Governo da Colômbia e Farc assinam acordo definitivo de paz
Bogotá, 24 Nov 2016 (AFP) - A Colômbia assinou nesta quinta-feira um renegociado acordo de paz com a guerrilha das Farc para acabar com meio século de confrontos, e que provavelmente será ratificado no Congresso na próxima semana apesar da persistente oposição.
Quase dois meses depois se os colombianos rejeitarem o acordo de paz em um referendo, o presidente Juan Manuel Santos e o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), Rodrigo Londoño (Timochenko), assinaram o acordo com uma caneta confeccionada a partir de um projétil, em uma cerimônia discreta.
As 800 pessoas convidadas para o clássico Teatro Colón de Bogotá contrastavam com a assinatura do acordo original, em 26 de setembro na cidade caribenha de Cartagena, na presença de 2.500 convidados, entre eles 15 chefes de Estado.
O texto, alcançado em 12 de novembro para incluir propostas da oposição após o revés eleitoral de 2 de outubro, busca pôr fim ao conflito armado mais antigo do continente, no qual também atuaram paramilitares e agentes do Estado, com um balanço de mais de 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
"Este novo acordo é melhor do que o que assinamos em Cartagena. É melhor porque recolhe as esperanças e as observações da imensa maioria dos colombianos", assegurou Santos, confiando que o texto "seja aprovado ao longo da próxima semana".
Timochenko, por sua vez, negou que as posições ideológicas serão deixadas de lado. "Só colocamos fim de maneira definitiva à guerra, para confrontar civilizadamente as contradições", disse, enquanto propunha conformar um "governo de transição" para dar cumprimento cabal ao pacto.
Para muitas vítimas, como a ex-congressista sequestrada pelas Farc, Consuelo González de Perdomo, essa é uma "oportunidade grandíssima" de reconciliação.
Clara Rojas, outra ex-refém da guerrilha e atual congressista, aplaudiu o fim de "um grande processo" e o compromisso das Farc com a paz.
Uribe propõe referendoNesta mesma tarde, o acordo foi levado ao Congresso, de maioria governista, onde deve ser aprovado para que se inicie o processo de implementação.
Os debates, que terão início na terça-feira nas duas câmaras, será aberto e transmitido pela TV, e contará com a participação não apenas de legisladores, mas também de vítimas e opositores. "Estamos assumindo esta responsabilidade com todo o compromisso", disse à AFP o presidente do Senado, Mauricio Lizcano.
A decisão, no entanto, é questionada por quem se opôs ao acordo, grupo liderado pelo ex-presidente e atual senador de direita Álvaro Uribe, cujo partido anunciou que chamará os colombianos para as ruas.
Apesar de ter reconhecido que houve melhorias a respeito do texto inicial, o ex-presidente destacou que ainda resta mudar "aspectos substanciais" e esboçou a ideia de juntar assinaturas para um referendo que revise certos pontos do acordo.
"O país disse sim à paz, mas sem impunidade. E aqui continuamos com impunidade total", disse à emissora RCN.
Uma das principais reclamações da oposição é que o novo documento também permite que guerrilheiros culpados de crimes atrozes possam se candidatar a cargos políticos antes de cumprirem suas penas.
Nas ruas, alguns colombianos comemoravam a vitória.
"O país, em sua maioria, acolhe este acordo de paz porque vivemos uma guerra de mais de 50 anos, não queremos mais derramamento de sangue", disse à AFP Overnis Díaz.
Mas outros como Dayanna Gil, o criticavam. "Deveria ser referendado através de uma consulta, finalmente é a voz do povo colombiano e seria bom que cada um de nós opinasse sobre o nosso voto, sobre o que queremos fazer com o nosso país", acrescentou.
"Problemática" implementaçãoSegundo anunciado nesta quinta-feira, a partir da aprovação, começarão a correr os prazos de implementação do acordo, assunto que o governo e as Farc têm especial pressa.
"Cinco dias depois será iniciado o movimento das Farc até as zonas veredais transitórias. Aos 90 dias será iniciada a deposição das armas. E em 150 dias todas as armas das Farc estarão nas mãos das Nações Unidas. As Farc, como grupo armado, terá deixado de existir", enfatizou Santos.
Mesmo que as partes mantenham o cessar-fogo, em voga desde o fim de agosto, dois fatos deixaram à vista sua fragilidade: a morte de dois guerrilheiros em supostos combates com o Exército e o assassinato de vários líderes sociais.
O analista Kyle Johnson não duvida de uma pronta ratificação no Congresso, mas advertiu que a oposição complicará a implementação. "Vão dificultar de todas as maneiras possíveis para que a implementação seja lenta e problemática", disse à AFP o especialista do International Crisis Group.
A paz na Colômbia, entretanto, não estará completa enquanto o Exército de Libertação Nacional (ELN, guevarista) continuar ativo, com quem o governo tentar iniciar uma mesa formal de diálogo há alguns meses e que não foi concretizada, pois o grupo rebelde ainda não libertou um ex-congressista sequestrado.
Quase dois meses depois se os colombianos rejeitarem o acordo de paz em um referendo, o presidente Juan Manuel Santos e o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), Rodrigo Londoño (Timochenko), assinaram o acordo com uma caneta confeccionada a partir de um projétil, em uma cerimônia discreta.
As 800 pessoas convidadas para o clássico Teatro Colón de Bogotá contrastavam com a assinatura do acordo original, em 26 de setembro na cidade caribenha de Cartagena, na presença de 2.500 convidados, entre eles 15 chefes de Estado.
O texto, alcançado em 12 de novembro para incluir propostas da oposição após o revés eleitoral de 2 de outubro, busca pôr fim ao conflito armado mais antigo do continente, no qual também atuaram paramilitares e agentes do Estado, com um balanço de mais de 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
"Este novo acordo é melhor do que o que assinamos em Cartagena. É melhor porque recolhe as esperanças e as observações da imensa maioria dos colombianos", assegurou Santos, confiando que o texto "seja aprovado ao longo da próxima semana".
Timochenko, por sua vez, negou que as posições ideológicas serão deixadas de lado. "Só colocamos fim de maneira definitiva à guerra, para confrontar civilizadamente as contradições", disse, enquanto propunha conformar um "governo de transição" para dar cumprimento cabal ao pacto.
Para muitas vítimas, como a ex-congressista sequestrada pelas Farc, Consuelo González de Perdomo, essa é uma "oportunidade grandíssima" de reconciliação.
Clara Rojas, outra ex-refém da guerrilha e atual congressista, aplaudiu o fim de "um grande processo" e o compromisso das Farc com a paz.
Uribe propõe referendoNesta mesma tarde, o acordo foi levado ao Congresso, de maioria governista, onde deve ser aprovado para que se inicie o processo de implementação.
Os debates, que terão início na terça-feira nas duas câmaras, será aberto e transmitido pela TV, e contará com a participação não apenas de legisladores, mas também de vítimas e opositores. "Estamos assumindo esta responsabilidade com todo o compromisso", disse à AFP o presidente do Senado, Mauricio Lizcano.
A decisão, no entanto, é questionada por quem se opôs ao acordo, grupo liderado pelo ex-presidente e atual senador de direita Álvaro Uribe, cujo partido anunciou que chamará os colombianos para as ruas.
Apesar de ter reconhecido que houve melhorias a respeito do texto inicial, o ex-presidente destacou que ainda resta mudar "aspectos substanciais" e esboçou a ideia de juntar assinaturas para um referendo que revise certos pontos do acordo.
"O país disse sim à paz, mas sem impunidade. E aqui continuamos com impunidade total", disse à emissora RCN.
Uma das principais reclamações da oposição é que o novo documento também permite que guerrilheiros culpados de crimes atrozes possam se candidatar a cargos políticos antes de cumprirem suas penas.
Nas ruas, alguns colombianos comemoravam a vitória.
"O país, em sua maioria, acolhe este acordo de paz porque vivemos uma guerra de mais de 50 anos, não queremos mais derramamento de sangue", disse à AFP Overnis Díaz.
Mas outros como Dayanna Gil, o criticavam. "Deveria ser referendado através de uma consulta, finalmente é a voz do povo colombiano e seria bom que cada um de nós opinasse sobre o nosso voto, sobre o que queremos fazer com o nosso país", acrescentou.
"Problemática" implementaçãoSegundo anunciado nesta quinta-feira, a partir da aprovação, começarão a correr os prazos de implementação do acordo, assunto que o governo e as Farc têm especial pressa.
"Cinco dias depois será iniciado o movimento das Farc até as zonas veredais transitórias. Aos 90 dias será iniciada a deposição das armas. E em 150 dias todas as armas das Farc estarão nas mãos das Nações Unidas. As Farc, como grupo armado, terá deixado de existir", enfatizou Santos.
Mesmo que as partes mantenham o cessar-fogo, em voga desde o fim de agosto, dois fatos deixaram à vista sua fragilidade: a morte de dois guerrilheiros em supostos combates com o Exército e o assassinato de vários líderes sociais.
O analista Kyle Johnson não duvida de uma pronta ratificação no Congresso, mas advertiu que a oposição complicará a implementação. "Vão dificultar de todas as maneiras possíveis para que a implementação seja lenta e problemática", disse à AFP o especialista do International Crisis Group.
A paz na Colômbia, entretanto, não estará completa enquanto o Exército de Libertação Nacional (ELN, guevarista) continuar ativo, com quem o governo tentar iniciar uma mesa formal de diálogo há alguns meses e que não foi concretizada, pois o grupo rebelde ainda não libertou um ex-congressista sequestrado.
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