'Errada', diz diretora da Anvisa sobre nota que põe vacina como não efetiva
A diretora da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Meiruze Freitas disse ontem, em entrevista à CNN, que a equipe do órgão chegou a pensar que a nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde que coloca a cloroquina como eficaz e vacina como não efetiva contra a covid-19 era falsa.
Ela disse que o documento foi uma "infeliz surpresa" e classificou a nota como "errada". A nota técnica para barrar as diretrizes que contraindicam o uso do chamado "kit covid" classifica a hidroxicloroquina como eficaz para o tratamento contra a covid-19 e afirma que as vacinas não demonstram a mesma efetividade, contrariando uma série de estudos e orientações sanitárias pelo mundo.
A nota é assinada apenas pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta, Hélio Angotti Neto.
Essa nota é uma grande surpresa. Nós estamos ampliando a vacinação no Brasil, reitera-se a todo momento que as vacinas têm qualidade, eficácia e segurança, cumpriu todos os estudos. Num primeiro momento, nós achamos que esse documento era falso, que não era do Ministério da Saúde. Segundo momento, [foi] uma infeliz surpresa porque as vacinas têm sim estudos, é a ferramenta de salvar vidas e a melhor estratégia de saúde pública adotada na pandemia Meiruze Freitas, diretora da Anvisa, à CNN
A diretora lembrou ainda que não há na Anvisa indicação aprovada em bula para a hidroxicloroquina e azitromicina associadas a ser utilizada no tratamento para a covid-19. Evidências científicas mostraram que os dois medicamentos não são eficazes contra a doença.
Meiruze disse que a posição da agência reguladora frente ao comunicado é reafirmar a vacina como melhor estratégia no enfrentamento da pandemia e disse que a nota é "contraditória", já que o ministério tem comprado e distribuído vacinas aos brasileiros.
Essa nota está errada. As vacinas têm todos os estudos capazes de comprovar segurança, eficácia e qualidade (...) No Brasil a gente tinha 4 mil mortes [por dia], tinha UTI cheia, tinha pessoas que faltava oxigênio. Hoje o Brasil tem enfrentando a pandemia ainda, em especial por conta da variante ômicron, mas as vidas continuam sendo preservadas. Então, as vacinas têm todos os dados que comprovam sua qualidade, eficácia e segurança Meiruze Freitas
A diretora acrescentou que as pessoas precisam acreditar na seriedade com que a Anvisa avalia todos os dados. "Nós tomamos vacina, hoje eu tomei minha dose de reforço. Eu acredito exatamente porque é avaliado na Anvisa."
Questionamento sobre vacinas contraria Queiroga
O questionamento da eficácia das vacinas contraria políticas do próprio Ministério da Saúde. Ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participou de uma ação promovida pela pasta para incentivar a vacinação e a testagem da população nos estados da região Norte com Angotti Neto, responsável pela nota técnica, e outros secretários do ministério.
Na ação, Queiroga esteve em Manaus e o secretário foi para Porto Velho. O ministro pediu que as pessoas se vacinassem e afirmou que "não há um caminho mais eficiente para nos livrarmos dessa pandemia do que a vacinação da nossa população". Por outro lado, voltou a criticar o passaporte vacinal e a exigência da imunização.
Durante o evento, Queiroga citou um estudo patrocinado pela secretaria de Angotti Neto e publicado na revista Lancet comprovando a efetividade das vacinas.
* Com Estadão Conteúdo
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