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Presidente do Chile suspende aumento da tarifa de metrô de Santiago

19/10/2019 20h13Atualizada em 20/10/2019 07h11

Resumo da notícia

  • Sebastán Piñera anunciou neste sábado suspensão do reajuste após violentos protestos na capital do país
  • De acordo com as informações oficiais, os incidentes na capital deixaram 308 detidos e 156 policiais e 11 civis feridos
  • Protesto que inicialmente era contra o reajuste no preço da passagem do metrô se transformou em reclamação contra modelo econômico do país

O presidente do Chile, Sebastán Piñera, anunciou neste sábado a suspensão do aumento da tarifa do metrô de Santiago, que resultou em violentos protestos na capital do país.

"Quero anunciar hoje que vamos suspender o aumento das passagens do metrô", disse o presidente do Chile, em uma mensagem no palácio presidencial de La Moneda, enquanto os protestos aconteciam em vários pontos de Santiago.

Houve novos confrontos entre manifestantes e forças de segurança em várias partes de Santiago, apesar de o governo chileno ter decretado "estado de emergência" e ordenado a presença de militares nas ruas da capital após violentos protestos registrados na véspera contra o aumento da passagem do metrô.

O que começou como um pacífico panelaço, com milhares de pessoas nas ruas, acabou virando um confronto entre manifestantes mascarados e policiais e militares em vários pontos da capital chilena.

Por conta dos confrontos, os ônibus pararam de circular na cidade, deixando a população praticamente sem transporte público, pois o serviço de metrô está paralisado devido à destruição de várias estações.

O protesto que inicialmente era sobre o reajuste no preço da passagem do metrô logo derivou para reclamação contra o modelo econômico do país, onde o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, contra a desigualdade social, contra os baixos valores das aposentadorias e a alta dos serviços básicos, entre outras críticas ao presidente Sebastián Piñera.

Na véspera, uma foto de Piñera jantando numa pizzaria ao lado da família durante os protestos em Santiago elevou a fúria dos ativistas num país com um longo histórico de protestos violentos, mas que nos últimos anos seguia em relativa calma.

O presidente também foi alvo de críticas por demorar em tomar uma decisão em relação à virulência das manifestações, decretando apenas no início da madrugada deste sábado o estado de emergência.

Metrô depredado

Orgulho dos chilenos e principal transporte público da capital do país, o metrô de Santiago está paralisado por conta da destruição de mais de 40 estações durante os violentos protestos realizados na sexta-feira (18) contra o aumento da passagem.

O centro de Santiago amanheceu em meio a destroços, com muito lixo espalhado, carcaças de ônibus queimados e várias bicicletas de aluguel destruídas nas ruas.

No início da manhã, os militares já patrulhavam alguns pontos da cidade, mas não havia um cordão de isolamento em frente ao palácio presidencial, apesar da segurança reforçada no local, onde o presidente Sebastián Piñera decretou durante a noite de ontem "estado de emergência" por 15 dias.

Os violentos protestos e a depredação de estações do metro e sede de órgãos públicos levaram o presidente a ordenar a presença de militares nas ruas pela primeira vez desde o retorno da democracia (1990) por protestos sociais.

Segundo o general a cargo da operação, Javier Iturriaga, cerca de 500 militares estão patrulhando a capital, que na véspera foi palco de saques, confrontos e incêndios em vários pontos.

A CIDH, ente autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), afirmou neste sábado que acompanha "com preocupação" as demonstrações de descontentamento social no Chile.

"O Estado de Emergência não deve impedir as pessoas de exercerem o direito de se reunir e de se manifestar pacificamente, enquanto que o Estado do Chile tem o dever de garantir a ordem pública, no marco do respeito aos direitos humanos", disse à CIDH em sua conta no Twitter.

Panelaços

Milhares de pessoas participaram do panelaço neste sábado (19) na capital e em outras cidades do Chile. No centro de Santiago e bairros de classe média como Ñuñoa, Providencia e Maipú, moradores batendo em panelas em apoio ao movimento contrário ao aumento das passagens do metrô.

Em outras regiões e cidades como Valparaíso e Viña del Mar também ocorreram manifestações com milhares de pessoas gritando palavras de ordem contra o presidente Sebastián Piñera mas sem causar tumulto.

Dia de fúria

Convocados inicialmente pelas redes sociais, os protestos começaram por conta do aumento nos bilhetes do metrô, que passaram de 800 para 830 pesos (cerca de 4,80 reais) nos horários de pico. Desde 2010, não havia um reajuste dessa proporção. Segundo informações oficiais, o acerto foi feito por conta da alta do preço do petróleo e dólar e na modernização do sistema.

As manifestações contaram inicialmente com a participação de estudantes que foram às estações e tentavam pular catracas de acesso às plataformas de embarque.

Horas mais tarde, os protestos aumentaram e geraram incidentes maiores, com manifestantes atirando paus e pedras em direção às forças policiais, que reagiram com o uso de carros de choque. A sede do governo foi cercada por um perímetro de segurança.

Mas o maior alvo da destruição foi o metrô, que teve 41 estações destruídas, algumas delas completamente queimadas.

A sede da ENEL — empresa de energia elétrica do Chile — foi incendiado e um supermercado próximo foi atacado e saqueado.

De acordo com as informações oficiais, os incidentes na capital deixaram 308 detidos e 156 policiais e 11 civis feridos.

Com a maior extensão da América do Sul, com cerca de 140 km, o metrô é uma fonte de orgulho para os chilenos e o principal meio de transporte público, utilizado diariamente por cerca de três milhões dos sete milhões de habitantes da capital.

O sistema permanecerá fechado neste sábado e domingo, e as autoridades não tem previsão de retorno da operação.