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Para democratas, livrar Trump do impeachment é 'normalizar ilegalidade'

Presidente dos EUA, Donald Trump - CHRISTIAN HARTMANN
Presidente dos EUA, Donald Trump Imagem: CHRISTIAN HARTMANN

31/01/2020 00h24

Os democratas alertaram nesta quinta-feira que absolver o presidente Donald Trump do abuso de poder no processo de impeachment equivaleria à "normalização da ilegalidade".

No que poderia ser sua última tentativa para conseguir destituir Trump da presidência dos Estados Unidos, os promotores da Câmara expressaram indignação em relação à afirmação do advogado defesa, Alan Dershowitz, que disse que o presidente pode fazer quase tudo que considere de interesse público.

Adam Schiff, líder dos promotores do julgamento do processo de impeachment na Câmara dos Representantes, afirmou que a declaração atinge as leis americanas e relembram caso Watergate, que ocorreu há 45 anos e envolveu o então presidente Richard Nixon.

"O que vimos nos últimos dias chega a ser uma loucura constitucional", disse Schiff durante o julgamento no Senado.

"Quase meio século atrás, tivemos um presidente que disse que quando o presidente faz alguma coisa, isso significa que não é ilegal", afirmou.

"Não aprendemos nada nos últimos 50 anos?", acrescentou.

- "Francamente uma desgraça" -Schiff falou no segundo dia de perguntas apresentadas à promotoria e à defesa pelos 100 senadores que vão julgar o processo.

Trump, o terceiro presidente da história dos Estados Unidos a ser submetido a um processo de impeachment, está enfrentando acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso relacionadas ao seu plano de pressionar a Ucrânia a abrir uma investigação sobre o pré-candidato democrata à presidência Joe Biden.

As acusações contra Trump são por supostamente reter 391 milhões dólares em ajuda militar para a Ucrânia, a fim de forçar Kiev a abrir uma investigação contra Biden e seu filho, que trabalhava para uma empresa do país europeu.

Os democratas afirmam que essa atitude representa um convite ilícito a um governo estrangeiro para interferir nas eleições americanas.

Trump negou várias vezes ter agido de forma incorreta, descrevendo todo o processo como uma "caça às bruxas" com motivações políticas.

O presidente dos Estados Unidos disse nesta quinta-feira num pronunciamento em Michigan que este processo de impeachment "francamente, é uma desgraça" para o país.

- Argumento perigoso -A equipe de defesa de Trump argumentou alternadamente que o julgamento tem motivações políticas, que o presidente tinha motivos para investigar seu rival político e que ele tem o direito de fazer isso como presidente.

Na quarta-feira, Dershowitz, um famoso advogado e ex-professor da Universidade de Harvard, disse que o presidente poderia fazer essas exigências se pensasse que sua reeleição era "de interesse público".

"Se um presidente faz algo que acha que o ajudará a ser eleito a favor do interesse público, esse pode não ser o tipo de assunto que resulte em um julgamento político", acrescentou.

Democratas e grande parte da comunidade jurídica dos Estados Unidos ficaram impressionados com a declaração.

"Não consigo pensar em algo mais perigoso para a nossa democracia", disse Neal Katyal, ex-funcionário de alto escalão do Departamento de Justiça e professor de direito da Universidade de Georgetown.

"Qualquer presidente pode dizer: 'diabos, estou fazendo isso pelo interesse da nação", acrescentou.

"Parece que estamos retrocedendo. Se o presidente disse isso, não é ilegal", afirmou Schiff.

"Isto é a normalização da ilegalidade. Eu espero que todos os americanos reconheçam que é errado procurar ajuda estrangeira numa eleição americana".

- Os eleitores devem decidir -A equipe de defesa de Trump evitou o assunto e argumentou que era inapropriado tentar destituir um presidente popular através de um processo de impeachment em ano eleitoral.

O advogado da Casa Branca Pat Cipollone disse que os democratas estão usando esse processo "como arma política" e que os eleitores, e não o Senado, devem decidir o destino de Trump nas eleições de novembro.

"Deixemos nas mãos do povo dos Estados Unidos... que é quem deve decidir quem deve ser o presidente deste país", declarou o advogado.

Eric Herschmann, outro advogado de Trump, insinuou que a popularidade e o sucesso político do presidente invalidavam qualquer tentativa de condená-lo no julgamento.

"A aprovação do presidente enquanto estamos no meio deste julgamento político atingiu o nível mais alto de todos os tempos", disse Herschmann.

"Nós, os americanos, estamos felizes (...) Confiamos no povo americano para decidir quem deve ser nosso presidente", acrescentou.

- Dura batalha -Os democratas admitem que estão travando uma dura batalha para convencer os republicanos a agir contra Trump.

Após a sessão de quinta-feira, eles terão poucas horas na sexta-feira para pressionar o Senado a convocar testemunhas diretas da suposta falta de Trump.

O primeiro da lista é o ex-conselheiro de segurança nacional da Casa Branca John Bolton, que supostamente afirma em um livro ainda a ser publicado que Trump pessoalmente lhe disse que a ajuda militar para Ucrânia estava ligada à investigação de Biden.

Mas os democratas precisam obter a maioria do Senado para poder convocar testemunhas, e os republicanos tem a maioria na casa, com 53 representantes, contra 47 dos democratas.