Após reportagem do UOL, Unimed diz que pagará cirurgia de garoto com câncer

A Unimed Nacional disse que vai pagar pela cirurgia de R$ 53 mil em uma criança de 9 anos com um câncer no crânio. A decisão foi confirmada à família ontem um dia depois de uma reportagem do UOL revelar que os pais da criança foram cobrados pelo hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, após a Unimed não pagar pela cirurgia.

O que disse a Unimed

A operadora afirmou, por meio de nota, que "somente tomou conhecimento da cobrança feita pela cirurgia do beneficiário Leonardo Leite após o texto do UOL".

Isso porque os procedimentos estavam autorizados. Desta forma, a operadora entrou em contato com o hospital BP e solicitou a reversão da conta para a Unimed Nacional, que vai providenciar o pagamento integral do valor cobrado. A ouvidoria da cooperativa está tentando contato com o senhor Sadrac Leite, pai de Leonardo, para informá-lo da solução.
Unimed Nacional

Ao ter sido procurada pelo o UOL antes da publicação do texto, a Unimed negou irregularidade. Disse em nota que "os custos [da cirurgia] estão em análise", apesar de a cobrança ter sido feita pelo Beneficência Portuguesa há dois meses.

Os pais da criança afirmam que procuraram a Unimed para tratar do caso. "É descabido falarem que não sabiam. Eu ainda tenho os protocolos de reclamação", diz o pai do garoto, o bibliotecário Sadrac Leite Silva, 45.

Hospital confirmou decisão da Unimed. Sacrac informou que ontem recebeu uma mensagem do hospital afirmando que "a Central Nacional Unimed optou por assumir as despesas relacionadas aos itens anteriormente cobrados em caráter particular".

Mas ainda pode ter cobrança. O hospital alertou, porém, que a decisão "não elimina a possibilidade de outros itens ou procedimentos serem revertidos para cobrança particular" depois de uma auditoria da Unimed.

"Essa notícia dá um alívio, mas o hospital fala como se tivessemos feito algo errado", diz Sacrac. "Foram os médicos do hospital que pediram autorização à Unimed para que a cirurgia fosse realizada."

O que aconteceu

Socorrido às pressas. Leonardo já vinha reclamando de dores de cabeça quando, em dezembro de 2021, foi levado às pressas para o hospital depois de um domingo com grande incômodo e enjoos. O garoto, então com 7 anos, foi internado imediatamente após ser diagnosticado com um câncer no crânio.

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O tumor atingiu a hipófise, uma glândula. "Agora ele tem um distúrbio de tireoide, desenvolveu diabetes e perdeu parte da visão", diz o pai do garoto. "Ele ficou 15 dias internado sentindo dor."

Após três cirurgias, a Unimed negou radioterapia. A última operação, realizada em 5 de abril deste ano, durou 12 horas e deixou Leonardo na UTI por quatro dias. "Os médicos já deixaram programada a radioterapia para depois da operação", diz o pai.

Mas a Unimed negou dizendo que o tratamento não estava no rol da ANS [Agência Nacional de Saúde]. O médico pediu reanálise com urgência porque esse era o único tratamento para o caso dele, que já estava perdendo a visão. Mas negaram de novo.
Sadrac Leite Silva, pai de Leonardo

Unimed cancelou o plano. Os pais só conseguiram realizar as 28 sessões de radioterapia depois de conseguir uma liminar (decisão provisória) na Justiça. Ainda assim, a Unimed enviou uma carta no final de abril comunicando o cancelamento do convênio.

Hospital cobrou R$ 53 mil

Unimed não liberou senha para pagamento, disse o hospital. No dia 16 de junho, o Beneficência Portuguesa enviou uma mensagem informando que "houve ausência de emissão de senha de autorização pela operadora de saúde [a Unimed]" para "atendimento médico hospitalar prestado".

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Leonardo, hoje com 9 anos, já passou por três cirurgias para retirar um tumor no crânio
Leonardo, hoje com 9 anos, já passou por três cirurgias para retirar um tumor no crânio Imagem: Arquivo Pessoal

Nós somos servidores públicos, não temos condições de pagar. Quem está cobrando é o hospital, que deveria resolver com o convênio.
Marilene Ribeiro Barbosa, 43, mãe de Leonardo

O Hopsital Beneficência Portuguesa disse que "não comenta publicamente qualquer caso envolvendo clientes de seus serviços de saúde". Questionado se recebeu a informação de que a Unimed vai pagar pela cirurgia, o hospital não respondeu.

Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo (SP)
Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo (SP) Imagem: Divulgação/BP

A Unimed defende o cancelamento do contrato. A operadora afirma que a rescisão de planos coletivos (contratados pelas empresas), como é o caso, "está prevista e regulamentada pela ANS [Agência Nacional de Saúde]". Disse que comunicou o beneficiário com a antecedência exigida e que não age "de maneira discricionária ou discriminatória".

O casal critica a ANS, que não teria revertido o cancelamento do plano. "A gente pagava R$ 1.458 de convênio. Procuramos a ANS, que pra gente deveria estar do lado do cliente, mas está rendida às empresas", diz a mãe. "A abertura do chamado não teve nenhuma solução, parece só uma coisa formal", afirma o pai.

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A ANS afirmou que, diante das denúncias, vai solicitar à operadora que preste esclarecimentos adicionais sobre o caso. A agência diz que a operadora só pode excluir um beneficiário desse tipo de plano "em caso de fraude ou perda de vínculo com a contratante", se isso estiver em contrato.

Os procedimentos autorizados na vigência do contrato [como a radioterapia] deverão ser cobertos pela operadora, uma vez que foram solicitadas quando o vínculo do beneficiário com o plano ainda estava ativo.
ANS

Sobre a radioterapia, a Unimed diz que "a técnica IMRT não constava do rol de procedimentos da ANS", mas "cumpre as decisões judiciais".

O caso é mais um a engrossar as estatísticas sobre cancelamento unilateral de planos médicos, como mostrou o UOL. O assunto ganhou força este ano em razão das centenas de reclamações sobre cancelamento de planos médicos que chegam aos gabinetes dos membros da Comissão de Defesa das Pessoas com Deficiência da Assembleia Legislativa de São Paulo.

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