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Mortos por covid-19 passam de 200.000; OMS alerta sobre 'passaportes de imunidade'

24.abr.2020 - Profissionais de saúde coletam amostras para teste de coronavírus em Capri, ilha ao sudoeste de Nápoles, na Itália - Emmanuele Ciancaglini/NurPhoto via Getty Images
24.abr.2020 - Profissionais de saúde coletam amostras para teste de coronavírus em Capri, ilha ao sudoeste de Nápoles, na Itália Imagem: Emmanuele Ciancaglini/NurPhoto via Getty Images

De Genebra (Suíça)

25/04/2020 22h07

O mundo ultrapassou neste sábado (25) a cifra de 200.000 mortes pelo novo coronavírus, enquanto a OMS alertou sobre a entrega de "passaportes de imunidade" que podem favorecer a propagação da pandemia, uma ideia proposta por vários países para acompanhar a suspensão de medidas de confinamento.

Segundo o último balanço da AFP, baseado em cifras oficiais, foram contabilizados mais de 2,8 milhões de casos de contágio em 193 países ou territórios e a covid-19 matou 200.736 pessoas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) jogou por terra as esperanças dos que apostavam em uma eventual imunidade dos curados da covid-19, em um momento em que alguns países se preparam para fazer testes sorológicos em vista do abrandamento das medidas de confinamento.

"Não há nenhuma prova neste momento de que as pessoas que se curaram da covid-19 e que têm os anticorpos estejam imunizadas a uma segunda infecção", disse a OMS em um comunicado.

O mundo muçulmano, ao contrário, começou o mês do jejum do Ramadã sem orações coletivas, nem alimentos compartilhados. A maioria dos países muçulmanos do Oriente Médio, do Norte da África e da Ásia fechou as mesquitas e proibiu as reuniões familiares.

No Irã, onde a doença matou 5.650 pessoas, segundo cifras oficiais, o mês de jejum muçulmano do Ramadã começou em meio a temores de um recrudescimento da epidemia, duas semanas depois da reabertura parcial dos estabelecimentos comerciais.

O coordenador da luta contra a doença em Teerã, Alireza Zali, criticou "reaberturas feitas apressadamente", e Mohammad Mehdi Gouya, diretor do departamento de doenças infecciosas do Ministério da Saúde, afirmou haver "indícios de um novo recrudescimento" dos casos em algumas províncias.

No Paquistão (12.000 casos), a população foi às ruas em massa, ignorando as advertências oficiais.

Cravos nas janelas

Alguns países já começaram a abrandar as medidas de quarentena, mas os balanços continuam refletindo uma situação catastrófica: o Reino Unido superou neste sábado os 20.000 mortos em hospitais. Esta cifra não leva em conta as mortes ocorridas em lares geriátricos onde, segundo representantes do setor, milhares de idosos teriam morrido.

Na Espanha, o terceiro país do mundo em número de falecidos, as crianças esperavam ansiosas pelo domingo, quando finalmente vão poder sair de casa após seis semanas. O governo proibiu até agora que menores de 14 anos deixem suas casas, nem mesmo acompanhados dos pais.

Além disso, muitas medidas de suspensão do confinamento vêm de mãos dadas com normas reforçadas de distanciamento social, como na África do Sul (75 falecidos), onde o confinamento começará a ser abrandado em 1º de maio, embora com a obrigatoriedade do uso de máscaras.

Em alguns lugares, o confinamento deu lugar a protestos, como em Berlim, onde neste sábado cerca de mil pessoas se reuniram para se manifestar contra a chanceler, Angela Merkel, a quem acusam de "proibir a vida" com medidas de quarentena. O protesto, que se tornou semanal, terminou com 100 detenções.

Em Portugal, a quarentena deixou neste sábado imagens inéditas da comemoração do 46º aniversário da Revolução dos Cravos. Centenas de cidadãos foram às janelas com cravos vermelhos nas mãos, cantando o hino nacional e "Grândola Vila Morena", símbolo do golpe de Estado militar que pôs fim a 48 anos de ditadura fascista e 13 anos de guerras coloniais, em 25 de abril de 1974.

Na Europa, a Itália, país do continente mais afetado pela pandemia, superou neste sábado os 26.000 falecidos, à frente da Espanha (quase 23.000) e da França (mais de 22.600).

A partir de 4 de maio, a Itália lançará uma campanha de testes sorológicos em 150.000 pessoas em escala nacional para tentar averiguar mais dados sobre a pandemia e dar, assim, uma resposta melhor à crise.

Consequências econômicas

Enquanto na Europa a curva de contágios parece entrar em uma descendente e na América Latina, em uma ascendente, a corrida por encontrar o produto adequado já começou nos laboratórios, com meia dúzia de testes clínicos, especialmente no Reino Unido e na Alemanha.

Ao mesmo tempo, uma catástrofe oculta outra: cerca de 400.000 pessoas a mais poderiam morrer este ano de malária pelos problemas de distribuição de mosquiteiros e medicamentos devido ao novo coronavírus, alertou a OMS.

Nos Estados Unidos, o país mais castigado do mundo pela pandemia, com 53.511 falecidos e 936.293 contágios, Trump assinou nesta sexta um novo plano de ajuda de quase 500 bilhões de dólares para pequenas e médias empresas e hospitais, após divulgada a informação de que o PIB da primeira economia do planeta encolherá 12% neste trimestre.

Os Estados Unidos registraram 2.494 novas mortes pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, segundo cifras divulgadas na noite deste sábado pela Universidade Johns Hopkins.

Os Estados Unidos são de longe o país mais afetado pela pandemia global, tanto em termos de infecções confirmadas quanto de mortes.

Os 2.494 óbitos das últimas 24 horas representaram um salto com base na sexta-feira, quando o país registrou o menor número de mortos pelo coronavírus - 1.258 - em quase três semanas.

A pandemia seguirá devastando as economias, obrigando as autoridades a tentar elaborar planos para incentivar a recuperação rapidamente.

O colapso do petróleo, devido à falta de demanda causada pela desaceleração econômica provocadas pelas medidas de confinamento, derrubou o barril venezuelano a 9,9 dólares, seu menor nível em duas décadas.

Mais de 150.000 contágios na América Latina

América Latina e Caribe superaram neste sábado os 150.000 casos de contágio, que causaram a morte de mais de 7.400 pessoas na região, segundo um balanço da AFP feito com dados oficiais.

No Brasil, onde segundo os números mais recentes do Ministério da Saúde, a covid-19 deixou 4.016 mortos e provocou 58.509 contágios, o presidente Jair Bolsonaro é acusado de inação ante a pandemia e os moradores das favelas decidiram agir.

"A favela tem que combater porque se esperar o governo ele nunca vai chegar", explica Thiago Firmino, guia turístico de 39 anos que se ofereceu como voluntário para desinfetar as ruas do morro Santa Marta, onde mora, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro.

Na Argentina, com mais de 3.500 casos e 176 óbitos, dezenas de presos se amotinaram em um presídio de Buenos Aires em protesto contra um caso de coronavírus, antes de ser acertada uma trégua até este sábado.

A Venezuela, por sua vez, anunciou uma flexibilização da quarentena para idosos e crianças.

Na capital do país, músicos começaram a fazer shows para os vizinhos, combinando boleros, merengues ou peças tradicionais, uma espécie de válvula de escape ao confinamento.

"É uma coisa muito linda" ver as pessoas "começar a aparecer" nas janelas, disse à AFP Yvanno Pichardo, de 35 anos, depois de cantar por 45 minutos em Colinas de Bello Monte, bairro de classe média do sudeste de Caracas.