Lula diz que educação não é gasto e disputa anúncio de metrô com Tarcísio

Em evento em São Paulo com tom de campanha e na companhia do pré-candidato à prefeitura Guilherme Boulos (PSOL), o presidente Lula (PT) voltou a declarar que dinheiro para políticas sociais não são gastos, mas investimentos. Ele também travou disputa com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) acerca do anúncio de uma obra do metrô.

O que aconteceu

Lula afirmou que, ao custear educação, está preparando a juventude do país. Ele também defendeu o ensino técnico e não demonstrou preocupação com a pressão de empresários e parlamentares para cortar despesas.

O discurso reforça declarações dadas por Lula em entrevista ao UOL na quarta (3). Na ocasião, Lula contou que não iria para o céu se o aumento do salário mínimo não fosse estendido às aposentadorias e ao BPC —benefício pago a pessoas com deficiência e pessoas com mais de 65 anos que comprovem baixa renda.

As falas do presidente fizeram o dólar disparar e a bolsa cair. Os operadores financeiros continuaram contrariados durante toda a semana, e a moeda norte-americana chegou a ser cotada ontem a R$ 5,60. O valor no fechamento foi de R$ 5,55, o maior desde 10 de janeiro de 2022.

Não adianta vir falar pra mim: 'Lula, você está gastando muito em universidade, gastando muito em instituto, você está gastando muito com não sei das quantas'. Eu não estou gastando nada, eu estou investindo no futuro desse país.
Lula, em evento no Jardim Ângela (SP)

Disputa por anúncio do metrô

Lula fez as declarações no Jardim Ângela, bairro da zona sul de São Paulo onde foi anunciar obra do metrô. Mas a assinatura de contrato de financiamento federal para a obra não ocorreu, segundo o presidente, porque o prefeito e o governador de São Paulo não compareceram à cerimônia. Lula não deixou claro a qual contrato se referia.

O governo de SP alega que a obra é estadual e que a execução independe de recursos federais. Por isso, não haveria contrato a ser assinado. Apesar disso, a Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado informou que a gestão estadual pediu empréstimo de R$ 1,7 bilhão ao governo federal via PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para fazer a extensão da linha 5 do metrô até o Jardim Ângela. O valor, no entanto, ainda não foi liberado.

A secretaria destacou que, se não houver recurso federal, vai bancar a obra com outras fontes de financiamento. A expansão da linha 5-Lilás até o Jardim Ângela vai custar R$ 3,4 bilhões. O UOL procurou o Ministério das Cidades e a Secretaria de Comunicação do governo federal para comentar e aguarda retorno. No último dia 21, a mesma obra no metrô foi lançada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com a presença do prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB). Na ocasião, o contrato para a extensão foi assinado. A intervenção será feita pela Via Mobilidade, concessionária da linha.

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A disputa pela obra ganha contornos políticos ainda maiores em ano eleitoral. Tarcísio e Nunes são aliados na campanha pela reeleição do prefeito e, conforme as pesquisas, Boulos é o principal adversário.

"A gente aqui hoje ia assinar o contrato da estação do metrô para chegar até aqui. Mas o prefeito, que nos deu o terreno, não veio, e o governador. A Caixa Econômica Federal e o ministro das Cidades resolveram não assinar porque é importante fazer isso junto com o governador e o prefeito", disse Lula em discurso no Jardim Ângela.

Boulos também criticou os oponentes. Para o pré-candidato, Tarcísio e Nunes fizeram "caridade com o chapéu do outro". Ele justificou sua avaliação com base no fato de a expansão do metrô até o bairro Jardim Ângela ter recursos do governo federal.

O governador criticou o presidente em conversas com aliados, apurou o UOL. Tarcísio afirmou que o governo federal está "perdido" e mostra desconhecimento sobre a obra no Jardim Ângela.

Governador e prefeito foram convidados a participar do evento no Jardim Ângela. Nunes disse que não iria por ser um ato político. Em nota, a Secretaria de Comunicação afirmou que o governador não compareceu porque está em "roadshow na Europa e só retorna ao Brasil na próxima quarta, dia 3 de julho". Nunes não se posicionou sobre as declarações de Lula.

Lula se esforça para alavancar a pré-candidatura de Boulos (PSOL) na periferia de São Paulo. Hoje, o deputado esteve ao lado do presidente em quatro anúncios de obras. A referência à eleição ficou ainda mais clara com a presença de Marta Suplicy (PT), que será vice na chapa do deputado e foi muito elogiada por Lula.

O clima de campanha era tão forte que os dois fizeram corpo a corpo com o público. Durante o discurso, o presidente reclamou que o local do evento estava muito escuro e que, por isso, não via as pessoas. Ao final da cerimônia, Lula foi para o meio da plateia. Boulos seguiu com ele. No tumulto, três pessoas tiveram de ser retiradas pelo Corpo de Bombeiros. Uma delas chegou a desmaiar, mas se recuperou logo em seguida.

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Gritos de 'prefeito'

Outro momento com cara de campanha ocorreu quando Boulos foi chamado para discursar e o público começou a gritar "prefeito". Durante sua fala, o deputado elogiou a parceira de chapa e mencionou investimentos de Marta Suplicy (PT) em educação e saúde quando ela foi prefeita da cidade. Com dificuldades de obter votos na periferia, o pré-candidato tenta vincular seu nome ao da ex-prefeita.

O deputado também se escorou em obras do governo federal enquanto tratou de colar sua imagem à de Lula. Em mais um trecho da fala com tom de campanha, Boulos elogiou os moradores da zona sul de São Paulo, área onde ocorreu a cerimônia.

Ao terminar o discurso, os gritos de "prefeito" voltaram. A reação do público repetiu o que havia acontecido pela manhã na outra agenda da dupla Lula e Boulos na cidade.

O ministro da Educação Camilo Santana (PT) também ajudou e citou o parlamentar em seu discurso. A plateia aplaudiu assim que o nome de Boulos foi mencionado.

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Cuidado com a Justiça eleitoral

Mais cedo, Lula e Boulos estiveram na zona leste paulistana. O presidente anunciou investimentos de R$ 939 milhões na expansão de universidades e institutos federais em 40 municípios paulistas.

Durante os eventos da manhã e da tarde, Lula e Boulos fizeram discursos mencionando obras, mas com cuidado para não citar as eleições municipais. A exclusão do tema ocorre depois de serem condenados por fazer campanha antecipada em evento do 1º de Maio.

Lula foi multado em R$ 20 mil, e o deputado deve pagar R$ 15 mil. A lei proíbe pedido de voto antes do início do período eleitoral, que começa em agosto. Na ocasião, o presidente declarou que as eleições seriam uma verdadeira guerra" e pediu votos no aliado. As defesas de ambos disseram que irão recorrer da decisão.

Lula disse hoje que não falaria sobre Boulos porque foi multado.

Vaia tímida para Alckmin

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) recebeu uma vaia quando pegou o microfone para discursar. A iniciativa não ganhou tração e logo foi encerrada.

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Na sequência, ele recebeu aplausos, também tímidos, conforme elencava obras. O movimento crescente de aprovação atingiu seu ápice quando, com voz falhando, elogiou Janja da Silva por lhe entregar um copo de água.

Por fim, Alckmin parou de falar e ganhou um abraço de Lula. Mais aplausos do público.

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