Topo

Novos socorros médicos em ritmo lento em zona rebelde na Síria

28/12/2017 16h38

Duma, Siria, 28 dez 2017 (AFP) - As retiradas de civis gravemente doentes de uma região rebelde da Síria, sitiada pelo regime, prosseguiam a conta-gotas, com 12 pacientes que deixaram a zona na noite de quarta-feira (27), enquanto um encarregado da ONU se disse preocupado pelo uso de crianças como "moeda de troca".

Doze pessoas, em sua maioria crianças, conseguiram sair de Ghuta Oriental, perto de Damasco com suas famílias na noite de quarta-feira e foram levados a hospitais da capital síria, informou nesta quinta-feira (28) à AFP o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Síria, Ingy Sedki.

Um correspondente da AFP em Duma, a grande cidade de Guta, viu em uma das ambulâncias Abdel Rahman, um bebê de sete meses, nos braços da mãe, e ligado a um aparelho de respiração artificial.

Enquanto isso, um dos socorristas tentava animar um garoto de menos de um ano para, então, colocá-lo na ambulância.

"A maioria sofre de câncer, doenças crônicas e cardíacas", detalhou Ingy Sedki. Na véspera, quatro pacientes haviam sido evacuados pelo Crescente Vermelho e pelo CICV.

A ONU pede a retirada de cerca de 500 doentes, mas, com os atrasos e com os bloqueios da operação, 16 pessoas não resistiram e faleceram desde novembro.

Cerca de 400 mil habitantes da Ghuta Oriental estão presos nessa região, ao leste de Damasco, sitiadas desde 2013 pelas tropas do governo de Bashar Al-Assad, em meio a uma grave escassez sanitária e de alimentos.

- 'Moeda de troca' -Tanto as evacuações médicas quanto a chegada de ajuda humanitária a Ghuta Oriental podem ser realizadas apenas com a autorização do governo sírio. Com o apoio militar de Rússia e Irã, Damasco conseguiu retomar o controle da maioria dos territórios conquistados pelos rebeldes.

Segundo o grupo rebelde de Ghuta, Jaish al-Islam, firmou-se um acordo com o governo Assad para que essas retiradas possam acontecer.

"Aceitamos a libertação de um certo número de prisioneiros em troca da retirada dos casos humanitários mais urgentes", relatou Al-Islam, acrescentando que cinco trabalhadores, detidos em março, conseguiram deixar Ghuta.

Já o chefe do grupo de trabalhos humanitários da ONU para a Síria, Jan Egeland, mostrou-se crítico em relação ao acordo.

"Não é um bom acordo se trocam crianças doentes por presos. Isso significa que as crianças se transformaram em uma moeda de troca nessa luta feroz", declarou Egeland à rede BBC.

"Isso não deveria ocorrer. Os doentes têm direito de serem evacuados, e nós temos a obrigação de evacuá-los", acrescentou.

Último reduto da rebelião perto de Damasco, Ghuta faz parte das quatro "zonas de distensão" definidas em março por Rússia e Irã, aliados do governo, e por Turquia, que apoia os rebeldes, para tentar chegar a um cessar-fogo na Síria. Recentemente, porém, o governo intensificou seus bombardeios nessas áreas.

No terreno, o exército sírio avançava nesta quinta-feira às portas da província de Idlib, a única que escapa das tropas do regime em todo o país, segundo o OSDH.

Este avanço poderia ser um indício de uma futura ofensiva de maior envergadura nesta província do noroeste, fronteiriça com a Turquia.

"O regime tomou várias cidades e localidades" entre a província de Idlib e a vizinha Hama (centro), indicou Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH, com sede em Londres e que conta com uma extensa rede de fontes no terreno.

Desde 2011, a guerra na Síria deixou mais de 340.000 mortos e milhões de deslocados.