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Visita do papa à Ásia desperta lembranças na prima residente em Bangcoc

23/11/2017 17h03

Nakhon Pathom, Tailândia, 23 Nov 2017 (AFP) - Aos 75 anos, a irmã Ana Rosa não se deslocará de Bangcoc a Rangum para assistir à primeira visita de um papa a Mianmar. Mas ela vai acompanhar os passos deste primo de segundo grau, de quem se lembra pela timidez, e que se tornou chefe da Igreja católica.

"Esse é o momento adequado para vir à Ásia. Mianmar e Bangladesh estão em conflito. Seu objetivo é encorajar as pessoas, construir uma ponte de paz", explicou em tailandês à AFP Ana Rosa Sivori, freira missionária argentina que vive há mais de 50 anos na Tailândia, um país de maioria budista, assim como o vizinho Mianmar.

A religiosa não hesita em falar da crise dos rohingyas, uma minoria muçulmana que foge para Bangladesh da perseguição que sofre em Mianmar.

Seu primo, o papa Francisco, também se refere de forma muito direta ao drama dessa minoria que, segundo a ONU, é vítima de "limpeza étnica" por parte das forças armadas birmanesas, o que incomoda a Igreja católica de Mianmar.

Os católicos birmaneses temem que o Santo Padre faça referência, diante de seus anfitriões de Mianmar - como a prêmio Nobel da Paz Aung san Suu Kyi, com quem se reunirá na terça-feira - aos rohingyas. Este é um tema tabu no país, onde reina um forte nacionalismo budista e antimuçulmano.

"Ele não tem medo de dizer 'vocês precisam cuidar dessas pessoas'", assegura Ana Rosa, que tem esperança de que Francisco aborde o tratamento recebido esta minoria perseguida.

- 'Tímido e reservado' -Cerca de 200.000 pessoas devem assistir à missa que o papa Francisco celebrará na próxima quarta-feira em Rangum, a capital econômica do país.

A missionária acompanhará a cerimônia pela televisão na escola católica para meninas que dirige em Nakhon Pathom, na periferia de Bangcoc.

Não se sente ofendida que seu primo não tenha tempo para vê-la durante a viagem. "Ele vem pelo povo de Mianmar", afirma.

A missionária sorri ao lembrar do jovem sacerdote portenho Jorge Mario Bergoglio, que segundo ela não era um orador deslumbrante.

"Ele era muito entediante", conta, lembrando das missas dos anos 90. Totalmente o contrário que agora: hoje "suas palavras são realmente profundas", diz a freira cujo avô era irmão do avô do papa.

Seu sorriso largo também é um novo traço de sua personalidade, explica. "Ele era muito tímido, reservado. Antes ele não sorria, agora sorri muito. Ele gosta de estar com o povo".

Seu parentesco com o papa lhe confere certa aura em sua comunidade. Ela guarda cuidadosamente as cartas manuscritas que recebe, com uma letra minúscula, inclusive de quando já era papa.

A última conversa, no Vaticano há mais de quatro anos, foi amistosa e familiar, apesar dos muitos quilômetros que os separam.

"Perguntei-me: estou falando com o papa?", disse com uma risada.

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