Após caso Khashoggi, Arábia Saudita perde influência em Washington
Washington, 23 Out 2018 (AFP) - Quando os Estados Unidos foram atacados em 11 de setembro de 2001 por 19 pessoas, 15 deles sauditas, a Arábia Saudita intensificou seu lobby para preservar seu relacionamento com Washington.
Depois de investir mais de 100 milhões de dólares para ter influência nos Estados Unidos, o reino petroleiro enfrenta uma crise de influência que não esperava: legisladores americanos que outrora se aproximavam de príncipes sauditas e instituições que aceitavam dinheiro de Riad buscam se distanciar.
O assassinato no consulado de Riad em Istambul do jornalista saudita exilado Jamal Khashoggi, que frequentava círculos de pessoas influentes em Washington, gerou um mal-estar com a Arábia Saudita que não se via há anos.
Vários legisladores propuseram ações antes impensadas, como suspender a venda de armas ao reino - o maior comprador dos Estados Unidos - e expulsar o seu embaixador, mas, por enquanto, parece pouco provável que o caso tenha repercussões relevantes, já que o presidente Donald Trump pediu que preservem os laços com o país.
Os sauditas costumavam se mostrar confiantes no seu poder de lobby em Washington. Em março, o Senado rejeitou por pouco uma proposta de acabar com o apoio dos Estados Unidos à campanha dirigida pelos sauditas contra os rebeldes no Iêmen, que, segundo a ONU, matou milhares de civis.
Pouco depois, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que com 33 anos se define como um reformista, visitou os Estados Unidos com uma aura triunfal, e se reuniu com importantes figuras, de Trump a Oprah Winfrey.
"Vários americanos não sabem muito sobre a Arábia Saudita. Não é um grande destino para viajar, por muitas razões, e foi fácil para empresas de relações públicas assumir esse papel", disse Ben Freeman, diretor do Foreign Influence Transparency Initiative do Centro de Política Internacional.
Mas "Jamal Khashoggi vivia aqui e acho que muitos jornalistas viram isso de forma pessoal, pois um dos seus foi atacado", analisou.
- Talão de cheques na mão -Embora os valores do Estado muçulmano sejam distantes para a maioria dos americanos, a Arábia Saudita penetrou em Washington apoiando com o seu talão de cheques vários think tanks, cortejando jornalistas e contratando ex-legisladores dispostos a ganhar dinheiro como lobistas.
A Arábia Saudita gastou mais de 18 milhões de dólares no ano passado, além de outros 6 milhões ao longo de 2018, para ter influência em Washington através de seu governo ou de seus sócios, segundo o Centro de Política Responsável, que coleta esses dados.
Entre esses legisladores destacam-se - segundo as solicitações de permissão ao Departamento de Justiça - o ex-senador republicano do Minnesota Norm Coleman, que assinou um acordo de 125.000 dólares por mês este ano para representar a embaixada saudita; o ex-representante Buck McKeon, que até 2015 presidiu o Comitê das Forças Armadas da Câmara dos Deputados, e cuja empresa recebe um pagamento de 50.000 dólares por mês de Riad. Nenhum deles respondeu aos pedidos de comentários.
O chefe de correspondente da CNN em Washington, Jake Tapper, um dos mais reconhecidos jornalistas de televisão nos Estados Unidos, disse no Twitter que a embaixada saudita o contactou depois que o time de futebol americano do qual é torcedor, o Philadelphia Eagles, se classificou para o Super Bowl, e ofereceu levá-lo em um voo para ver a partida como convidado. Tapper recusou. "Mas eu me questionei: quem disse sim?", disse.
Desde o assassinato de Khashoggi, ao menos quatro empresas de lobby disseram que não continuarão representando a Arábia Saudita. Entre os que encerraram a relação está o advogado Theodore Olson, que no passado representou George W. Bush na Suprema Corte e cuja empresa teria faturado ao menos 250.000 dólares.
Os centros de análise de Washington se afastaram discretamente da Arábia Saudita. O Instituto do Oriente Médio, que durante muito tempo esteve associado com Riad, expressou "comoção e indignação" pela morte de Khashoggi, que frequentemente participava de seus painéis, e cortou seus vínculos.
A prestigiosa Brookings Institution finalizou um contrato com o reino, enquanto o também ponderado Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais disse que estava revisando a sua relação.
Depois de investir mais de 100 milhões de dólares para ter influência nos Estados Unidos, o reino petroleiro enfrenta uma crise de influência que não esperava: legisladores americanos que outrora se aproximavam de príncipes sauditas e instituições que aceitavam dinheiro de Riad buscam se distanciar.
O assassinato no consulado de Riad em Istambul do jornalista saudita exilado Jamal Khashoggi, que frequentava círculos de pessoas influentes em Washington, gerou um mal-estar com a Arábia Saudita que não se via há anos.
Vários legisladores propuseram ações antes impensadas, como suspender a venda de armas ao reino - o maior comprador dos Estados Unidos - e expulsar o seu embaixador, mas, por enquanto, parece pouco provável que o caso tenha repercussões relevantes, já que o presidente Donald Trump pediu que preservem os laços com o país.
Os sauditas costumavam se mostrar confiantes no seu poder de lobby em Washington. Em março, o Senado rejeitou por pouco uma proposta de acabar com o apoio dos Estados Unidos à campanha dirigida pelos sauditas contra os rebeldes no Iêmen, que, segundo a ONU, matou milhares de civis.
Pouco depois, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que com 33 anos se define como um reformista, visitou os Estados Unidos com uma aura triunfal, e se reuniu com importantes figuras, de Trump a Oprah Winfrey.
"Vários americanos não sabem muito sobre a Arábia Saudita. Não é um grande destino para viajar, por muitas razões, e foi fácil para empresas de relações públicas assumir esse papel", disse Ben Freeman, diretor do Foreign Influence Transparency Initiative do Centro de Política Internacional.
Mas "Jamal Khashoggi vivia aqui e acho que muitos jornalistas viram isso de forma pessoal, pois um dos seus foi atacado", analisou.
- Talão de cheques na mão -Embora os valores do Estado muçulmano sejam distantes para a maioria dos americanos, a Arábia Saudita penetrou em Washington apoiando com o seu talão de cheques vários think tanks, cortejando jornalistas e contratando ex-legisladores dispostos a ganhar dinheiro como lobistas.
A Arábia Saudita gastou mais de 18 milhões de dólares no ano passado, além de outros 6 milhões ao longo de 2018, para ter influência em Washington através de seu governo ou de seus sócios, segundo o Centro de Política Responsável, que coleta esses dados.
Entre esses legisladores destacam-se - segundo as solicitações de permissão ao Departamento de Justiça - o ex-senador republicano do Minnesota Norm Coleman, que assinou um acordo de 125.000 dólares por mês este ano para representar a embaixada saudita; o ex-representante Buck McKeon, que até 2015 presidiu o Comitê das Forças Armadas da Câmara dos Deputados, e cuja empresa recebe um pagamento de 50.000 dólares por mês de Riad. Nenhum deles respondeu aos pedidos de comentários.
O chefe de correspondente da CNN em Washington, Jake Tapper, um dos mais reconhecidos jornalistas de televisão nos Estados Unidos, disse no Twitter que a embaixada saudita o contactou depois que o time de futebol americano do qual é torcedor, o Philadelphia Eagles, se classificou para o Super Bowl, e ofereceu levá-lo em um voo para ver a partida como convidado. Tapper recusou. "Mas eu me questionei: quem disse sim?", disse.
Desde o assassinato de Khashoggi, ao menos quatro empresas de lobby disseram que não continuarão representando a Arábia Saudita. Entre os que encerraram a relação está o advogado Theodore Olson, que no passado representou George W. Bush na Suprema Corte e cuja empresa teria faturado ao menos 250.000 dólares.
Os centros de análise de Washington se afastaram discretamente da Arábia Saudita. O Instituto do Oriente Médio, que durante muito tempo esteve associado com Riad, expressou "comoção e indignação" pela morte de Khashoggi, que frequentemente participava de seus painéis, e cortou seus vínculos.
A prestigiosa Brookings Institution finalizou um contrato com o reino, enquanto o também ponderado Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais disse que estava revisando a sua relação.
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