"Isto é Miami?": família iraquiana conta odisseia que acabou na Colômbia
Bogotá, 20 Abr 2017 (AFP) - Quando os Hadi desceram do barco, pensaram que tinham realizado o sonho de deixar seu Iraque natal, devastado pela guerra, para começar vida nova nos Estados Unidos, mas depois de uma viagem tortuosa partindo da Turquia, comprovaram que estavam na Colômbia.
Após navegar dois meses e dez dias acreditando que chegaria na América do Norte, esta família originária de Eazizia, nos arredores de Bagdá, trocou o navio por um ônibus, guiada pelo mesmo coiote iraquiano que cobrou deles 30.000 dólares para trasladá-los.
"Isto são os Estados Unidos? Aqui é Miami?", perguntaram no dia seguinte na recepção do hostel simples onde foram deixados. "Não", responderam. "Isto é a Colômbia, é Cali".
Na ocasião, "estávamos procurando o homem e o homem desapareceu", contou à AFP Malak Hadi, de 22 anos, em um inglês precário, um ano e meio depois de ter chegado com o pai, a mãe, a irmã e o irmão a Buenaventura, no Pacífico colombiano.
Neste violento porto, de onde sai boa parte da cocaína da Colômbia, primeiro produtor mundial da droga, viram gente bêbada, dormindo nas ruas, de aparência suja.
"No meu país, quando se ouve falar da Colômbia, é só sobre drogas. Só drogas, só máfia, nada mais", relatou Malak, ao lembrar que, embora ela não soubesse da história, seu pai sabia sobre o chefão do narcotráfico Pablo Escobar. "Vejam, estamos em um país tão perigoso", lembrou ter-lhes dito.
Depois de quatro dias em Cali, a cidade mais violenta da Colômbia, sem falar espanhol e com conhecimentos de inglês muito rudimentares, contataram as autoridades migratórias, que lhes ofereceram um tradutor.
Eles decidiram ir para Medellín, de onde pretendiam iniciar a longa viagem rumo ao norte que costumam fazer os milhares de migrantes que chegaram nos últimos meses ao território colombiano perseguindo o "American Dream".
Mas algo fortuito mudou seu rumo. Em um ponto de ônibus em frente a um restaurante onde desceram para esticar as pernas porque não tinham dinheiro sequer para comer, o pai encontrou uma pessoa que falava árabe e lhes passou o contato da Casa Cultural Islâmica Ahlul Bayt, em Bogotá, que acabou acolhendo-os.
"Apenas chegam e te matam""Entramos na mesquita, foi como um milagre para nós", disse Malak, convencida de que se não fosse assim estariam na rua.
Sentada em um tapete de oração, Malak conta que fugiam da guerra quando acabaram chegando à Colômbia, mergulhada em um conflito armado interno de mais de meio século.
"A vida é impossível cada dia mais no meu país (...) Crianças, jovens, muita, muita gente morre sem razão", contou sobre a luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), também conhecido pelo acrônimo Daesh, combatido pelas tropas iraquianas apoiadas por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
"Ninguém se importa onde você vive, só chegam e te matam, levam as meninas bonitas e matam as outras", continuou esta mulher de olhos verdes, que cobre os cabelos com um hijab, o véu das muçulmanas.
Antes da Turquia, os Hadi foram para a Malásia, de onde queriam seguir para a Austrália. Como não conseguiram, pensavam chegar à América do Norte. Mas quem prometeu levá-los levou seus pertences. "Eles pegaram os telefones, pegaram os passaportes, tomaram o dinheiro que tínhamos... Levaram tudo".
Nos EUA "é igual""Tudo foi muito difícil, mas também aprendi muitas coisas que me fizeram crescer", admitiu, com lágrimas nos olhos.
Sua família dorme toda junta no mesmo quarto. Têm um banheiro e um armário à disposição, mas mantêm a pouca roupa que lhes resta em sacolas com a esperança de partir em breve.
Embora o governo colombiano lhes tenha dado oito meses como refugiados, sem saber espanhol, é difícil conseguir um trabalho estável. Somente Malak e Rayim, as duas irmãs, ganham dinheiro para sustentar a família: uma cuida de uma menina palestina e a outra faz sobrancelhas em um salão de beleza.
Seus pais, Hussein e Alaa Hasan, querem abrir um restaurante. Um instituto lhes doou mesas e até um grill, mas não encontraram um fiador para alugar um ponto.
"Não quero ir aos Estados Unidos porque estou certa de que é igual", assegurou Malak, a única dos Hadi disposta a contar sua história.
"E gosto deste país. Quero dizer, adoro, acredite, amo os colombianos (...) Têm um coração doce (...), mas é difícil para nós viver aqui".
Após navegar dois meses e dez dias acreditando que chegaria na América do Norte, esta família originária de Eazizia, nos arredores de Bagdá, trocou o navio por um ônibus, guiada pelo mesmo coiote iraquiano que cobrou deles 30.000 dólares para trasladá-los.
"Isto são os Estados Unidos? Aqui é Miami?", perguntaram no dia seguinte na recepção do hostel simples onde foram deixados. "Não", responderam. "Isto é a Colômbia, é Cali".
Na ocasião, "estávamos procurando o homem e o homem desapareceu", contou à AFP Malak Hadi, de 22 anos, em um inglês precário, um ano e meio depois de ter chegado com o pai, a mãe, a irmã e o irmão a Buenaventura, no Pacífico colombiano.
Neste violento porto, de onde sai boa parte da cocaína da Colômbia, primeiro produtor mundial da droga, viram gente bêbada, dormindo nas ruas, de aparência suja.
"No meu país, quando se ouve falar da Colômbia, é só sobre drogas. Só drogas, só máfia, nada mais", relatou Malak, ao lembrar que, embora ela não soubesse da história, seu pai sabia sobre o chefão do narcotráfico Pablo Escobar. "Vejam, estamos em um país tão perigoso", lembrou ter-lhes dito.
Depois de quatro dias em Cali, a cidade mais violenta da Colômbia, sem falar espanhol e com conhecimentos de inglês muito rudimentares, contataram as autoridades migratórias, que lhes ofereceram um tradutor.
Eles decidiram ir para Medellín, de onde pretendiam iniciar a longa viagem rumo ao norte que costumam fazer os milhares de migrantes que chegaram nos últimos meses ao território colombiano perseguindo o "American Dream".
Mas algo fortuito mudou seu rumo. Em um ponto de ônibus em frente a um restaurante onde desceram para esticar as pernas porque não tinham dinheiro sequer para comer, o pai encontrou uma pessoa que falava árabe e lhes passou o contato da Casa Cultural Islâmica Ahlul Bayt, em Bogotá, que acabou acolhendo-os.
"Apenas chegam e te matam""Entramos na mesquita, foi como um milagre para nós", disse Malak, convencida de que se não fosse assim estariam na rua.
Sentada em um tapete de oração, Malak conta que fugiam da guerra quando acabaram chegando à Colômbia, mergulhada em um conflito armado interno de mais de meio século.
"A vida é impossível cada dia mais no meu país (...) Crianças, jovens, muita, muita gente morre sem razão", contou sobre a luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), também conhecido pelo acrônimo Daesh, combatido pelas tropas iraquianas apoiadas por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
"Ninguém se importa onde você vive, só chegam e te matam, levam as meninas bonitas e matam as outras", continuou esta mulher de olhos verdes, que cobre os cabelos com um hijab, o véu das muçulmanas.
Antes da Turquia, os Hadi foram para a Malásia, de onde queriam seguir para a Austrália. Como não conseguiram, pensavam chegar à América do Norte. Mas quem prometeu levá-los levou seus pertences. "Eles pegaram os telefones, pegaram os passaportes, tomaram o dinheiro que tínhamos... Levaram tudo".
Nos EUA "é igual""Tudo foi muito difícil, mas também aprendi muitas coisas que me fizeram crescer", admitiu, com lágrimas nos olhos.
Sua família dorme toda junta no mesmo quarto. Têm um banheiro e um armário à disposição, mas mantêm a pouca roupa que lhes resta em sacolas com a esperança de partir em breve.
Embora o governo colombiano lhes tenha dado oito meses como refugiados, sem saber espanhol, é difícil conseguir um trabalho estável. Somente Malak e Rayim, as duas irmãs, ganham dinheiro para sustentar a família: uma cuida de uma menina palestina e a outra faz sobrancelhas em um salão de beleza.
Seus pais, Hussein e Alaa Hasan, querem abrir um restaurante. Um instituto lhes doou mesas e até um grill, mas não encontraram um fiador para alugar um ponto.
"Não quero ir aos Estados Unidos porque estou certa de que é igual", assegurou Malak, a única dos Hadi disposta a contar sua história.
"E gosto deste país. Quero dizer, adoro, acredite, amo os colombianos (...) Têm um coração doce (...), mas é difícil para nós viver aqui".
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