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Morte de Noriega complica reivindicações de vítimas à Justiça

Homem lê jornal com notícia sobre a morte do ex-ditador manuel Noriega, na Cidade do Panamá - Rodrigo Arangua/AFP
Homem lê jornal com notícia sobre a morte do ex-ditador manuel Noriega, na Cidade do Panamá Imagem: Rodrigo Arangua/AFP

No Panamá

30/05/2017 14h36

A morte do ex-ditador panamenho Manuel Antonio Noriega, a quem atribuíam segredos capazes de atingir muitas pessoas, provocou comoção nos familiares dos desaparecidos e assassinados do período militar, que acreditam que agora será mais difícil fazer justiça.

Noriega morreu na segunda-feira (29) , aos 83 anos, no hospital público Santo Tomás, na capital panamenha, depois de ter sido operado de um tumor cerebral em março.

O ex-ditador cumpria três condenações, de 20 anos cada, pelo desaparecimento de opositores durante o seu regime (1983-1989). Também era acusado por outros crimes ocorridos enquanto comandava a Inteligência e era o braço direito do líder nacionalista Omar Torrijos, que chegou ao poder depois de um golpe militar em 1968.

"Com a morte de Noriega será mais difícil saber a verdade de tudo o que aconteceu", disse à AFP Martiza Maestre, presidente do comitê de vítimas, desaparecidos e assassinados durante a ditadura militar (1968-1989).

"Ele nunca falou, mas o grupo que esteve com ele também mantém esse silêncio", assinalou Maestre, que mostrou "impotência" e "raiva" por essa situação.

Segredos para o caixão

Noriega cumpria condenações pelo desaparecimento e morte, em 1985, do opositor Hugo Spadafora; do militar Moisés Giroldi, morto depois de se rebelar contra ele em 1989; e pelo chamado massacre de Albrook, no qual vários militares morreram depois de se rebelarem neste último ano.

Junto a isso, uma Comissão da Verdade criada em 2002 documentou 116 casos de assassinatos e desaparecimentos durante o regime militar, quando Noriega era o chefe da Espionagem e encarregado de combater a insurgência que seguiu o golpe de 1968, assim como em seu período de governante.

"Agora Noriega enfrenta a justiça divina. Leva seus segredos para o caixão; mas muitos conhecem a verdade de suas atrocidades e devem falar", tuitou Alida Spadafora, irmã de Hugo Spadafora, que foi decapitado.

Para o sacerdote Conrado Sanjur, membro do comitê de vítimas, Noriega era uma "fonte vital" para conhecer "o que aconteceu naqueles tempos de ditadura e seus responsáveis", mas com a sua morte "acaba essa possibilidade".

Este capítulo da história panamenha não termina "porque trata-se de justiça e muita gente no Panamá - ex-militares, empresários, políticos - sabem algo" sobre o que aconteceu naquele período, acrescentou Sanjur.

"Ele se foi com a maioria de seus segredos. Era um homem que não falava e demonstrou isso até o fim", disse à AFP Roberto Díaz Herrera, ex-chefe do Estado-Maior panamenho e segundo do regime, embora posteriormente tenha denunciado Noriega.