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Israel cancela votação sobre construções em Jerusalém Oriental

28/12/2016 15h16

Jerusalém, 28 dez 2016 (AFP) - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu nesta quarta-feira o adiamento da análise de novas autorizações para construção em Jerusalém Oriental, ocupada e anexada por Israel, para evitar aumentar as tensões com os Estados Unidos.

Mas, paralelo a isso, um comitê israelense aprovou a construção de um prédio residencial de quatro andares para colonos no centroi do bairro palestinos de Silwan, em Jerusalém Oriental.

A decisão do premiê ocorreu horas antes de o secretário de Estado americano em fim de mandato, John Kerry, pronunciar um discurso sobre o conflito entre Israel e os palestinos, no Departamento de Estado.

"O presidente (do comitê de planejamento e construção de Jerusalém) nos disse que (o assunto das autorizações) havia sido retirado da ordem do dia, a pedido do primeiro-ministro para evitar um conflito com o Governo americano", declarou um conselheiro municipal, Hanan Rubin.

O comitê deveria estudar a concessão de 492 permissões de construção nas colônias de Ramat Shlomo e Ramot em Jerusalém Oriental, a parte palestina da Cidade Santa, disse Rubin.

A análise destas autorizações será realizada em uma data posterior, acrescentou, sem divulgar mais detalhes.

- Trump apoia Israel -A ONG anticolonização Ir Amim havia anunciado previamente que as permissões de construção envolviam 618 casas em Jerusalém Oriental.

As relações entre Israel e seu aliado americano estão deterioradas, principalmente depois que Washington se negou a vetar na sexta-feira uma resolução da ONU que condena as colônias israelenses pela primeira vez desde 1979.

Com a abstenção dos Estados Unidos, os outros 14 membros do Conselho de Segurança da ONU aprovaram um texto que convoca Israel a "cessar imediatamente qualquer atividade de colonização em território palestino ocupado, incluindo Jerusalém Oriental", alegando que as colônias "não têm valor jurídico" e são "perigosas para a viabilidade de uma solução com dois Estados".

Além disso, o presidente eleito Donald Trump mostrou novamente seu apoio a Israel depois da votação.

"Não podemos continuar deixando que Israel seja tratado com um desprezo total e essa falta de respeito", tuitou o magnata.

A atitude americana provocou a revolta de Israel, cujo primeiro-ministro rejeitou "uma resolução anti-israelense vergonhosa" e afirmou que seu país não a respeitará.

Mas, no que parece ser uma tentativa de acalmar as relações, Netanyahu pediu o adiamento do debate sobre a concessão das autorizações de construção em Jerusalém Oriental.

- Visão de Kerry sobre a paz -A comunidade internacional, que classifica de ilegal a colonização israelense, considera que ela é o maior obstáculo para a paz, já que os assentamentos são construídos em terras que poderiam pertencer ao Estado ao qual os palestinos aspiram.

Os Estados Unidos agem tradicionalmente como o escudo diplomático de Israel mas, frustrados após anos de esforços inúteis, decidiram se abster na ONU alegando o impacto negativo da colonização sobre o processo de paz israelense-palestino, em ponto morto desde 2014.

Nesta quarta-feira, Kerry apresentou em um discurso sua "visão completa" sobre este processo de paz.

Para o secretário de Estado americano, a única via que garantirá a paz entre Israel e Palestina é a negociação de uma solução de dois Estados, mas advertiu que essa saída corre grave perigo.

Ao explicar a decisão dos Estados Unidos de não vetar a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que condenou os assentamentos israelenses, Kerry disse que "o voto na ONU era para preservar a solução de dois Estados".

Segundo ele, a política de assentamentos impede qualquer processo de paz com os palestinos.

"Qualquer pessoa que pense seriamente na paz pode ignorar a realidade da ameaça que os assentamentos representa para a paz", enfatizou.

"A política de assentamentos está definindo o futuro em Israel. E seu propósito é claro. Eles acreditam em um único estado: a grande Israel".

Kerry acredita que "é seu dever, em suas últimas semanas e últimos dias como secretário de Estado, apresentar o que ele pensa que deve ser o caminho para uma solução com dois Estados", segundo o porta-voz.

Embora esta resolução não preveja sanções contra Israel, o governo teme que facilite as denúncias ante o Tribunal Penal Internacional e avive a rejeição aos produtos das colônias.

Após a votação do Conselho de Segurança, Israel anunciou que "reduzirá" suas relações com alguns países que votaram a favor do texto e chamou para consultas seus embaixadores na Nova Zelândia e no Senegal, que impulsionaram a resolução na ONU.

Um total de 430.000 colonos israelenses vivem na Cisjordânia ocupada, e mais de 200.000 residem em Jerusalém Oriental.

mjs-dms/tp/gm.