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Procuradora-geral chavista acusa Guarda Nacional de violência

24/05/2017 23h21

Caracas, 25 Mai 2017 (AFP) - A Guarda Nacional é responsável por cerca de 500 feridos (mais da metade do total) e pela morte de um jovem durante os violentos protestos contra o presidente Nicolás Maduro - denunciou a procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, nesta quarta-feira (24).

Horas depois, evidenciando o crescente racha no governo, o ministro do Interior e da Justiça, general Néstor Reverol, defendeu a atuação da Força Armada e acusou o Ministério Público de "inação" frente aos manifestantes envolvidos nos atos de violência.

Hoje, também foram registrados confrontos nos estados de Zulia (noroeste), onde se ateou fogo a prédios públicos, e Bolívar (sudeste), onde um jovem de 22 anos faleceu depois de levar um tiro na cabeça, informou a Procuradoria.

Com esse último óbito, sobe para 56 o número de mortos em 54 dias de mobilizações, sendo 53 civis e três policiais e militares.

Em uma declaração pública, na qual condenou a "exacerbação da violência", a procuradora-geral também informou o número de feridos: 771 civis e 229 policiais, ou militares.

"Mais da metade dos feridos foi produto da ação dos corpos de segurança. Preocupa como a violência se exacerbou", lamentou.

Luisa Ortega responsabilizou um oficial da Guarda Nacional - ainda não identificado - pela morte do estudante Juan Pernalete, de 20 anos, em um protesto em Caracas em 26 de abril.

Ele morreu por um "choque de origem cardíaca por traumatismo de tórax. Foi impactado por um objeto como este", declarou ela, exibindo uma bomba de gás lacrimogêneo.

O governo havia anunciado que Pernalete faleceu pelo impacto de um objeto metálico.

"Repudiamos a violência, venha de onde vier", afirmou.

"As manifestações devem ser pacíficas. Isso é um direito que o Estado deve garantir. Se você começa a executar ações violentas, você perde o direito. A violência deixa apenas danos irreparáveis", acrescentou a procuradora, condenando os abusos cometidos durante os protestos da oposição.

Ortega também considerou "dantesco" que manifestantes da oposição tenham ateado fogo a um homem em um ato em Caracas no último sábado (20) e chamou de "vulgares os vídeos (sobre o episódio) manipulados em benefício dos grupos em disputa".

"Repudio os linchamentos e a violência", frisou.

Ainda de acordo com a procuradora, o Ministério Público investiga sete casos "por uso de Justiça militar, em casos que correspondem à Justiça comum" e pediu que se verifique o estado de saúde desses detidos.

Segundo a ONG Foro Penal, 161 civis foram presos por ordem da Justiça militar.

Chavista histórica, Ortega se distanciou do governo desde que o máximo tribunal do país assumiu brevemente, em março passado, as competências do Parlamento por considerar que houve uma "ruptura da ordem constitucional".

Ela também fez críticas à Assembleia Constituinte convocada por Maduro, por considerar que agravará a crise do país.

- 'Clima de impunidade' -O ministro Reverol insistiu em denunciar que "grupos criminosos armados" - ligados à oposição, segundo ele - agem nos protestos.

"Essa espiral de violência gerou um clima de impunidade, propiciado - ao mesmo tempo - pelo Ministério Público, o qual, com sua inação, não garantiu a correta aplicação da justiça", expressou o ministro.

"O governo reivindica a atuação dos diferentes corpos de polícia, de segurança e da Força Armada Nacional Bolivariana em seu estrito apego à Constituição e às leis", reforçou o ministro.

A oposição alega que militares e policiais exercem uma "repressão selvagem".

Para o analista Luis Salamanca, a postura crítica de Ortega reflete o "racha da estrutura interna do poder chavista".