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Carcereiro de McCain no Vietnã recorda o 'patriota teimoso'

26/08/2018 09h16

Haiphong, Vietnã, 26 Ago 2018 (AFP) - O carcereiro vietnamita de John McCain recorda das longas conversas durante a Guerra do Vietnã com o senador americano, que faleceu no sábado aos 81 anos vítima de câncer, mas nega a prática de tortura.

"Ele gostava de conversar comigo sobre a guerra. Bombardear o Vietnã foi um crime dos Estados Unidos, apoiar o regime de Saigon foi um erro, mas ele não iria admitir isso", explicou Tran Trong Duyet, de 85 anos, então diretor da prisão de Hoa Lo em Hanói durante uma entrevista em janeiro com a AFP.

O candidato republicano nas eleições presidenciais de 2008, em que foi derrotado por Barack Obama, carregava as sequelas dos ferimentos sofridos durante a Guerra do Vietnã e da tortura a que foi submetido durante sua prisão.

Em 26 de outubro de 1967, o caça A-4 Skyhawk de McCain foi abatido por um míssil antiaéreo de fabricação soviética. Ele então pulou do avião e caiu em um lago no centro de Hanói, onde foi linchado por uma multidão e sofreu fraturas graves em seus dois braços e joelho.

Permaneceu preso por mais de cinco anos em uma prisão conhecida como o Hilton de Hanói.

"Era muito teimoso e determinado. Por esta razão, eu gostava de debater e discutir com ele", reconheceu Tran Trong Duyet em seu quarto modesto em Haiphong, no noroeste do Vietnã, decorado com imagens de prisioneiros americanos.

"Tivemos conversas intensas. Pouco a pouco, ele reconheceu de certa forma que a intervenção americana no Vietnã acabou por ser um erro", disse ele.

- "Deixar o ódio de lado" -Seu carcereiro o chamava de "Cai", uma abreviação coloquial de seu sobrenome. Embora soubessem que ele era "o filho de uma família respeitável", não recebeu nenhum tratamento especial.

Por sua vez, McCain explicou que, no Vietnã, não só recebera tratamento médico insuficiente, como fora torturado e mantido isolado.

Em seu livro de memórias, "Faith of my Fathers", ele contou como foi mantido amarrado por horas por uma corda.

Duyet negou a prática de tortura: "os prisioneiros eram importantes para nós, poderíamos usá-los nas negociações com os Estados Unidos".

No entanto, ele reconheceu que era difícil para ele, como o responsável da prisão, fazer com que seus homens entendessem que era proibido agredir fisicamente os prisioneiros.

Como aconteceu com McCain, a guerra marcou a vida de Duyet, que lutou nas fileiras comunistas do Vietcong desde que tinha 17 anos e cujos dois irmãos morreram durante a guerra contra a ocupação colonial francesa.

"É realmente uma pena que não o tenham elegido como presidente dos Estados Unidos. Teria sido positivo para o Vietnã, já que o Vietnã salvou sua vida", assegurou Duyet.

Contactado pela AFP no sábado, ele reconheceu sua "tristeza" pela morte de McCain.

McCain era conhecido por seu compromisso com a reconciliação entre os Estados Unidos e o Vietnã, atualmente aliados.

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