América Latina diante do 'efeito Bolsonaro'
Montevidéu, 29 Out 2018 (AFP) - Os vizinhos do Brasil se preparam para um "efeito Bolsonaro" regional, após a vitória do líder de direita nas eleições presidenciais de domingo.
Analistas avaliam que os efeitos do resultado eleitoral deste domingo terão reflexos em toda a América Latina em matéria de política externa, segurança, comércio e até nas estratégias das campanhas políticas.
A vitória de Bolsonaro confirma o avanço dos governos de direita sobre a esquerda hostil aos Estados Unidos, disse à AFP o comentarista argentino Pablo Seman, que citou as recentes eleições de Mauricio Macri na Argentina, Sebastián Piñera no Chile e Mario Abdo Benítez no Paraguai.
"Os Estados Unidos estão retomando o terreno que haviam perdido na América Latina, em um contexto de luta global com a China pelos recursos naturais, mercados e apoio político. Não há lugar na América Latina onde Washington não tenha recuperado a posição perdida" na década de 2000, assinalou Seman.
Com o presidente republicano Donald Trump na Casa Branca, "os homens fortes têm vantagem" na política externa dos Estados Unidos, disse à AFP o analista americano Michael Shifter.
Mas a vitória de Bolsonaro aumenta os temores do retorno de governos autoritários a uma região que já enfrentou uma série de ditaduras militares.
Para Mark Weisbrot, a mudança será moderada.
"Este é um cara que disse que a ditadura brasileira não matou o suficiente, que precisaria ter matado mais 30 mil pessoas, que a polícia deveria poder matar suspeitos, que a esquerda terá a opção de sair do país ou ser presa. Mas ele fará estas coisas? Acredito que não implementará todas as ameaças", declarou Weisbrot, do Centro para a Investigação de Políticas Econômicas em Washington.
- 'Não tão extremo' -"A mudança para um governo autoritário pode não ser tão extrema como muitos temem", avaliou Shifter, chefe do grupo de especialistas do Diálogo Interamericano, porque os partidos tradicionais no Congresso ainda poderão proporcionar algum controle e equilíbrio.
Poderá haver um "efeito Bolsonaro modesto" nos países vizinhos, especialmente naqueles que já sofreram com ditaduras militares, "mas cada país tem sua própria dinâmica particular que dá forma a sua direção política. Qualquer contágio seria limitado".
Iván Briscoe, diretor para América Latina do International Crisis Group, disse à AFP que a eleição do capitão da reserva é parte de um gradual "afastamento da democracia" na região, citando como exemplos mais notáveis Venezuela e Nicarágua.
Bolsonaro exercendo o poder em um contexto social volátil no Brasil é algo alarmante para alguns.
"Quando você tem um governo autoritário e militar populista neste contexto, ele não é apenas um personagem cômico, como costuma ser Trump, na realidade é um sério adversário para os direitos civis, para os direitos humanos e as liberdades básicas", avaliou Briscoe.
Mas Bolsonaro também tem muito em comum com o presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador: "É o atrativo do líder forte, do programa político vago, da promessa do 'confie em mim que eu farei o trabalho', do estilo...".
- As escolhas comerciais de Bolsonaro -Bolsonaro se comprometeu a implementar reformas de livre mercado na maior economia da região e recentemente acusou a China, seu maior parceiro comercial, de "comprar o Brasil".
Pequim tem desenvolvido uma estratégia agressiva na região nos últimos anos para atrair os líderes latino-americanos.
"Oferece um investimento muito mais direto, créditos e ajuda aos países em desenvolvimento muito além dos EUA. E tem uma política de não ingerência nos assuntos internos" destes países, assinalou Weisbrot.
Independentemente de sua política comercial com a China, Bolsonaro deixa na expectativa o futuro do bloco regional do Mercosul, integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
"Se Bolsonaro segue adiante com sua ideia de permitir que os membros persigam acordos comerciais bilaterais e não como bloco, será um grande golpe", avaliou Shifter.
Segundo Weisbrot, Bolsonaro "seguirá Macri e outros governos de direita na busca de políticas comerciais que a administração Trump favorece".
Briscoe concorda em que um líder com um enfoque de "Brasil Primeiro" possivelmente "não fará maravilhas pelo Mercosul".
- Pior dos casos -Independentemente do atrativo de Bolsonaro para os mercados, Shifter diz que com base em sua retórica e antecedentes de campanha podemos esperar "uma considerável erosão das instituições democráticas".
Isto significa que Bolsonaro apoia "movimentos de direita e fascistas em todas as partes, e também (é) um firme partidário da política externa do governo de Trump, que busca se livrar dos governos restantes de esquerda" na região, avalia Weisbrot.
No pior dos casos Bolsonaro poderá se tornar o equivalente na América do Sul do presidente filipino Rodrigo Duterte, cuja guerra contra as drogas já provocou a morte de 20 mil pessoas desde julho de 2016.
Em um país onde a polícia mata cerca de 5 mil pessoas anualmente, "se Bolsonaro e seus oficiais dizem (...) que estão livres para fazer o que querem, que serão protegidos na justiça", poderá ocorrer uma violência" sem precedentes, avaliou Briscoe.
Analistas avaliam que os efeitos do resultado eleitoral deste domingo terão reflexos em toda a América Latina em matéria de política externa, segurança, comércio e até nas estratégias das campanhas políticas.
A vitória de Bolsonaro confirma o avanço dos governos de direita sobre a esquerda hostil aos Estados Unidos, disse à AFP o comentarista argentino Pablo Seman, que citou as recentes eleições de Mauricio Macri na Argentina, Sebastián Piñera no Chile e Mario Abdo Benítez no Paraguai.
"Os Estados Unidos estão retomando o terreno que haviam perdido na América Latina, em um contexto de luta global com a China pelos recursos naturais, mercados e apoio político. Não há lugar na América Latina onde Washington não tenha recuperado a posição perdida" na década de 2000, assinalou Seman.
Com o presidente republicano Donald Trump na Casa Branca, "os homens fortes têm vantagem" na política externa dos Estados Unidos, disse à AFP o analista americano Michael Shifter.
Mas a vitória de Bolsonaro aumenta os temores do retorno de governos autoritários a uma região que já enfrentou uma série de ditaduras militares.
Para Mark Weisbrot, a mudança será moderada.
"Este é um cara que disse que a ditadura brasileira não matou o suficiente, que precisaria ter matado mais 30 mil pessoas, que a polícia deveria poder matar suspeitos, que a esquerda terá a opção de sair do país ou ser presa. Mas ele fará estas coisas? Acredito que não implementará todas as ameaças", declarou Weisbrot, do Centro para a Investigação de Políticas Econômicas em Washington.
- 'Não tão extremo' -"A mudança para um governo autoritário pode não ser tão extrema como muitos temem", avaliou Shifter, chefe do grupo de especialistas do Diálogo Interamericano, porque os partidos tradicionais no Congresso ainda poderão proporcionar algum controle e equilíbrio.
Poderá haver um "efeito Bolsonaro modesto" nos países vizinhos, especialmente naqueles que já sofreram com ditaduras militares, "mas cada país tem sua própria dinâmica particular que dá forma a sua direção política. Qualquer contágio seria limitado".
Iván Briscoe, diretor para América Latina do International Crisis Group, disse à AFP que a eleição do capitão da reserva é parte de um gradual "afastamento da democracia" na região, citando como exemplos mais notáveis Venezuela e Nicarágua.
Bolsonaro exercendo o poder em um contexto social volátil no Brasil é algo alarmante para alguns.
"Quando você tem um governo autoritário e militar populista neste contexto, ele não é apenas um personagem cômico, como costuma ser Trump, na realidade é um sério adversário para os direitos civis, para os direitos humanos e as liberdades básicas", avaliou Briscoe.
Mas Bolsonaro também tem muito em comum com o presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador: "É o atrativo do líder forte, do programa político vago, da promessa do 'confie em mim que eu farei o trabalho', do estilo...".
- As escolhas comerciais de Bolsonaro -Bolsonaro se comprometeu a implementar reformas de livre mercado na maior economia da região e recentemente acusou a China, seu maior parceiro comercial, de "comprar o Brasil".
Pequim tem desenvolvido uma estratégia agressiva na região nos últimos anos para atrair os líderes latino-americanos.
"Oferece um investimento muito mais direto, créditos e ajuda aos países em desenvolvimento muito além dos EUA. E tem uma política de não ingerência nos assuntos internos" destes países, assinalou Weisbrot.
Independentemente de sua política comercial com a China, Bolsonaro deixa na expectativa o futuro do bloco regional do Mercosul, integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
"Se Bolsonaro segue adiante com sua ideia de permitir que os membros persigam acordos comerciais bilaterais e não como bloco, será um grande golpe", avaliou Shifter.
Segundo Weisbrot, Bolsonaro "seguirá Macri e outros governos de direita na busca de políticas comerciais que a administração Trump favorece".
Briscoe concorda em que um líder com um enfoque de "Brasil Primeiro" possivelmente "não fará maravilhas pelo Mercosul".
- Pior dos casos -Independentemente do atrativo de Bolsonaro para os mercados, Shifter diz que com base em sua retórica e antecedentes de campanha podemos esperar "uma considerável erosão das instituições democráticas".
Isto significa que Bolsonaro apoia "movimentos de direita e fascistas em todas as partes, e também (é) um firme partidário da política externa do governo de Trump, que busca se livrar dos governos restantes de esquerda" na região, avalia Weisbrot.
No pior dos casos Bolsonaro poderá se tornar o equivalente na América do Sul do presidente filipino Rodrigo Duterte, cuja guerra contra as drogas já provocou a morte de 20 mil pessoas desde julho de 2016.
Em um país onde a polícia mata cerca de 5 mil pessoas anualmente, "se Bolsonaro e seus oficiais dizem (...) que estão livres para fazer o que querem, que serão protegidos na justiça", poderá ocorrer uma violência" sem precedentes, avaliou Briscoe.
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