Senado debate antes da votação final do impeachment de Dilma
Brasília, 31 Ago 2016 (AFP) - Entre lágrimas, ofensas e referências a Deus, o Senado brasileiro expôs seus argumentos finais antes de decidir, nesta quarta-feira, se destitui a presidente Dilma Rousseff, acabando com 13 anos de poder do Partido dos Trabalhadores.
"O impeachment é um remédio constitucional ao qual nós precisamos recorrer quando a situação se revela especialmente grave, que é o que aconteceu", disse a advogada da acusação Janaína Paschoal.
"Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país", acrescentou esta advogada em seus argumentos para provar que a primeira mulher a presidir o Brasil violou a Constituição ao manipular as contas públicas e que, por isso, deve deixar a presidência.
Mas o advogado de defesa da presidente, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, destacou que uma destituição de Dilma Rousseff seria "uma pena de morte política".
Este julgamento tem sido tão dramático que, durante as sessões desta terça-feira, tanto o advogado de defesa quanto a da acusação choraram.
"Canalhas, canalhas, canalhas", criticou o senador Roberto Requião, do PMDB-PR, defensor de Dilma, que fez alusão ao golpe de Estado contra João Goulart em 1964.
Combativa, serena e às vezes sorridente, a presidente afastada se defendeu na véspera durante mais de 14 horas, em uma sessão histórica na qual reiterou sua inocência e afirmou ser vítima de um "golpe" para substituí-la até o fim de 2018.
"Não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira", pediu Dilma ao plenário de 81 senadores, convertidos em uma espécie de Grande Júri.
"Peço: Votem contra o impeachment. Votem pela democracia", disse durante a sessão que trouxe à tona todos os problemas que afetam a sociedade brasileira: uma crise econômica galopante e uma corrupção endêmica.
A sessão do Senado deve ser encerrada às 03H00 local desta quarta-feira, após os discursos de mais de 60 senadores, e os trabalhos serão retomados às 11H00 para a votação final.
Em São Paulo, centenas de manifestantes protestaram contra o impeachment e voltaram a enfrentar a polícia, que deteve quatro pessoas.
Fim dos anos douradosDilma foi suspensa de seu cargo no dia 12 de maio e seu ex-vice, Michel Temer, assumiu de forma interina. Se tudo correr como o previsto pelas pesquisas, este político conservador, de 75 anos e inimigo ferrenho de Dilma, assumirá a presidência definitivamente.
Para isso, são necessários os votos de 54 senadores.
O impeachment encerrará quatro mandatos no poder do emblemático Partido dos Trabalhadores (PT), referência regional da esquerda.
Um final trágico para este partido nascido nos anos 1980 por movimentos sindicais liderados por Lula e conhecido no mundo por programas sociais bem-sucedidos que conseguiram tirar milhões da pobreza.
E também para esta ex-guerrilheira de 68 anos, que já enfrentou outras batalhas e que governa o Brasil desde 2010, quando herdou um país em pleno boom econômico, motor de crescimento na região.
Nestes anos dourados, o país foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 e a Copa do Mundo de Futebol de 2014.
Mas sua imagem sofreu um forte desgaste com a deterioração da economia, o crescimento brutal do desemprego e a inflação.
As revelações do esquema de corrupção envolvendo a Petrobras, que custaram à petrolífera bilhões de dólares, foram a gota d'água.
E atingiram o PT e seu histórico líder, o ex-presidente Lula, considerado seu padrinho político, que também foi indiciado e é investigado por vários casos de corrupção e obstrução da justiça.
Legitimidade do processo questionada"Dilma vai entrar para a História como uma figura ambígua: será vista como uma vilã do ponto de vista da gestão, foi uma governante ruim, que errou muito, que não soube dialogar com o Congresso, que é responsável, em parte, pela economia e tudo isto será atribuído a ela", afirmou à AFP Michael Mohallem, analista da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
"Também vai haver uma leitura sobre o processo em si, que foi usado instrumentalmente para favorecer um grupo político, para levar Michel Temer e o PMDB ao poder de um modo não tão legítimo como seriam as urnas", acrescentou.
Os escândalos atingem toda a classe política e a elite brasileira, tanto de esquerda quanto de direita.
E neste julgamento político emergiram, mais do que nunca, as perguntas sobre a legitimidade que este Senado pode ter para emitir um veredicto, quando mais da metade dos seus membros estão envolvidos ou investigados por casos de corrupção.
Dilma foi acusada de autorizar gastos pelas costas do Congresso e adiar pagamentos a bancos públicos para melhorar artificialmente as contas e manter o financiamento dos programas sociais no ano de sua reeleição e no início de 2015.
"Não esperem de mim o silêncio dos covardes", disse a presidente afastada, durante seu depoimento no Senado.
Sua luta foi quase solitária. Da ampla coalizão que herdou, um a um a abandonaram. Se for condenada, ela deixará o cargo com uma popularidade de apenas 13%.
"O impeachment é um remédio constitucional ao qual nós precisamos recorrer quando a situação se revela especialmente grave, que é o que aconteceu", disse a advogada da acusação Janaína Paschoal.
"Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país", acrescentou esta advogada em seus argumentos para provar que a primeira mulher a presidir o Brasil violou a Constituição ao manipular as contas públicas e que, por isso, deve deixar a presidência.
Mas o advogado de defesa da presidente, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, destacou que uma destituição de Dilma Rousseff seria "uma pena de morte política".
Este julgamento tem sido tão dramático que, durante as sessões desta terça-feira, tanto o advogado de defesa quanto a da acusação choraram.
"Canalhas, canalhas, canalhas", criticou o senador Roberto Requião, do PMDB-PR, defensor de Dilma, que fez alusão ao golpe de Estado contra João Goulart em 1964.
Combativa, serena e às vezes sorridente, a presidente afastada se defendeu na véspera durante mais de 14 horas, em uma sessão histórica na qual reiterou sua inocência e afirmou ser vítima de um "golpe" para substituí-la até o fim de 2018.
"Não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira", pediu Dilma ao plenário de 81 senadores, convertidos em uma espécie de Grande Júri.
"Peço: Votem contra o impeachment. Votem pela democracia", disse durante a sessão que trouxe à tona todos os problemas que afetam a sociedade brasileira: uma crise econômica galopante e uma corrupção endêmica.
A sessão do Senado deve ser encerrada às 03H00 local desta quarta-feira, após os discursos de mais de 60 senadores, e os trabalhos serão retomados às 11H00 para a votação final.
Em São Paulo, centenas de manifestantes protestaram contra o impeachment e voltaram a enfrentar a polícia, que deteve quatro pessoas.
Fim dos anos douradosDilma foi suspensa de seu cargo no dia 12 de maio e seu ex-vice, Michel Temer, assumiu de forma interina. Se tudo correr como o previsto pelas pesquisas, este político conservador, de 75 anos e inimigo ferrenho de Dilma, assumirá a presidência definitivamente.
Para isso, são necessários os votos de 54 senadores.
O impeachment encerrará quatro mandatos no poder do emblemático Partido dos Trabalhadores (PT), referência regional da esquerda.
Um final trágico para este partido nascido nos anos 1980 por movimentos sindicais liderados por Lula e conhecido no mundo por programas sociais bem-sucedidos que conseguiram tirar milhões da pobreza.
E também para esta ex-guerrilheira de 68 anos, que já enfrentou outras batalhas e que governa o Brasil desde 2010, quando herdou um país em pleno boom econômico, motor de crescimento na região.
Nestes anos dourados, o país foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 e a Copa do Mundo de Futebol de 2014.
Mas sua imagem sofreu um forte desgaste com a deterioração da economia, o crescimento brutal do desemprego e a inflação.
As revelações do esquema de corrupção envolvendo a Petrobras, que custaram à petrolífera bilhões de dólares, foram a gota d'água.
E atingiram o PT e seu histórico líder, o ex-presidente Lula, considerado seu padrinho político, que também foi indiciado e é investigado por vários casos de corrupção e obstrução da justiça.
Legitimidade do processo questionada"Dilma vai entrar para a História como uma figura ambígua: será vista como uma vilã do ponto de vista da gestão, foi uma governante ruim, que errou muito, que não soube dialogar com o Congresso, que é responsável, em parte, pela economia e tudo isto será atribuído a ela", afirmou à AFP Michael Mohallem, analista da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
"Também vai haver uma leitura sobre o processo em si, que foi usado instrumentalmente para favorecer um grupo político, para levar Michel Temer e o PMDB ao poder de um modo não tão legítimo como seriam as urnas", acrescentou.
Os escândalos atingem toda a classe política e a elite brasileira, tanto de esquerda quanto de direita.
E neste julgamento político emergiram, mais do que nunca, as perguntas sobre a legitimidade que este Senado pode ter para emitir um veredicto, quando mais da metade dos seus membros estão envolvidos ou investigados por casos de corrupção.
Dilma foi acusada de autorizar gastos pelas costas do Congresso e adiar pagamentos a bancos públicos para melhorar artificialmente as contas e manter o financiamento dos programas sociais no ano de sua reeleição e no início de 2015.
"Não esperem de mim o silêncio dos covardes", disse a presidente afastada, durante seu depoimento no Senado.
Sua luta foi quase solitária. Da ampla coalizão que herdou, um a um a abandonaram. Se for condenada, ela deixará o cargo com uma popularidade de apenas 13%.
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