Luana Araújo sobre possibilidade de nova pandemia: 'Não levará muito tempo'

A médica infectologista Luana Araújo avaliou que a atual geração deverá enfrentar outra pandemia, além da covid-19. Em entrevista ao Alt Tabet, do Canal UOL, a profissional de saúde destacou que não vai demorar para isso acontecer, dado o atual comportamento do homem em relação à natureza.

Araújo pontuou que é "imprevisível dizer o período específico" em que uma nova pandemia vai surgir, "mas que certamente essa geração vai ver algumas outras". "A pandemia da covid não foi a primeira [enfrentada pela atual geração]. A gente teve a H1N1 há 15 anos, mas não na mesma magnitude que a de covid-19", declarou.

Para a médica, o ser humano mantém uma "relação deletéria com o planeta", o que facilita o surgimento de novas doenças. "Toda vez que a gente agride o planeta, a gente se coloca em situação de vulnerabilidade, novos agentes infecciosos com os quais nunca tivemos contato [surgem]. Mas aí nós não temos essa proteção, imunidade contra esses agentes, nos expomos e acabamos em situações difíceis".

Luana ressaltou não ser possível saber qual será o agente causador da próxima pandemia, mas contou que existe uma "lista de agentes considerados problemáticos pensando em próximas pandemias". Entretanto, ela destacou que, recentemente, os especialistas erraram ao prever qual seria o causador da próxima pandemia — acreditava-se que ela seria causada pelo influenza, que é o vírus da gripe, com alta capacidade de mutação, mas o que a população enfrentou foi uma pandemia provocada pelo coronavírus.

A gente achava que a próxima pandemia dessa magnitude viria de um influenza, mas veio de um coronavírus, que estava na lista, mas um pouco mais para baixo. A gente precisa ficar vigilante com o que está acontecendo no mundo para saber quais são os riscos maiores, mas é patente que a gente vai enfrentar alguma coisa nesse sentido e que não vai levar muito tempo, de acordo com o nosso comportamento.

Luana sobre ministério da Saúde na pandemia: 'Instituição acéfala'

Araújo contou que aceitou o desafio de gerenciar uma Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, mas se deparou com um cenário caótico de despreparo institucional. "O que encontrei ali foi uma instituição completamente desarranjada, acéfala, com um monte de gente que tinha saído porque tinha alguma ligação com o governo anterior. Não importava a competência que essa pessoa tivesse, o critério era político, não técnico. E foi muito difícil, porque quando comecei a montar minha equipe, ninguém aceitava fazer parte disso, chamava as pessoas e a reticência, compreensível, era muito grande".

Luana afirmou que não foi fácil aceitar o convite, mas topou o desafio por entender que tinha capacidade de ajudar o país no combate à covid. Entretanto, a infectologista afirmou que, ao chegar no governo, se deparou com um cenário "surreal", com servidores de carreira impossibilitados de executarem suas funções devido à pressão política interna do governo, que adotou postura negacionista da gravidade da doença.

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Nunca usei nenhuma droga, mas imagino que deva ser uma coisa parecida com aquilo que vivi naquele momento, porque foi uma coisa extremamente surreal. O ministério da Saúde é uma estrutura gigantesca, um dos maiores orçamentos do governo federal. Você espera encontrar, em um momento de crise, um monte de gente técnica e capacitada fazendo seu trabalho. E eu encontrei um pouco disso, que eram servidores de longo prazo tentando imensamente fazer alguma coisa, mas sobrecarregados e sobrepujados por uma camada grotesca, estúpida, ignorante de política.

Luana Araújo avalia governo Lula na Saúde: 'Perdemos oportunidades'

Luana afirmou que o governo Bolsonaro provocou uma "implosão do ministério da Saúde e do SUS", que precisaram ser reconstruídos. "A gente tem que entender que o governo Lula chega em uma terra arrasada que precisa de uma reconstrução dos níveis mais básicos possíveis. Todo mundo tinha uma expectativa de uma guinada imensa, mas eu entendo que essa expectativa tem que ser freada à medida em que essa reconstrução toma tempo e tem repercussões".

Araújo ressaltou, no entanto, que, sim, há melhorias a serem feitas, mas que o Congresso Nacional atua como um dificultador. "Acho que a gente perde, sim, ainda oportunidades muito grandes e muito claras de fazer melhor do que está sendo feito, muito porque esse sistema político, que não tem muita diferença entre governos, o modus operandi, contamina a ação técnica. Então na hora que você vai falar: 'Eu não posso ligar para essas coisas porque tenho que fazer o que tenho que fazer', nem sempre isso se traduz para a realidade".

Alt Tabet no UOL

Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Luana Araújo:

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