O triunfo de Bolsonaro no Brasil, uma boa notícia para Trump
Washington, 30 Out 2018 (AFP) - O triunfo de Jair Bolsonaro no Brasil, a maior economia da América Latina, é uma boa notícia para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vê neste líder de extrema-direita um aliado no cenário internacional.
Trump não escondeu sua alegria ao parabenizar o capitão da reserva de 63 anos após sua vitória no domingo, com pouco mais de 55% dos votos válidos, "uma margem considerável", escreve no Twitter, ao destacar a "excelente" conversa que tiveram por telefone.
Os Estados Unidos e o Brasil vão trabalhar juntos em assuntos comerciais, militares "e em todos os demais", assegurou Trump.
O presidente americano tem razões para comemorar: o resultado no Brasil justifica o seu posicionamento protecionista e crítico da política tradicional, indicou à AFP Christopher Sabatini, especialista em América Latina da Universidade de Columbia em Nova York.
Bolsonaro "expande a coalizão de 'outsiders' populistas de extrema direita que inclui a Polônia, Hungria e Filipinas", explica.
Os Estados Unidos "serão um parceiro ainda mais próximo do Brasil durante o governo" do presidente eleito, garantiu ao jornal Folha de S. Paulo Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e próximo de líderes nacionalistas como o italiano Matteo Salvini e o britânico pró-Brexit Nigel Farage.
Michael Shifter, diretor do centro de análise Diálogo Interamericano, também vê como "provável" que Trump e Bolsonaro se deem bem e compartilhem posições "de linha dura".
"Nenhum dos dois acredita na luta contra as mudanças climáticas e ambos têm o apoio da comunidade evangélica e são pró-Israel", afirma.
Defensor da agroindústria, Bolsonaro prometeu favorecer os investidores em detrimento dos ecologistas na floresta amazônica e já ameaçou sair do Acordo do Paris, como fez Trump, apesar de ter voltado atrás.
Também se pronunciou a favor da transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv em Jerusalém, depois que Trump reconheceu a Cidade Sagrada como capital de Israel.
- "Sinergias" sobre a Venezuela -"Também podemos ver sinergias entre Bolsonaro e Trump em relação à Venezuela, uma área em que ambos podem assumir posições mais firmes", diz Roberta Braga, diretora associada do centro latino-americano do Atlantic Council.
A Venezuela, governada por Nicolás Maduro, que Bolsonaro costuma usar como exemplo negativo de políticas esquerdistas, enfrenta uma grave crise econômica, política e social que levou 1,9 milhão de pessoas a deixar o país desde 2015, segundo a ONU, milhares deles para o Brasil.
"Teremos que ver se Bolsonaro vai além de emitir declarações e se aceitará os esforços internacionais nas fronteiras da Venezuela", aponta Joel Velasco, diretor do grupo de estratégia Albright Stonebridge e ex-assessor do embaixador dos Estados Unidos no Brasil.
Bolsonaro descartou na segunda-feira apoio a uma eventual intervenção militar na Venezuela, apesar de denunciar as "sérias dificuldades" causadas pela "ditadura" de Maduro.
O Brasil tem sido tradicionalmente um país "não intervencionista", e Bolsonaro provavelmente priorizará as políticas nacionais, acredita Braga.
Embora compartilhe a rejeição de Trump à ascensão da China, que ele acusou de "comprar o Brasil", o presidente eleito do Brasil não poderá atacar o gigante asiático como Washington.
"Bolsonaro terá que ser muito mais cuidadoso com o que diz, porque tem uma economia muito mais frágil", observa Velasco.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e o segundo maior exportador de soja e, com a China e os países islâmicos como mercados vitais, terá que pensar duas vezes sobre o impacto de suas ações, alerta.
Em relação à China, Bolsonaro "percorrerá uma linha delicada", opina Sabatini. "Manterá a cabeça abaixada".
- "Trump dos trópicos"? -Como Trump, Bolsonaro se destacou por sua retórica polêmica e muitas vezes agressiva, foi acusado de misógino e racista e é considerado um inimigo da imprensa tradicional.
Seu apego aos valores cristãos e sua promessa de uma "mão forte" contra o crime e a corrupção, também lhe renderam comparações com o magnata americano, de quem ele se declarou um "admirador".
Mas, apesar das semelhanças, muitos negam que Bolsonaro seja o "Trump dos trópicos".
"Esta caracterização simplifica a realidade política e econômica do Brasil, muito diferente da dos Estados Unidos", afirma Braga, apontando para o desemprego "galopante" e uma economia "anêmica", a corrupção e a insegurança como os principais problemas enfrentados no gigante sul-americano.
Shifter ressaltou que a base de apoio também é diferente entre os dois: Bolsonaro é apoiado pela classe alta e pelo setor empresarial, já Trump, pela população rural e de baixa renda.
"Ambos são 'anti-establishment' e politicamente incorretos. Mas Trump tem experiência executiva de negócios e lidera um importante partido político, Bolsonaro tem sido um estatista com antecedentes militares", aponta Shifter.
Perguntada sobre a comparação entre os dois, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, não hesitou: "Há um único Donald Trump".
sct-ad/an/rsr/yow/mr
Trump não escondeu sua alegria ao parabenizar o capitão da reserva de 63 anos após sua vitória no domingo, com pouco mais de 55% dos votos válidos, "uma margem considerável", escreve no Twitter, ao destacar a "excelente" conversa que tiveram por telefone.
Os Estados Unidos e o Brasil vão trabalhar juntos em assuntos comerciais, militares "e em todos os demais", assegurou Trump.
O presidente americano tem razões para comemorar: o resultado no Brasil justifica o seu posicionamento protecionista e crítico da política tradicional, indicou à AFP Christopher Sabatini, especialista em América Latina da Universidade de Columbia em Nova York.
Bolsonaro "expande a coalizão de 'outsiders' populistas de extrema direita que inclui a Polônia, Hungria e Filipinas", explica.
Os Estados Unidos "serão um parceiro ainda mais próximo do Brasil durante o governo" do presidente eleito, garantiu ao jornal Folha de S. Paulo Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e próximo de líderes nacionalistas como o italiano Matteo Salvini e o britânico pró-Brexit Nigel Farage.
Michael Shifter, diretor do centro de análise Diálogo Interamericano, também vê como "provável" que Trump e Bolsonaro se deem bem e compartilhem posições "de linha dura".
"Nenhum dos dois acredita na luta contra as mudanças climáticas e ambos têm o apoio da comunidade evangélica e são pró-Israel", afirma.
Defensor da agroindústria, Bolsonaro prometeu favorecer os investidores em detrimento dos ecologistas na floresta amazônica e já ameaçou sair do Acordo do Paris, como fez Trump, apesar de ter voltado atrás.
Também se pronunciou a favor da transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv em Jerusalém, depois que Trump reconheceu a Cidade Sagrada como capital de Israel.
- "Sinergias" sobre a Venezuela -"Também podemos ver sinergias entre Bolsonaro e Trump em relação à Venezuela, uma área em que ambos podem assumir posições mais firmes", diz Roberta Braga, diretora associada do centro latino-americano do Atlantic Council.
A Venezuela, governada por Nicolás Maduro, que Bolsonaro costuma usar como exemplo negativo de políticas esquerdistas, enfrenta uma grave crise econômica, política e social que levou 1,9 milhão de pessoas a deixar o país desde 2015, segundo a ONU, milhares deles para o Brasil.
"Teremos que ver se Bolsonaro vai além de emitir declarações e se aceitará os esforços internacionais nas fronteiras da Venezuela", aponta Joel Velasco, diretor do grupo de estratégia Albright Stonebridge e ex-assessor do embaixador dos Estados Unidos no Brasil.
Bolsonaro descartou na segunda-feira apoio a uma eventual intervenção militar na Venezuela, apesar de denunciar as "sérias dificuldades" causadas pela "ditadura" de Maduro.
O Brasil tem sido tradicionalmente um país "não intervencionista", e Bolsonaro provavelmente priorizará as políticas nacionais, acredita Braga.
Embora compartilhe a rejeição de Trump à ascensão da China, que ele acusou de "comprar o Brasil", o presidente eleito do Brasil não poderá atacar o gigante asiático como Washington.
"Bolsonaro terá que ser muito mais cuidadoso com o que diz, porque tem uma economia muito mais frágil", observa Velasco.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e o segundo maior exportador de soja e, com a China e os países islâmicos como mercados vitais, terá que pensar duas vezes sobre o impacto de suas ações, alerta.
Em relação à China, Bolsonaro "percorrerá uma linha delicada", opina Sabatini. "Manterá a cabeça abaixada".
- "Trump dos trópicos"? -Como Trump, Bolsonaro se destacou por sua retórica polêmica e muitas vezes agressiva, foi acusado de misógino e racista e é considerado um inimigo da imprensa tradicional.
Seu apego aos valores cristãos e sua promessa de uma "mão forte" contra o crime e a corrupção, também lhe renderam comparações com o magnata americano, de quem ele se declarou um "admirador".
Mas, apesar das semelhanças, muitos negam que Bolsonaro seja o "Trump dos trópicos".
"Esta caracterização simplifica a realidade política e econômica do Brasil, muito diferente da dos Estados Unidos", afirma Braga, apontando para o desemprego "galopante" e uma economia "anêmica", a corrupção e a insegurança como os principais problemas enfrentados no gigante sul-americano.
Shifter ressaltou que a base de apoio também é diferente entre os dois: Bolsonaro é apoiado pela classe alta e pelo setor empresarial, já Trump, pela população rural e de baixa renda.
"Ambos são 'anti-establishment' e politicamente incorretos. Mas Trump tem experiência executiva de negócios e lidera um importante partido político, Bolsonaro tem sido um estatista com antecedentes militares", aponta Shifter.
Perguntada sobre a comparação entre os dois, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, não hesitou: "Há um único Donald Trump".
sct-ad/an/rsr/yow/mr
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.