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Paciente com ebola morre no Texas; EUA vão medir temperatura de passageiros

Lisa Maria Garza e Richard Valdmanis

Em Dallas, no Texas

08/10/2014 18h48

A primeira pessoa diagnosticada com ebola nos Estados Unidos morreu nesta quarta-feira (8), e o governo ordenou que cinco aeroportos examinem os passageiros vindos do oeste da África para detectar sinais de febre, ressaltando as preocupações sobre prevenção e tratamento do vírus no país.

O governo do presidente dos EUA, Barack Obama, tem sido pressionado pelos congressistas a reforçar a vigilância e até proibir voos desde que o liberiano Thomas Eric Duncan chegou à cidade de Dallas, no Texas, no final de setembro, depois de ter tido contato com uma mulher africana que mais tarde morreu em decorrência do ebola. Duncan morreu nesta manhã numa área isolada de um hospital de Dallas.

A Casa Branca anunciou que uma verificação adicional de febre será realizada em passageiros oriundos do oeste africano, onde a doença já matou quase 4 mil pessoas em três países - Guiné, Serra Leoa e Libéria. A verificação irá começar no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, no próximo final de semana, e mais tarde será adotada nos aeroportos Liberty (Newark), Dulles (Washington), O'Hare (Chicago) e Hartsfield-Jackson (Atlanta).

Combinados, esses aeroportos recebem mais de 94% dos passageiros de Guiné, Libéria e Serra Leoa, os países mais atingidos pelo ebola.

As autoridades irão usar um dispositivo não-invasivo para medir a temperatura dos passageiros e solicitar que preencham um questionário criado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) pedindo informações detalhadas de suas atividades.

Duncan estava em estado crítico, isolado e usando um respirador no hospital Texas Health Presbyterian, de Dallas. Ele chegou a receber uma droga experimental para tentar mantê-lo vivo.

O mesmo hospital disse que um homem que afirmou ter tido contato com Duncan e que exibia sintomas estava sendo examinado. O CDC descreveu a pessoa como alguém que "não teve contato definitivo com o ebola ou sintomas claros de ebola".

Surgiram questionamentos sobre o impacto que uma dispensa inicial de Duncan do hospital pode ter tido em seu tratamento. Em testes de drogas experimentais do ebola com animais, a chance de sobrevivência diminui quanto mais tempo se demora para iniciar os cuidados.

"Você pode ter a melhor droga do mundo, chega um ponto no qual ela simplesmente não funciona", disse o virologista Thomas Geisbert, do setor médico da Universidade do Texas, que realizou trabalhos pioneiros com tratamentos para o ebola.

Duncan voou da Monróvia, capital da Libéria, aos EUA porque não apresentava febre quando foi examinado no aeroporto e mentiu no questionário dizendo não ter tido contato com ninguém infectado pela febre hemorrágica.

Cerca de 48 pessoas que tiveram contato direto ou indireto com Duncan desde sua chegada no dia 20 de setembro estão sendo monitoradas, e até agora nenhuma mostrou quaisquer sintomas, de acordo com as autoridades de saúde, que assim como o CDC afirmam que as chances de o ebola se disseminar nos EUA é muito pequena.

Embora vários pacientes norte-americanos tenham sido levados de avião aos EUA partindo do oeste africano para serem tratados, Duncan foi a primeira pessoa que começou a exibir sintomas nos Estados Unidos.

Uma enfermeira espanhola que cuidou de um padre infectado, que trabalhou na região africana afetada e morreu, também foi contaminada.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, apelou a outros governos nesta quarta-feira para que façam mais para ajudar a conter a propagação do ebola, exortou os países a não fechar suas fronteiras e pediu às companhias aéreas que mantenham seus voos para a África Ocidental.

O pior surto de ebola já registrado matou 3.879 pessoas em um total de 8.033 casos até 5 de outubro, e não há nenhuma evidência de que a epidemia está sendo mantida sob controle na África Ocidental, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quarta-feira.

Libéria e Serra Leoa, os dois países mais atingidos, tinham apenas 21% e 26% dos leitos que precisavam, e os países vizinhos foram avisados "para se prepararem" para que a doença se espalhe através das suas fronteiras, disse a OMS.

(Reportagem adicional de Patricia Zengerle e Roberta Rampton em Washington, Marice Richter em Texas e Sharon Begley em Nova York)