Após choque populista de 2016, salto ao vazio em 2017
Nova York, 27 dez 2016 (AFP) - As vitórias do Brexit e de Donald Trump confirmam que 2016 foi o ano do terremoto populista em ambos os lados do Atlântico, dois fatos que tornam mais imprevisíveis do que nunca o rumo da Casa Branca e das próximas eleições na Europa.
Com quatro meses e meio de intervalo, em 2 de junho e no dia 8 de novembro, milhões de britânicos e americanos mostraram nas urnas sua "rejeição ao establishment" e "um sentimento similar à angústia" diante da globalização, da imigração e do terrorismo, disse o analista Richard Wike, do Pew Research Center.
A globalização e a imigração são acusados da precarização dos empregos e de abalar marcos demográficos e culturais. E muitas pessoas, inclusive no país do caldeirão de raças, "associam imigração e segurança", afirmou.
Na Europa, da Holanda à Polônia, da Suécia à Itália, a comparação com os anos 30 retorna com força. E o horizonte político é analisado a partir de agora quase exclusivamente pelos altos e baixos dos movimentos que prometem terminar com as elites urbanas e devolver o país às classes médias.
A chegada de Donald Trump em 20 de janeiro à liderança da democracia mais poderosa do mundo é um prenúncio da tomada de poder dos populistas na Europa?
Como durante as campanhas do Brexit ou as presidenciais americanas, temas caros aos populistas, como as desvantagens da imigração ou a integração dos muçulmanos, dominam os debates pré-eleitorais. São debates alimentados pela chegada ao Velho Continente de mais de 1,3 milhão de pessoas, muitas muçulmanas, desde 2015, e de uma série de sangrentos atentados islamitas.
Após a derrota do candidato populista Norbert Hofer na eleição presidencial austríaca em 4 de dezembro, partidos tradicionais e eurófilos se sentiram aliviados pela ausência de um "efeito Trump".
Uma "incerteza enorme"Mas eles mesmos se inquietam agora pela Itália, terceira economia da zona do euro, após a renúncia do chefe de governo Matteo Renzi, que torna prováveis as eleições antecipadas e já encoraja os populistas do Movimento 5 Estrelas e da Liga Norte.
A Holanda também organizará legislativas em março: o partido do extremista anti-muçulmano Geert Wilders pode vencer pela primeira vez, inclusive se a paisagem política holandesa, muito dividida, impedir a formação de uma coalizão governamental.
Será seguida em maio pela presidencial francesa. Espera-se que a Frente Nacional e sua candidata Marine Le Pen alcancem o segundo turno contra o conservador François Fillon, embora a decisão do presidente em fim de mandato François Hollande de não voltar a se apresentar abra o jogo.
No outono boreal, Angela Merkel voltará a se apresentar ante os eleitores. Depois de ter resistido durante muito tempo melhor que seus vizinhos à onda populista, a chanceler alemã, que em 2015 abriu as portas aos refugiados, sofre hoje com o crescimento do partido anti-imigração e anti-islã AfD e também com fortes críticas no seio de sua própria família política.
As pesquisas atualmente apontam Merkel como ganhadora e Le Pen como perdedora. Mas tudo ainda pode mudar e as pesquisas, que antecipavam a derrota do Brexit e a vitória de Hillary Clinton, estão desacreditadas.
Yascha Mounk, pesquisador da escola de governo de Harvard, destaca "a enorme incerteza" que vivemos em 2017.
"Uma coisa é certa: a eleição de Trump prova que não há limite natural ao crescimento dos movimentos populistas. Se as pessoas pensam que é impossível que Marine Le Pen vença, cometem os mesmos erros que muitos dos meus amigos cometeram ao pensar que Trump não poderia vencer", disse.
O tempo diráTrump será o Berlusconi americano? Será um pragmático capaz de soluções originais para reativar os Estados Unidos? Ou um narcisista imprevisível no comando da primeira potência mundial?
Para Mounk, a preocupação jaz sobre as mesmas bases do sistema democrático americano. Trump pode "ameaçar a separação de poderes", disse, e tornar os Estados Unidos "uma democracia defeituosa, como Ucrânia ou alguns países da América Latina".
Imediatamente, "a vitória (de Trump) dá uma certa confiança" aos populistas europeus e "facilita seu discurso", explica Giovani Grevi, analista do Centro de Política Europeia em Bruxelas.
Mas seu avanço, afirma, dependerá muito da maneira pela qual o magnata do setor imobiliário e astro de reality-show "traduzirá em ações as promessas de candidato": frear a desindustrialização repatriando milhões de empregos que partiram à China ou ao México, e devolver ao seu país de origem os imigrantes clandestinos, prioridades compartilhadas pelos populistas europeus.
Alguns líderes populistas europeus já se apresentaram como aliados: Marine Le Pen foi a primeira a felicitar Trump, o líder eurofóbico britânico Nigel Farage foi o primeiro estrangeiro a visitá-lo.
Para além do contexto político de cada país, a Europa, já abalada pelas crises do euro e dos refugiados, "permanece vulnerável", ressaltou Grevi.
Uma nova crise aguda e a maneira pela qual os países europeus trabalharão para enfrentá-la pode "fazer a diferença quanto ao futuro das forças populistas" europeias, disse.
cat-bur/lbc/cd/ma/mvv
Com quatro meses e meio de intervalo, em 2 de junho e no dia 8 de novembro, milhões de britânicos e americanos mostraram nas urnas sua "rejeição ao establishment" e "um sentimento similar à angústia" diante da globalização, da imigração e do terrorismo, disse o analista Richard Wike, do Pew Research Center.
A globalização e a imigração são acusados da precarização dos empregos e de abalar marcos demográficos e culturais. E muitas pessoas, inclusive no país do caldeirão de raças, "associam imigração e segurança", afirmou.
Na Europa, da Holanda à Polônia, da Suécia à Itália, a comparação com os anos 30 retorna com força. E o horizonte político é analisado a partir de agora quase exclusivamente pelos altos e baixos dos movimentos que prometem terminar com as elites urbanas e devolver o país às classes médias.
A chegada de Donald Trump em 20 de janeiro à liderança da democracia mais poderosa do mundo é um prenúncio da tomada de poder dos populistas na Europa?
Como durante as campanhas do Brexit ou as presidenciais americanas, temas caros aos populistas, como as desvantagens da imigração ou a integração dos muçulmanos, dominam os debates pré-eleitorais. São debates alimentados pela chegada ao Velho Continente de mais de 1,3 milhão de pessoas, muitas muçulmanas, desde 2015, e de uma série de sangrentos atentados islamitas.
Após a derrota do candidato populista Norbert Hofer na eleição presidencial austríaca em 4 de dezembro, partidos tradicionais e eurófilos se sentiram aliviados pela ausência de um "efeito Trump".
Uma "incerteza enorme"Mas eles mesmos se inquietam agora pela Itália, terceira economia da zona do euro, após a renúncia do chefe de governo Matteo Renzi, que torna prováveis as eleições antecipadas e já encoraja os populistas do Movimento 5 Estrelas e da Liga Norte.
A Holanda também organizará legislativas em março: o partido do extremista anti-muçulmano Geert Wilders pode vencer pela primeira vez, inclusive se a paisagem política holandesa, muito dividida, impedir a formação de uma coalizão governamental.
Será seguida em maio pela presidencial francesa. Espera-se que a Frente Nacional e sua candidata Marine Le Pen alcancem o segundo turno contra o conservador François Fillon, embora a decisão do presidente em fim de mandato François Hollande de não voltar a se apresentar abra o jogo.
No outono boreal, Angela Merkel voltará a se apresentar ante os eleitores. Depois de ter resistido durante muito tempo melhor que seus vizinhos à onda populista, a chanceler alemã, que em 2015 abriu as portas aos refugiados, sofre hoje com o crescimento do partido anti-imigração e anti-islã AfD e também com fortes críticas no seio de sua própria família política.
As pesquisas atualmente apontam Merkel como ganhadora e Le Pen como perdedora. Mas tudo ainda pode mudar e as pesquisas, que antecipavam a derrota do Brexit e a vitória de Hillary Clinton, estão desacreditadas.
Yascha Mounk, pesquisador da escola de governo de Harvard, destaca "a enorme incerteza" que vivemos em 2017.
"Uma coisa é certa: a eleição de Trump prova que não há limite natural ao crescimento dos movimentos populistas. Se as pessoas pensam que é impossível que Marine Le Pen vença, cometem os mesmos erros que muitos dos meus amigos cometeram ao pensar que Trump não poderia vencer", disse.
O tempo diráTrump será o Berlusconi americano? Será um pragmático capaz de soluções originais para reativar os Estados Unidos? Ou um narcisista imprevisível no comando da primeira potência mundial?
Para Mounk, a preocupação jaz sobre as mesmas bases do sistema democrático americano. Trump pode "ameaçar a separação de poderes", disse, e tornar os Estados Unidos "uma democracia defeituosa, como Ucrânia ou alguns países da América Latina".
Imediatamente, "a vitória (de Trump) dá uma certa confiança" aos populistas europeus e "facilita seu discurso", explica Giovani Grevi, analista do Centro de Política Europeia em Bruxelas.
Mas seu avanço, afirma, dependerá muito da maneira pela qual o magnata do setor imobiliário e astro de reality-show "traduzirá em ações as promessas de candidato": frear a desindustrialização repatriando milhões de empregos que partiram à China ou ao México, e devolver ao seu país de origem os imigrantes clandestinos, prioridades compartilhadas pelos populistas europeus.
Alguns líderes populistas europeus já se apresentaram como aliados: Marine Le Pen foi a primeira a felicitar Trump, o líder eurofóbico britânico Nigel Farage foi o primeiro estrangeiro a visitá-lo.
Para além do contexto político de cada país, a Europa, já abalada pelas crises do euro e dos refugiados, "permanece vulnerável", ressaltou Grevi.
Uma nova crise aguda e a maneira pela qual os países europeus trabalharão para enfrentá-la pode "fazer a diferença quanto ao futuro das forças populistas" europeias, disse.
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