Rússia se torna peça-chave para solução política do conflito na Síria
Genebra, 1 Nov 2019 (AFP) - A Rússia, agora a principal força militar na Síria, se tornou a peça-chave para buscar uma solução política para o conflito no país e para sua reconstrução, segundo analistas.
Desde a quarta-feira, os 150 membros do Comitê Constitucional da Síria, encarregados de reformar a constituição de 2012, estão reunidos em Genebra sob a mediação do emissário especial da ONU para a Síria, o norueguês Geir Pedersen.
Pela primeira vez desde o início do conflito em 2011, representantes do governo de Damasco concordaram em negociar com a oposição, uma mudança de atitude que só foi possível devido à influência da Rússia sobre o presidente sírio, Bashar Al Assad.
Um dia antes da reunião do Comitê, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, visitou Genebra acompanhado dos chanceleres iraniano e turco, uma presença incômoda para o emissário da ONU.
A ideia de um comitê para reformar a Constituição foi uma proposta de Moscou no início de 2018, durante uma conferência em Sochi (Rússia) com representantes do governo e da oposição.
A Rússia e o Irã, os principais aliados de Damasco, bem como a Turquia, que apoia a oposição, estão trabalhando juntos no chamado processo de paz de Astana, lançado em 2017 após o fracasso de várias rodadas de negociações organizadas pela ONU em Genebra.
Mas a Rússia quer que todos os acordos passem por Genebra e tenham o aval da ONU.
"Na prática, é a Rússia que dirige o processo constitucional ... e qualquer progresso fortalecerá muito seu status", disse à AFP Samuel Ramani, especialista em questões sírias.
Desde que iniciou a intervenção militar na Síria no final de 2015, a Rússia conseguiu reverter o curso da guerra a favor do regime de Damasco.
A oposição síria, dividida e já sem apoio ocidental, permanece apenas na área de Idlib (noroeste) e nas regiões norte, perto da Turquia.
"Depois de demonstrar sua capacidade militar, a Rússia agora quer alcançar sucessos políticos e propor uma constituição para o resto do mundo", disse à AFP Yahya Al Aridi, representante da oposição no Comitê Constitucional.
Segundo Aridi, o papel da Rússia também beneficia a oposição porque Moscou "pressionou o regime a aderir ao processo político depois de negá-lo por um longo tempo".
Na terça-feira, uma delegação da oposição se reuniu em Genebra com o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Vershinin, e com o enviado especial russo para a Síria, Alexander Lavrenthiev.
Segundo o pesquisador e especialista em questões sírias Fabrice Balanche, a presença do chanceler russo em Genebra apresenta uma mensagem "explícita" de que esta negociação "passa agora pela Rússia".
"A Rússia quer que o regime recupere a legitimidade internacional ", disse Balanche, acrescentando que essa medida abriria o caminho para o fim das sanções internacionais e a reconstrução do país.
A ONU espera que o Comitê Constitucional encontre uma solução política para o conflito. Pedersen, o emissário especial da ONU, disse várias vezes que será o povo sírio que terá que aprovar a constituição.
"Se a Rússia fracassar, significará que, depois de salvar o regime militarmente, ele não será reconhecido pela ONU ", acrescenta Balanche.
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