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Uma direita tradicional e uma esquerda sedutora disputam os votos na Colômbia hoje

Apoiadores do candidato Ivan Duque carregam bandeira da Colômbia - Fernando Vergara/AP
Apoiadores do candidato Ivan Duque carregam bandeira da Colômbia Imagem: Fernando Vergara/AP

17/06/2018 04h02

A direita colombiana se lança à reconquista da Presidência e seu candidato é um novato na política, que passou pelo primeiro turno prometendo fortalecer o acordo de paz com as Farc, erradicar a corrupção e melhorar a economia.

"Chegou o momento da mudança!" é o lema de Iván Duque, de 41 anos, defensor de maiores liberdades para as empresas e dos valores tradicionais da família.

O candidato da coalizão conservadora liderada pelo Centro Democrático e da qual também fazem parte grupos evangélicos trabalhou 12 anos como economista no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas na política acumula apenas quatro anos como senador.

No entanto, conta com um apoio de peso: o do controverso e popular ex-presidente Álvaro Uribe, "o papai da Colômbia", como o apresenta o animador do palanque.

Duque busca representar 73% dos colombianos que têm menos de 45 anos, e voar por conta própria.

Duque questiona o pacto de paz com as Farc e insiste em modificar esse acordo para impedir a chegada ao Congresso de ex-guerrilheiros implicados em crimes graves.

Ele também garante que quer combater o "câncer da corrupção" e o narcotráfico, no país que mais produz cocaína no mundo.

Propõe recuperar a economia com uma reforma para reduzir a burocracia.

Além disso, defende valores cristãos em um país de maioria católica.

Apresentando-se como defensor dos mais pobres, dos militares, dos aposentados, dos descapacitados e dos jovens, Duque propõe uma "Colômbia da legalidade".

Esquerda que seduz

27.maio.2018 - Candidato à presidência da Colômbia Gustavo Petro, acompanhado por uma de suas filhas, vota no primeiro turno da eleição  - Diego Pineda/Xinhua - Diego Pineda/Xinhua
Candidato à presidência da Colômbia Gustavo Petro
Imagem: Diego Pineda/Xinhua

Ex-prefeito de Bogotá, ex-rebelde dos "mocinhos", Gustavo Petro conseguiu o que parecia impensável: que a esquerda chegasse a uma eleição com chances de governar este país de 49 milhões de habitantes e tradicional aliado dos Estados Unidos.

Aos 58 anos, leitor voraz da obra de Gabriel García Márquez e também ex-senador, o discurso antissistema de Petro e seu posicionamento em favor dos pobres fala alto depois do histórico acordo de paz que desarmou e transformou em partido a ex-guerrilha das Farc.

Petro, que cresceu no Caribe colombiano, gosta de conversar, raramente perde a paciência em público e quase sempre usa jeans e camisas largas, embora não rejeite a gravata.

Com 17 anos, Petro entrou para o Movimento 19 de Abril (M-19), que surgiu como um grupo rebelde nacionalista.

Naquela época, jovens esquerdistas de classe média urbana que questionavam o marxismo pegaram em armas depois de denunciar a fraude eleitoral de 1970 em favor do tradicional Partido Conservador.

Vinte anos depois, assinou a paz, depôs os fuzis e ajudou a redigir a Constituição de princípios liberais que existe desde 1991.

Hoje, Petro resgata o fantasma de supostas fraudes nas eleições de domingo.

O aspirante da Colômbia Humana, que diz que promove a política do amor contra o ódio da violência, polariza.

Seus oponentes o acusam de um "castrochavismo" que ele nega. Com este jogo de palavras, alertam para o "risco" de que, sob Petro, a Colômbia se transforme na Venezuela vizinha.

Outros o acusam de incitar um conflito de classes anacrônico.

Mesmo assim, Petro, que teve uma passagem controversa pela prefeitura de Bogotá (2012-2015), onde ganhou a reputação de mau administrador e autoritário, é uma opção para jovens e classes populares.

Atraiu os primeiros com iniciativas como substituir os combustíveis fósseis por limpos, não aprisionar os usuários de drogas, mas oferecer tratamento, e apoiar a adoção de casais homossexuais.

Robert Karl, acadêmico de Princeton e autor do livro "Paz Esquecida", acredita que o fenômeno de Petro é único em comparação com o destino de Timochenko, o líder das FARC que desistiu de sua campanha presidencial antes do ressonante resultados obtidos pelo partido agora de esquerda nas eleições legislativas de março.

No entanto, o esquerdista alimenta dúvidas, mesmo entre os seguidores.