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"Perguntei se estavam mortos e disseram que sim", diz pai de tripulante de submarino perdido

Luis Tagliapietra pai do tenente Alejandro Damián Tagliapietra - Martín Zabala/Xinhua
Luis Tagliapietra pai do tenente Alejandro Damián Tagliapietra Imagem: Martín Zabala/Xinhua

Mar del Plata, Argentina

24/11/2017 20h41

 

Luis Tagliapietra quer falar de seu filho Damián, conhecido como "Lucho", um jovem de 27 anos apaixonado pelo mar e que estava a bordo do submarino desaparecido "ARA San Juan", onde fazia especialização em armas submarinas.

Tagliapietra, de 46 anos, está em Mar del Plata desde a tarde de quinta-feira, após percorrer em alta velocidade os 400 km que separam esta cidade portuária de Beccar, na periferia norte de Buenos Aires, assim que soube da explosão na zona onde estaria o submarino.

Em um telefonema de Fabián Rossi, o chefe direto do filho, Tagliapietra perguntou "se estavam todos mortos, e ele disse que sim", contou o pai nesta sexta-feira entre lágrimas.

Abalado pela notícia, Tagliapietra pegou sua caminhonete e dirigiu em alta velocidade até a Base Naval de Mar del Plata para "pedir explicações cara a cara". Foi informado de algumas coisas, mas "outras não me convenceram".

Parentes do tenente Alejandro Damián Tagliapietra na base de Mar del Plata - EITAN ABRAMOVICH/AFP - EITAN ABRAMOVICH/AFP
Parentes do tenente Alejandro Damián Tagliapietra na base de Mar del Plata
Imagem: EITAN ABRAMOVICH/AFP

Sistemas de detecção hidroacústicos captaram há dez dias uma explosão exatamente na posição onde deveria estar o submarino, que comunicou problemas nas baterias e regressava para Mar del Plata.

Luis, que foi pai de Damián aos 19 anos, chora cada vez que se lembra de seu amor pelo filho, que realizava sua terceira viagem de submarino.

Sem consolo

"Estou arrasado", confessou à imprensa na ala norte da base naval de Mar del Plata, a poucos metros de navios atracados e do submarino ARA Salta, um dos dois que agora possui a Marinha argentina.

"Toda a semana passando da ilusão para a desilusão", disse Tagliapietra, que sabe que as chances de encontrar o filho vivo - como os demais 43 tripulantes do submarino - são ínfimas.

"Espero uma surpresa, mas não acredito. É contraditório. Você passa da negação ao sofrimento, do otimismo ao pessimismo. Hoje sou todo pessimismo", desabafou.

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Tagliapietra recorda como levava o filho para praticar windsurf, ou para assistir aos jogos do Tigre. "Damián era feliz fazendo seu trabalho. Era sua paixão", recordou entre lágrimas.

Quero saber "se morreu instantaneamente, ou se sofreu".

Política e explicações

Em meio ao vento forte que sopra na base, Tagliapietra revela que "não espera nada de ninguém".

"Os políticos só pensam neles, no voto, e estão agora avaliando o custo político disto e que cabeças devem cortar para se salvar", denunciou.

Advogado criminalista, Tagliapietra se define "antissistema" e revela que esta semana recebeu apenas o telefonema do chefe de seu filho.

"Ninguém mais entrou em contato. Não enviaram sequer um 'whatsapp', que é grátis. O que me diz agora, (presidente Mauricio) Macri?", questionou.

"Não me importa a cabeça do ministro (da Defesa, Oscar Aguad), ou de Macri, não me importo com mais nada", concluiu Tagliapietra.