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Acordos de Oslo: 25 anos de frustração para palestinos e israelenses

Soldado israelense prepara metralhadora na fronteira sul de Israel com a Faixa de Gaza; acordo de Oslo, que tinha como objetivo pacificar o conflito entre Palestina e Israel, completa 25 anos nesta quarta (13) - AFP
Soldado israelense prepara metralhadora na fronteira sul de Israel com a Faixa de Gaza; acordo de Oslo, que tinha como objetivo pacificar o conflito entre Palestina e Israel, completa 25 anos nesta quarta (13) Imagem: AFP

Da AFP, em Paris

13/09/2018 07h59

Há 25 anos, em 13 de setembro de 1993, Israel e a Organização para Libertação da Palestina (OLP) assinaram os acordos de Oslo, em Washington, os quais levaram à criação da Autoridade Palestina como primeiro passo para um Estado palestino independente.

Um ano depois, os três artífices desses acordos - o então líder da OLP, Yasser Arafat, o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, e seu ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres - receberam o Prêmio Nobel da Paz.

Hoje, com os três ganhadores do Nobel mortos (Rabin foi assassinado em 1995, Arafat faleceu em 2004, e Peres, em 2016), as perspectivas de acordo são mais sombrias do que nunca.

Madri abre caminho 

No final de outubro de 1991, após a Guerra do Golfo, em que Israel e os países árabes se alinharam contra o Iraque e, enquanto a Intifada palestina estava em seu auge, celebra-se uma conferência de paz árabe-israelense em Madri.

Patrocinada por Washington e por Moscou, pela primeira vez israelenses e palestinos se sentam à mesa de negociações. Os palestinos comparecem em uma delegação conjunta com a Jordânia, já que Israel rejeitava a participação direta da OLP.

Uma série de negociações bilaterais e multilaterais se seguiu durante meses, em vários países, sem progressos reais, até que se travassem conversas secretas desde o início de 1993 em Oslo.

Sem os flashes fotográficos 

Em janeiro de 1993, Israel derrogou uma lei de 1986 que proibia qualquer contato com a OLP.

De janeiro a agosto, a Noruega é palco de pelo menos menos 14 reuniões secretas.

Em 27 de agosto, citando funcionários israelenses e palestinos, a AFP revela que Israel negocia secretamente com a OLP para alcançar um acordo sobre um regime de autonomia que começaria na Faixa de Gaza e Jericó (Cisjordânia ocupada).

Criancas palestinas jogam pedras de cima do muro nos soldados israelenses em Ramallah na Cisjordânia - Lalo de Almeira/Folhapress - Lalo de Almeira/Folhapress
Criancas palestinas jogam pedras de cima do muro nos soldados israelenses em Ramallah na Cisjordânia; assentamentos israelenses foram considerados ilegais pela ONU
Imagem: Lalo de Almeira/Folhapress


Para cumprir bem sua missão, o governo de Oslo, representado em particular por seu então ministro das Relações Exteriores, Johan Joergen Holst, apoia-se em seus contatos de velha data com Arafat e com os estreitos laços entre o Partido Trabalhista norueguês, no poder, e seu colega israelense.

'Gaza e Jericó primeiro' 

Em 29 de agosto, Israel anuncia um acordo, em linhas gerais, sobre uma autonomia palestina interina, que começa com a Faixa de Gaza e com uma pequena parte da Cisjordânia ocupada, no entorno de Jericó.

Em 10 de setembro, Israel reconhece a OLP como "representante do povo palestino" e, no dia 13, firma-se em Washington uma "Declaração de princípios sobre acordos interinos de autonomia" por cinco anos.

"O Governo do Estado de Israel e a equipe da OLP (...), representando o povo palestino, concordam que é hora de pôr fim a décadas de confrontação e conflito, reconhecer seus direitos legítimos e políticos mútuos, esforçar-se para viver uma coexistência pacífica (...) e alcançar um acordo de paz justo, global e duradouro", diz a introdução ao texto.

O acordo está assinado pelos dois principais artífices das negociações secretas, Shimon Peres e um alto funcionário da OLP, Mahmud Abbas, mais conhecido como Abu Mazen.

Aperto de mãos histórico

Os heróis são, porém, Yasser Arafat e Yitzhak Rabin.

No jardim da Casa Branca, os outrora inimigos se encontram e, sob o olhar do presidente Bill Clinton, Arafat estende a mão para Rabin. Este hesita por um momento antes de fazer o mesmo e selar um histórico aperto de mãos.

A cerimônia durou uma hora na presença de cerca de 3.000 pessoas. O espírito é de emoção e esperança.

Pela primeira vez, Israel e a OLP assinam um acordo que cria a esperança de uma paz global no Oriente Médio, após 45 anos de conflito, apesar das críticas dos opositores de ambas as partes e de alguns países árabes.

Em ponto morto 

Em 4 de maio de 1994, Arafat e Rabin lançam o período transitório de autonomia. Em julho, o líder da OLP retorna para os Territórios palestinos depois de 27 anos no exílio e estabelece a Autoridade Palestina.

Em setembro de 1995, firma-se, em Washington, um novo acordo interino (Oslo II) que estende a autonomia na Cisjordânia.

Em 4 de novembro, porém, Yitzhak Rabin é assassinado por um judeu ortodoxo de extrema direita, com o objetivo declarado de fazer o processo de Oslo fracassar.

Já Arafat se torna o bode expiatório dos israelenses, que o responsabilizam pela Segunda Intifada deflagrada no final de setembro de 2000.

Mediadas pelos EUA, as últimas negociações diretas foram retomadas em julho de 2013, depois de três anos de congelamento. Passados nove meses, terminam sem sucesso.

Em fevereiro de 2017, o presidente Donald Trump se afasta da solução de dois Estados para depois reconhecer Jerusalém como capital israelense. Desde então, os palestinos negam a Washington qualquer papel de mediador.

Oslo deveria abrir caminho para um Estado palestino, mas a Cisjordânia, ainda ocupada, e a Faixa de Gaza, nas mãos do movimento islamista Hamas, sofre um bloqueio total por parte de Israel, enquanto as colônias israelenses ganham terreno.

Direita afastou Israel de acordo

Vinte e cinco anos depois da assinatura do primeiro acordo de Oslo, que deveria obter a paz entre israelenses e palestinos, o Estado hebreu é comandado pelo governo mais à direita de sua história. Além disso, o número de colonos israelenses na Cisjordânia ocupada disparou e a paz parece mais distante do que nunca.

Em 1993, Arafat e Rabin deram o histórico aperto de mãos na Casa Branca, 110.066 colonos israelenses viviam na Cisjordânia e 6.234 na Faixa de Gaza, de acordo com os números da Paz Agora, ONG israelense contra a colonização.

Hoje não há colonos em Gaza, depois que foram deslocados em 2005 após uma decisão do então primeiro-ministro, Ariel Sharon, que dividiu profundamente os israelenses.

Jovem palestino observa destruição da Faixa de Gaza (Palestina), após bombardeios israelenses - AFP - AFP
Jovem palestino observa destruição da Faixa de Gaza (Palestina), após bombardeios israelenses
Imagem: AFP


Porém, mais de 600.000 coexistem mais ou menos em paz com três milhões de palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, anexada e ocupada por Israel.

No governo de Benjamin Netanyahu, a ala mais dura deixou clara sua oposição a um Estado palestino e criticou de modo forte os acordos de Oslo.

Terras bíblicas 

No ano passado, ao norte da Cisjordânia teve início a construção de Amichai, a primeira colônia aprovada oficialmente por um governo israelense desde 1991.

Até então, Israel prosseguia ampliando a colonização com a extensão das colônias já existentes ou legalizando as chamadas "selvagens", criadas sem a aprovação oficial das autoridades.

De acordo com o direito internacional, todas as colônias são ilegais, sem distinção.

Amichai deverá receber 40 famílias, expulsas em fevereiro de 2017 de uma destas colônias "selvagens", Amona, evacuada por decisão da Corte Suprema.