'Medo' e 'desconfiança': 11 milhões não se vacinaram contra covid no Brasil

Aproximadamente 11 milhões de brasileiros com mais de 5 anos não se vacinaram contra a covid-19 no Brasil, principalmente por medo ou desconfiança do imunizante.

O que aconteceu

5,6% do público alvo não tomou nenhuma vacina contra a covid — ou seja, cerca de uma a cada 18 pessoas. Esse percentual equivale a 11,2 milhões de pessoas, principalmente homens: 6,3 milhões, contra 4,9 milhões de mulheres.

Dados são de 2023. Divulgados hoje, os números fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua: covid-19 (2023), com informações coletadas no 1º trimestre do ano passado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A região Norte foi a que menos se imunizou, proporcionalmente, com 11% do total da população local. É seguida por Centro-Oeste (8,5%), Sul (6,3%), Nordeste (5,5%) e Sudeste (3,7%).

Crianças e adolescentes foram menos vacinados. Cerca de 5,7 milhões de não vacinados estão na faixa etária entre 5 e 17 anos, enquanto 5,5 milhões são maiores de 18 anos.

Cerca de 5,7 milhões na faixa etária entre 5 e 17 anos não foram vacinados
Cerca de 5,7 milhões na faixa etária entre 5 e 17 anos não foram vacinados Imagem: iStock

Medo e desconfiança foram os principais motivos. Para 33,7%, o medo de reação adversa da vacina ou o temor da injeção foram a justificativa para rejeitar as doses contra o coronavírus. Na sequência, 26,3% disseram que não confiam no imunizante ou não acreditam nele.

Parte da população o rejeitou porque acreditava estar imunizada por já ter contraído covid. A minoria não tomou porque a marca da vacina que desejava receber não estava disponível, e outros não tomaram por recomendação médica.

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Muitos abandonaram vacinação

Apenas 58% receberam todas as doses recomendadas para a idade. Esse percentual chega a 60,4% entre as mulheres, mas cai para 56,5% entre os homens. Crianças e adolescentes também ficaram abaixo da média: 57,7%.

O Sudeste foi a região em que mais pessoas terminaram o ciclo de imunização: 65,5% do público alvo. É seguido pelo Sul (56,9%), Centro-Oeste (55,4%), Nordeste (55,2%) e Norte (43,8%).

A maioria que abandonou o esquema vacinal (29,2%) disse que se esqueceu ou faltou tempo. Outros disseram que não acharam necessário continuar a imunização. Para outros, faltava esperar o tempo para a próxima dose e, em alguns casos, faltou vacina no posto. Para 16,5%, as doses de reforço foram deixadas de lado por medo de reação adversa ou porque tiveram reação forte na dose que haviam recebido.

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1ª dose foi um sucesso

Cerca de 188,3 milhões de brasileiros receberam ao menos uma dose da vacina. Esse número equivale a 93,9% do público alvo: 97,5 milhões de mulheres e 90,8 milhões de homens.

O esquema primário, porém, não atingiu a meta de vacinar 90%. O esquema de duas doses —o mínimo recomendado para proteção contra o vírus— atingiu 88,2% do público alvo. Enquanto a meta foi ultrapassada (92,3%) entre aqueles com 18 anos ou mais, esse nível não passou de 71,2% entre pessoas de 5 a 17 anos.

A internação foi menor entre quem tomou mais doses. Relataram internação 5,1% das pessoas que se infectaram sem tomar nenhuma dose. Esse percentual caiu para 3,9% entre quem tomou uma dose e para 2,5% dos que receberam duas doses ou mais.

Funcionários de hospital transportam paciente com covid-19 durante pico da pandemia, em Manaus
Funcionários de hospital transportam paciente com covid-19 durante pico da pandemia, em Manaus Imagem: REUTERS/Bruno Kelly
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Um quarto dos infectados relatou covid longa. No questionário do IBGE, isso ocorre quando os sintomas da doença duram mais de 30 dias após o diagnóstico. A covid longa foi maior entre aqueles com 18 anos ou mais: 24,7%, contra 7,3% na faixa etária de 5 a 17 anos.

Fake news afetaram imunização

Bolsonaro corre atrás de uma ema com uma caixa de cloroquina; mentiras sobre a vacina reduziram adesão aos imunizantes
Bolsonaro corre atrás de uma ema com uma caixa de cloroquina; mentiras sobre a vacina reduziram adesão aos imunizantes Imagem: REUTERS/Adriano Machado

Um estudo brasileiro com médicos mediu o temor de pais em vacinar seus filhos. Cerca de 81% dos médicos entrevistados disseram que os pais tinham medo da vacina em razão de fake news, como "a vacina da covid-19 com tecnologia RNA pode trazer riscos à saúde das crianças", revelou pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria, de 2023.

As fake news "destruíram a confiança na vacina para crianças". "Diziam que criança não morre de covid e que a vacina causava problemas no coração", lembra Isabella Ballalai, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Foi um movimento orquestrado: pessoas antivacinas foram recebidas pelo governo federal [na gestão Bolsonaro], participaram de audiência pública, e o Ministério da Saúde chegou a fazer uma pesquisa online perguntando à população se ela era favorável à vacina.
Isabella Ballalai, da SBIm

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