peculato (desvio de dinheiro público), associação criminosa e lavagem de dinheiro. O caso envolveu a venda, no exterior, de peças presenteadas à Presidência da República durante viagens oficiais. A PGR pediu mais informações às autoridades policiais.

Suspeita de fraude na carteira vacinal rendeu indiciamento em março. Nesse caso, a PF afirmou que um grupo alterou informações da vacinação de Bolsonaro e da filha do ex-presidente para que os dois pudessem ir aos EUA em dezembro de 2022. Os dados teriam sido inseridos no sistema pelo então secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ). Segundo a PGR, a PF cumpriu o pedido e voltou à Procuradoria para análise.

Eventuais novas provas podem dar início a novos inquéritos. Os advogados consultados pelo UOL afirmam que é possível que surjam novas investigações ou que antigas sejam retomadas.

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