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Interesses econômicos: a chave para explicar apoio chinês a Mianmar

28/09/2017 16h45

Bangcoc, 28 Set 2017 (AFP) - Mianmar, isolada da cena internacional pela crise dos rohingyas, tem um grande aliado, a China, que quer preservar seus grandes projetos de infraestruturas na zona do conflito com a minoria muçulmana.

Em abril, o presidente chinês, Xi Jinping, recebeu com todas as honras em Pequim o seu contraparte birmanês Htin Kyaw e insistiu na necessidade de "realizar o quanto antes" os projetos de cooperação entre os dois países.

Um dos principais projetos chineses é a criação de uma "zona econômica especial" na cidade de Kyaukpyu, em Rakhine, estado birmanês onde os violentos confrontos entre o Exército e os rohingyas provocaram o êxodo em massa desta minoria muçulmana.

A ONU qualificou a repressão do Exército birmanês contra os rohingyas de "limpeza étnica".

A China é o principal investidor de Mianmar, país majoritariamente budista, e nos últimos anos se reforçou no oeste, onde vivem os rohingyas.

As instalações nesta zona são fundamentais para Pequim para criar uma rota que possa levar o gás e o petróleo do Oriente Médio para a província de Yunnan, no sudoeste da China, mas evitando o Estreito de Malaca, entre Malásia e Indonésia.

Segundo o conglomerado estatal chinês CITIC, em Kyaukpyu foram investidos mais de nove bilhões de dólares para criar um porto de águas profundas e uma zona econômica de 100 hectares, projeto que faz parte de um grande plano chinês de infraestruturas chamado "Novas Rotas da Seda".

O estado de Rakhine e Yunnan já estão conectados desde abril graças a um imenso oleoduto, um investimento de 2,45 bilhões de dólares (metade birmanês e metade chinês), de acordo com cifras da petroleira estatal chinesa CNPC.

- Projetos de envergadura -Para Sophie Boisseau du Rocher, especialista no sudeste da Ásia no Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), estes "projetos econômicos de envergadura" são fundamentais no apoio sem fissuras da China a Mianmar.

Nesta quinta-feira, a China prevê intervir no Conselho de Segurança da ONU, onde é membro permanente, que irá se reunir novamente para abordar a crise em Mianmar.

Espera-se que Pequim defenda o seu posicionamento de "apoiar os esforços de Mianmar para preservar a estabilidade de seu desenvolvimento nacional", tal como disse o Ministério chinês das Relações Exteriores.

A líder birmanesa Aung San Suu Kyi aposta pelo desenvolvimento econômico desta região, uma das mais pobres do país, com uma taxa de pobreza que alcança os 78%, mais que o dobro da média de Mianmar.

Em janeiro de 2016, o vice-presidente do CITIC Construction, Yuan Shaobin, disse que estava disposto a "compartilhar os dividendos do projeto com Mianmar e a população local" e falou em criar 50 clínicas e 50 escolas na região, promessas que até o momento não foram cumpridas.

"Os projetos colossais da China no estado de Rakhine não agradam a população local, que não viu nenhum aspecto positivo", assegura Alexandra de Mersan, especialista na região do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Ocidentais (Inalco) de Paris.

Como outras regiões de Mianmar, Rakhine tem enormes riquezas no subsolo, sobretudo gás, pelas quais os observadores apontam a importância dos interesses econômicos, e não apenas religiosos, no conflito atual.

Até agora Rakhine escapou do monopólio de terras por parte de homens de negócios próximos aos militares birmaneses, tal como ocorre em outras regiões do país.

"A terra se tornou um bem precioso por causa dos projetos da China", explica a socióloga Saskia Sassen. "E a terra liberada pela expulsão radical dos rohingyas é mais interessante para o Exército", assegura.

bur-tib/dth/roc/pc.