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Mobilização estudantil na Catalunha apoia referendo de independência

28/09/2017 17h59

Barcelona, 28 Set 2017 (AFP) - Milhares de estudantes em greve saíram nesta quinta-feira às ruas de Barcelona, como parte da "mobilização permanente" dos separatistas catalães, a três dias do referendo de independência proibido pela Justiça espanhola.

Universitários e alunos do Ensino Médio defendem com greves e protestos a celebração da consulta, contra a qual o governo e a Justiça espanhola mobilizaram um amplo dispositivo legal e policial.

Na última de uma longa lista de operações, a Guarda Civil confiscou nesta quinta, em um depósito a 65 km de Barcelona, 2,5 milhões de cédulas, seis milhões de envelopes e 100 urnas, informou uma fonte policial.

Segundo os donos do depósito, as urnas, as primeiras confiscadas pela Polícia em sua mobilização para impedir a votação, eram para as eleições do FC Barcelona, assinalou esta fonte. Um porta-voz do time de futebol disse que a empresa "era fornecedora do clube".

Nas últimas duas semanas, a Justiça e a Polícia impulsionaram um leque de medidas contra este referendo suspenso pelo Tribunal Constitucional, que o governo espanhol de Mariano Rajoy quer deter a todo custo.

Assim, confiscaram grande quantidade de material eleitoral, fecharam dezenas de sites sobre a consulta e detiveram funcionários de alto escalão do governo regional envolvidos em sua organização, o que gerou fortes protestos nesta região de 7,5 milhões de habitantes, divididos sobre a secessão, mas amplamente favorável à consulta.

Envolvidos em bandeiras separatistas e aos gritos de "votaremos!" e "independência!", cerca de 16.000 jovens marcharam pelo centro de Barcelona, segundo cifras da Polícia municipal.

"Se uma quantidade de pessoas tão grande como há hoje na Catalunha quer se separar do país, devem deixá-las votar", disse à AFP Pau Cabrinety, de 15 anos.

- Pedidos de calma -A mobilização estudantil poderia se traduzir na ocupação de colégios que podem servir para a votação de domingo, em uma tentativa de impedir a ordem judicial de isolá-los o mais tardar até sexta-feira à noite.

A Polícia regional, os Mossos d'Esquadra, encarregados de executar essa ordem, se mostram reticentes diante do risco de distúrbios na aplicação da ação.

Neste ambiente de tensão, o presidente regional, Carles Puigdemont, liderou uma junta de segurança da qual participaram os corpos policiais e um funcionário de alto escalão do Ministério do Interior espanhol.

Os representantes do governo espanhol e o Executivo separatista regional deixaram patentes as suas diferenças sobre se devem fechar ou não fechar as seções eleitorais apesar da decisão judicial, e só concordaram na necessidade de evitar situações de violência.

O secretário de Estado de Segurança, José Antonio Nieto, explicou que o líder catalão se negou a suspender o referendo, e o responsável regional do Interior, Joaquim Forn, insistiu: "não iremos parar a convocação da votação".

A grande presença de reforços policiais enviados por Madri gerou inquietação entre os eleitores separatistas, mas os sindicatos da Polícia Nacional, durante coletiva em Barcelona, tentaram acalmar os ânimos.

Domingo "será um dia pacífico, nem a Polícia espanhola nem a catalã são Polícias repressoras. Nós não viemos em pé de guerra, viemos para que seja um dia em que se cumpra a lei", declarou Mónica Gracia, secretária-geral do Sindicato Unificado da Polícia.

- Advertência do Banco de España -O Banco de España, por sua vez, advertiu sobre os riscos da tensão política na Catalunha.

"No plano interno as tensões políticas na Catalunha poderiam afetar eventualmente a confiança dos agentes e as suas decisões de gasto e condições de financiamento", indicou em seu relatório trimestral, no qual manteve as previsões de crescimento para 2017 (3,1%).

Também mostraram a sua preocupação diante da situação dos especialistas da ONU. Algumas medidas empreendidas por Madri "parecem violar os direitos individuais fundamentais", assinalaram David Kaye e Alfred de Zayas em comunicado.

Uma associação contrária à secessão, a Sociedade Civil Catalã, lamentou a divisão que, segundo eles, está sendo criada entre partidários do "sim" e do "não".

"Este referendo não soluciona, é mais um problema, porque confronta esses dois coletivos da Catalunha", disse o seu vice-presidente, Álex Ramos.

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