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Cientistas encontram microplásticos em sangue humano pela primeira vez

Imagem de resíduos de plástico de pesquisa a respeito de microplásticos em sangue humano.  - Divulgação/Vrije Universiteit Amsterdam
Imagem de resíduos de plástico de pesquisa a respeito de microplásticos em sangue humano. Imagem: Divulgação/Vrije Universiteit Amsterdam

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/03/2022 13h11Atualizada em 25/03/2022 08h16

Cientistas holandeses detectaram sinais de poluição microplástica em sangue humano pela primeira vez. Outro fator intrigante foi que entre as pessoas testadas para a pesquisa, 80% delas tinham essas partículas no organismo.

Até o momento, os pesquisadores ainda não identificaram possíveis danos à saúde dos voluntários. Mas, continuam perplexos, pois geralmente os microplásticos são capazes de destruir as células humanas em experimentos de laboratório e as partículas de poluição do ar, quando entram no corpo, podem provocar inúmeras doenças que levam a milhões de mortes precoces por ano.

De qualquer modo, a descoberta mostra que as partículas podem viajar pelo corpo e se alojar facilmente em órgãos. E isso indica um cenário desfavorável para a saúde humana, pois enormes quantidades de resíduos plásticos são despejadas no solo e nos oceanos, deixando muitas pessoas vulneráveis à contaminação, seja por meio do consumo de água e alimentos expostos a essas partículas, seja pela inalação.

De acordo com informações do jornal The Guardian, os cientistas analisaram amostras de sangue de 22 doadores anônimos, todos adultos saudáveis. Cerca de 30% continha poliestireno, usado para embalar alimentos e outros produtos. Outros 25% das amostras de sangue continham polietileno, do qual são feitas sacolas plásticas.

"Nosso estudo é a primeira indicação de que temos partículas de polímero em nosso sangue - é um resultado inovador", disse o professor Dick Vethaak, ecotoxicologista da Universidade Vrije em Amsterdam, na Holanda, para o jornal britânico. "Mas temos que estender a pesquisa e aumentar o tamanho das amostras, assim como o número de polímeros avaliados."

Grande vulnerabilidade

Vethaak afirmou que o cenário é preocupante, pois quase todas as pessoas estão propensas a acumular microplásticos no organismo, em razão de hábitos ou descuidos diários no modo como o plástico é usado. E esse processo, na maioria das vezes, começa na infância.

Em estudos anteriores, o pesquisador descobriu que os microplásticos eram 10 vezes maiores nas fezes dos bebês em comparação com os adultos. Essa situação acontece devido à alimentação dos pequenos ser feita por meio de garrafas plásticas, que permitem que eles engulam milhões de partículas de microplástico por dia.

"Também sabemos, em geral, que bebês e crianças pequenas são mais vulneráveis à exposição a produtos químicos e partículas", declarou Vethaak. "Isso é muito grave".

O cientista holandês reconheceu em alguns testes que a quantidade e o tipo de plástico variaram consideravelmente entre as amostras de sangue. Para ele, as diferenças podem refletir a exposição de curto prazo antes das amostras serem coletadas, como beber um café em um copo de plástico ou usar uma máscara facial de plástico.

Riscos à saúde

Um estudo recente da Universidade Rutgers, em Nova Jersey (EUA), apontou para o impacto do microplástico em fetos e bebês. Os cientistas descobriram que essas partículas podem se prender às membranas externas dos glóbulos vermelhos e limitar sua capacidade de transportar oxigênio. As partículas também foram encontradas nas placentas de mulheres grávidas e podem se espalhar para os corações, cérebros e outros órgãos dos fetos.

Já outro levantamento, publicado na terça-feira (22), em coautoria de Vethaak, avaliou o risco de câncer para pessoas com elevados níveis de microplásticos no sangue. O artigo afirmou que conforme a produção de plástico aumenta a cada dia, mais pessoas absorvem seus resíduos que, por sua vez, afetam as estruturas e processos do corpo humano e podem induzir a carcinogênese - desenvolvimento de células cancerígenas.