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Violência desenfreada e economia estagnada: dívidas do 1º ano de López Obrador

Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, durante coletiva de imprensa no Palácio Nacional, na Cidade do México - Xinhua/Presidencia de México
Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, durante coletiva de imprensa no Palácio Nacional, na Cidade do México Imagem: Xinhua/Presidencia de México

29/11/2019 07h54

Andrés Manuel López Obrador ainda pode gozar de grande popularidade entre os mexicanos, mas perto de completar um ano na presidência, em 1 de dezembro, poucos avanços em aspectos críticos como economia e segurança atrapalham a gestão deste líder empático.

Onipresente e com uma energia surpreendente, que lhe permite falar por horas a fio com os mexicanos, quer seja em sua inalterável coletiva de imprensa matinal ou nas viagens incessantes pelo país, López Obrador repete que seu povo está "feliz, feliz, feliz" e que as coisas caminham muito bem.

Mas algumas evidências parecem contradizer este carismático líder de esquerda de 66 anos, conhecido popularmente por suas iniciais, AMLO.

Seu primeiro ano de governo se encaminha para se tornar o mais violento desde o início dos registros oficiais, em 1997, superando o recorde de 33.743 assassinatos em 2018, enquanto a economia mexicana, a segunda maior da América Latina, crescerá apenas 0,2% neste ano, segundo projeções do Banco Central - um décimo dos 2% prometidos.

O pesquisador Hernán Gómez, que considera o primeiro ano de AMLO "muito melhor" que o dos três presidentes anteriores, admite contudo "omissões significativas" em ambos campos.

Quanto à segurança "ainda não a atacaram com seriedade suficiente, e o tema de crescimento econômico (...) acho que o presidente em particular ainda não lhe dá atenção suficiente", disse Gómez à AFP.

Erubiel Tirado, especialista em segurança da Universidade Iberoamericana, é mais severo: "Sem dramatizações, as chamadas políticas de segurança do governo de AMLO são um fracasso".

Ele afirma que sua aposta de atacar as causas da violência, como a pobreza, a marginalização e a falta de oportunidades, em vez de enfrentar o crime organizado, resulta "dispersa e desarticulada".

Fogo e tiros

Para Tirado, documentos oficiais como o Plano Nacional de Desenvolvimento 2019-2024 se limitam a oferecer "simplificações discursivas", resumidas em frases prediletas do presidente como "abraços, e não balas", ou "fogo não se combate com fogo".

A captura fracassada, em outubro, de um filho do narcotraficante preso Joaquín "Chapo" Guzmán, que foi libertado após pistoleiros sitiarem a cidade nortenha de Culiacán, foi celebrada como uma prova de suas "convicções" pela paz.

Mas não exercer a força do Estado em áreas de pacificação representa "um falso dilema", aponta Tirado, pois a paz não se contrapõe à obrigação de conter a violência e combater a criminalidade.

"Eu deixar de combater crimes não quer dizer que os criminosos vão voltar para casa e ficar tranquilos", aponta Francisco Rivas, diretor da ONG Observatório Nacional Cidadão.

Rivas, que estima que o remédio de atacar a pobreza e a exclusão não está sustentado na prática, observa ainda graves contradições nos planos do governo contra a violência.

"Vemos ações incompatíveis entre si, indicadores que correspondem uns aos outros, e se houver problemas de diagnóstico evidentemente haverá problemas na resposta", afirma.

Sobre a Guarda Nacional, o novo corpo militarizado que o mandatário concebeu como sua "bala de prata" contra o crime, especialistas concordam que é quase inexistente, pois carece de capacitação, protocolos e objetivos.

'Economia estagnada'

A economia é outro grande tema pendente. Embora a taxa de câmbio e a inflação - termômetros da saúde econômica para milhões de mexicanos - mostram bom desempenho, não ocorre com o mesmo crescimento.

A promessa de López Obrador de crescer uma média de 4% em seis anos hoje é improvável.

"A economia mexicana está praticamente estagnada", destacou o banco espanhol BBVA em um relatório publicado nesta quarta.

A fraca economia, mas, principalmente, a violência rampante abalaram a popularidade de AMLO. Sua aprovação caiu de 68,7% em agosto para 58,7% em novembro, segundo pesquisa da Consultoria Mitosfky publicada há uma semana.

Apesar da queda, a cifra supera os 50% que seu antecessor Enrique Peña Nieto (2012-2018) alcançou em seu primeiro ano de gestão, segundo a empresa.

"A popularidade não vai continuar assim por muito mais tempo", alerta Gómez, que, contudo, lembra dos acertos do mandatário, como estimular amplos programas sociais, assistir grupos vulneráveis e aplicar rigorosas políticas de austeridade e contra a corrupção.