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Turquia ataca milícias curdas na Síria em operação contra o EI

25/08/2016 18h45

Karkamis, Turquia, 25 Ago 2016 (AFP) - A artilharia turca disparou nesta quinta-feira contra milícias curdas no norte da Síria no segundo dia de uma ofensiva no país fronteiriço contra o grupo Estado Islâmico (EI), e acusou os curdos de desrespeitar um acordo com os Estados Unidos de não ultrapassar certas linhas.

Ancara enviou nesta quinta-feira um novo comboio de blindados a territórios no norte da Síria, no dia seguinte ao início de uma ofensiva relâmpago, batizada como "Escudo de Eufrates", com a qual conseguiram expulsar o grupo extremista da cidade de Jarablos, do lado sírio da fronteira.

Com esta operação a Turquia busca também deter o avanço das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança de milícias rebeldes de maioria árabe.

A partir das 18H00 locais (12H00 de Brasília), a artilharia turca disparou contra posições do Partido de União Democrática (PYD), um grupo cudo que opera ao norte da Síria, e que conta com apoio americano, depois que estes violaram um acordo com Washington de não ultrapassar certo ponto, informou a agência de notícias estatal Anadolu.

Durante a operação, a mais ambiciosa lançada pela Turquia nos cinco anos e meio do conflito sírio, foram mobilizadas forças especiais em terra, enquanto a aviação atirava contra alvos do EI.

Os tanques se somaram aos que já haviam cruzado a fronteira na quarta-feira com o objetivo de expulsar de sua fronteira com a Síria o EI e frear o avanço dos curdos.

Os rebeldes apoiados por Ancara afirmaram que os extremistas se retiraram ao sul, à cidade de Al Bab.

Dez veículos blindados de transporte de tropas, com ambulâncias, além de maquinaria pesada, cruzaram a fronteira na altura da cidade fronteiriça turca de Karkamis.

Na área eram ouvidas esporadicamente rajadas e explosões, constatou um fotógrafo da AFP.

Com esta operação, Ancara responde ao atentado atribuído ao EI que deixou 54 civis mortos em Gaziantep, sul da Turquia, no último sábado.

Dois anos de preparaçãoA Turquia, que sofreu vários atentados do grupo extremista desde 2015, estava recebendo críticas por ter feito vista grossa à organização.

O governo havia "trabalhado para fazer um incursão terrestre há dois anos", mas atrasou a operação por vários fatores, disse um alto funcionário turco que pediu para não ser identificado.

O funcionário citou a reticência dentro do exército turco, o fraco apoio de Washington a uma missão deste tipo e o incidente aéreo com a Rússia, que provocou uma crise entre ambos os países por ter derrubado um avião de Moscou.

Além de expulsar o EI, o presidente Recep Tayyip Erdogan insistiu que a ofensiva pretende fazer com que as Unidades de Proteção Populares (YPG), a milícia curda, também ativa na zona, retrocedam.

A Turquia, em permanente conflito com os curdos em seu próprio território, vê com preocupação a ideia de que os curdos sírios formem um cinturão de territórios sob seu controle na fronteira.

O país considera as YPG um grupo terrorista que busca a independência da região curda síria.

A linha do EufratesA hostilidade de Ancara as YPG conta com a oposição de seu aliado na Otan, Estados Unidos, que trabalha com o grupo em terra em seu combate ao EI.

Apesar disso, o vice-presidente americano, Joe Biden, em visita à Turquia na quarta-feira, quis deixar claro que Washington ordenou que a milícia curda não ultrapassasse o Eufrates.

Nesta quinta-feira, o ministro turco da Defesa, Fikri Isik, insistiu que a "Turquia tem todo o direito de intervir" se as forças curdas não se retirarem rapidamente a leste do rio.

A eficiência da operação também representa um golpe de efeito para a reputação do exército turco, abalada depois da tentativa de golpe de julho e do expurgo em massa que se seguiu em suas forças, que terminaram com a demissão e a detenção de milhares de militares.

A rapidez da operação surpreendeu especialistas, dado que os curdos levaram tempo e gastaram muita força para retirar do EI localidades do norte como Kobane e Manbij.

Os Estados Unidos assistem as operações turcas do outro lado da fronteira síria, para forçar a retirada do EI, indicaram fontes americanas de alto nível, que pediram anonimato.

"Os turcos estão dispostos a ficar o quanto for necessário (na Síria) para neutralizar o EI", disse Biden de Estocolmo, comemorando uma mudança gradual de mentalidade em Ancara em relação à organização.

O exército turco não lamentou nenhuma perda, disse Isik, informando que dois rebeldes morreram e outros dois ficaram feridos.

Citando fontes militares, o Hurriyet Daily afirmou que uma centena de extremistas perderam a vida.

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