PM faz reintegração de posse e indígenas deixam ocupação em São Paulo
São Paulo, 10 Mar 2020 (AFP) — Cerca de 200 indígenas guaranis e manifestantes deixaram um terreno situado no norte de São Paulo nesta terça-feira (10), que tinha sido ocupado há mais de um mês sob alegações de que a construção de edifícios na região retirou centenas de árvores do território considerado ancestral.
Vestindo os seus trajes tradicionais, com cocares e o rosto pintado, os indígenas resistiam a acatar o pedido judicial que os obrigava a deixar o terreno da empresa Tenda, ocupado desde o último 30 de janeiro, próximo da Terra Indígena Jaraguá, onde há seis aldeias guaranis.
"Nós estamos aqui para manter a preservação da natureza pacificamente, não somos de briga, não somos de luta. Foi ignorado o componente indígena quando teve o trâmite na prefeitura para ser aprovado (o projeto imobiliário), então acabaram derrubando tantas árvores. A gente está lutando contra isso (a aprovação do projeto)", disse Jaciara, líder da comunidade guarani Mbya, à AFP.
Os guaranis ocuparam a área, segundo denúncias, logo após a empresa cortar quatro mil árvores sem a autorização da prefeitura, ainda que ela argumente que derrubou um número muito menor e que tinha autorização.
No entanto, os indígenas acabaram aceitando deixar o local, após várias horas de tensão por causa da chegada de aproximadamente 30 policiais, que tinham como missão acompanhar a saída e devolver à Tenda a posse do terreno. As obras do local foram suspensas até maio.
"Concordamos em deixar o lugar, mas vamos continuar a nossa luta", disse Thiago Henrique Karai Djekupe, líder da comunidade.
Pouco antes, os indígenas tinham insistido em manter a ocupação.
"Quando vem um oficial para cumprir ordens, a situação fica tensa porque as crianças, as mulheres, a comunidade em geral, a gente não vai sair daqui enquanto não for derrubada essa reintegração de posse" do terreno a Tenda, afirmou Jaciara.
Em um comunicado enviado à AFP, a Tenda reiterou que desde 2014, a zona foi declarada de interesse social, o que prevê a conservação de 50% da área e que segue "aberta ao diálogo com a comunidade indígena e as autoridades" para resolver o "impasse político e socioambiental".
A construtora denunciou que na última segunda uma das suas sedes foi "invadida e destruída por líderes indígenas", que ameaçaram os seus funcionários com "arcos e flechas, como uma forma de intimidação".
A empresa explicou que o projeto busca levar infraestrutura e saneamento básico à região e "beneficiar até duas mil famílias de baixa renda" por meio do programa "Minha Casa, Minha Vida".
Em São Paulo, onde há 12 milhões de pessoas, há um déficit crônico de moradias, o que obriga a moradores com poucos recursos construir suas casas em áreas de risco.
Além disso, no estado as reservas ambientais localizadas nos arredores estão ameaçadas pela urbanização e contaminação.
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