O quebra-cabeças da identificação de migrantes mortos no mar
Ndiébène-Gandiol, Sénégal, 31 Ago 2018 (AFP) - "Sempre há corpos que não conseguimos identificar", lamenta o representante de uma localidade costeira do norte do Senegal onde, assim como em muitos lugares da África e da Europa, a identificação de migrantes tem um percentual "muito baixo", tornando o luto ainda mais doloroso para os familiares.
"Muitos corpos de migrantes encalham aqui, devido à barreira", acrescenta o representante, Arona Mael Sow, deputado e prefeito de Ndiébène-Gandiol, uma localidade de pescadores e agricultores situada na foz do rio Senegal, perto da cidade de Saint-Louis.
"Chamamos a Gendarmeria e os bombeiros imediatamente para identificá-los", completa.
"Em 2006, meu marido partiu a bordo de uma canoa para a Espanha. Desde então, não tenho notícias dele", contou Khady Dièye, uma moradora de Ndiégène-Gandiol, mostrando uma foto dela e do marido, com 54 anos quando desapareceu.
Dièye dirige uma associação para as famílias de migrantes desaparecidos, fundada com a ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), que divulga fotos dos desaparecidos.
Na ausência de notícias, ou de corpos, as famílias tentam, apesar de tudo, viver seu luto de acordo com as tradições, neste país de maioria muçulmana.
"Recitamos o Corão e fizemos caridade cinco meses depois", lembra Dièye, que vive com seus quatro filhos em condições precárias.
"Esperamos sete meses antes de iniciar o luto", explica Safiétou Ndiaye, da mesma localidade e que perdeu um irmão em 2006.
Nem todas as famílias procedem dessa forma. Algumas "mantêm a esperança de que seus pais continuem vivos", acrescenta Khady Dièye.
As saídas para o mar pela costa ocidental da África foram retomadas "há dois anos", segundo uma autoridade de segurança de Saint-Louis.
- Taxa 'muito baixa' -Em meados de agosto, uma canoa procedente do Gâmbia encalhou em uma praia do Dacar, no centro da cidade, com 150 pessoas a bordo.
Também foram registrados naufrágios perto de Saint-Louis e na Mauritânia. No final de maio, 25 pessoas originárias da África Ocidental que haviam saído do Cabo Verde foram resgatadas por pescadores no nordeste do Brasil.
Quando a odisseia acaba mal, surge a complicada questão da identificação.
"Os corpos retirados da água costumam estar em estado de decomposição avançada", explica o funcionário de Saint-Louis.
O número de migrantes que morrem no mar no mundo todo é "enorme", contando-se em milhares, mas a taxa de identificação de corpos continua sendo "muito baixa", reconheceu José Baraybar, do serviço de Medicina Legal do CICR em Paris durante uma reunião de especialistas em Dacar.
As populações se organizam em nível local.
"Com os moradores de Thiaroye", uma localidade próxima de Dacar, "falamos sobre esses desaparecidos, sobre como identificá-los por suas roupas, relógios, rosto, ou documentos de identidade", explica Dièye.
A tarefa é especialmente árdua, quando o drama ocorre a centenas, ou milhares de quilômetros.
"O problema principal são as informações 'ante mortem'. É impossível sem a informação de parentes próximos, sem saber quem era, se media 1,80 m, como estava vestido, ou se usava um anel, ou uma pulseira", afirma José Baraybar.
Além disso, em países de trânsito, como a Tunísia, "encontram-se todas as nacionalidades africanas", e os "migrantes apagam todos os seus dados para evitar serem enviados de volta para seu país de origem" se forem detidos, explica o doutor Moncef Hamdoun, chefe do serviço de Medicina Legal do Hospital Charles-Nicolle, de Túnis.
mrb-ns/siu/jh/sd/sgf/me/tt
"Muitos corpos de migrantes encalham aqui, devido à barreira", acrescenta o representante, Arona Mael Sow, deputado e prefeito de Ndiébène-Gandiol, uma localidade de pescadores e agricultores situada na foz do rio Senegal, perto da cidade de Saint-Louis.
"Chamamos a Gendarmeria e os bombeiros imediatamente para identificá-los", completa.
"Em 2006, meu marido partiu a bordo de uma canoa para a Espanha. Desde então, não tenho notícias dele", contou Khady Dièye, uma moradora de Ndiégène-Gandiol, mostrando uma foto dela e do marido, com 54 anos quando desapareceu.
Dièye dirige uma associação para as famílias de migrantes desaparecidos, fundada com a ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), que divulga fotos dos desaparecidos.
Na ausência de notícias, ou de corpos, as famílias tentam, apesar de tudo, viver seu luto de acordo com as tradições, neste país de maioria muçulmana.
"Recitamos o Corão e fizemos caridade cinco meses depois", lembra Dièye, que vive com seus quatro filhos em condições precárias.
"Esperamos sete meses antes de iniciar o luto", explica Safiétou Ndiaye, da mesma localidade e que perdeu um irmão em 2006.
Nem todas as famílias procedem dessa forma. Algumas "mantêm a esperança de que seus pais continuem vivos", acrescenta Khady Dièye.
As saídas para o mar pela costa ocidental da África foram retomadas "há dois anos", segundo uma autoridade de segurança de Saint-Louis.
- Taxa 'muito baixa' -Em meados de agosto, uma canoa procedente do Gâmbia encalhou em uma praia do Dacar, no centro da cidade, com 150 pessoas a bordo.
Também foram registrados naufrágios perto de Saint-Louis e na Mauritânia. No final de maio, 25 pessoas originárias da África Ocidental que haviam saído do Cabo Verde foram resgatadas por pescadores no nordeste do Brasil.
Quando a odisseia acaba mal, surge a complicada questão da identificação.
"Os corpos retirados da água costumam estar em estado de decomposição avançada", explica o funcionário de Saint-Louis.
O número de migrantes que morrem no mar no mundo todo é "enorme", contando-se em milhares, mas a taxa de identificação de corpos continua sendo "muito baixa", reconheceu José Baraybar, do serviço de Medicina Legal do CICR em Paris durante uma reunião de especialistas em Dacar.
As populações se organizam em nível local.
"Com os moradores de Thiaroye", uma localidade próxima de Dacar, "falamos sobre esses desaparecidos, sobre como identificá-los por suas roupas, relógios, rosto, ou documentos de identidade", explica Dièye.
A tarefa é especialmente árdua, quando o drama ocorre a centenas, ou milhares de quilômetros.
"O problema principal são as informações 'ante mortem'. É impossível sem a informação de parentes próximos, sem saber quem era, se media 1,80 m, como estava vestido, ou se usava um anel, ou uma pulseira", afirma José Baraybar.
Além disso, em países de trânsito, como a Tunísia, "encontram-se todas as nacionalidades africanas", e os "migrantes apagam todos os seus dados para evitar serem enviados de volta para seu país de origem" se forem detidos, explica o doutor Moncef Hamdoun, chefe do serviço de Medicina Legal do Hospital Charles-Nicolle, de Túnis.
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