Ex-ministro da Defesa do México é acusado nos EUA de narcotráfico e lavagem de dinheiro
Nova York, 17 Out 2020 (AFP) - O ex-ministro da Defesa Nacional do México Salvador Cienfuegos (2012-2018), detido na quinta-feira em Los Angeles, foi acusado em uma corte de Nova York de três crimes de tráfico de drogas e um de lavagem de dinheiro das drogas entre 2015 e 2017, quando integrava o gabinete, segundo a promotoria do Brooklyn.
Em sua acusação, os promotores do distrito leste de Nova York afirmam que Cienfuegos, que foi ministro durante todo o governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018), "conspirou para produzir e distribuir" nos Estados Unidos heroína, metanfetaminas, cocaína e maconha entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2017.
"O acusado abusou de seu cargo público para ajudar o cartel H-2, uma organização de tráfico de drogas mexicana extremamente violenta, a traficar milhares de quilos de cocaína, heroína metanfetamina e maconha aos Estados Unidos, inclusive a cidade de Nova York", diz o memorando da prisão.
Mensagens de Blackberry interceptadas
"Em troca de subornos, ele permitiu que o cartel H-2 - um cartel que frequentemente comete atos de violência, incluindo torturas e assassinatos - operasse com impunidade no México", destaca.
A Promotoria afirmou que as provas contra o ex-secretário incluem milhares de mensagens de Blackberry entre Cienfuegos e membros do cartel, interceptadas pelas autoridades.
Embora a acusação deste general reformado de 72 anos, apelidado de "O Chefão", tenha sido apresentada pela promotoria do distrito nova-iorquino em 14 de agosto de 2019, foi divulgada hoje, após sua detenção.
Os crimes atribuídos a Cienfuegos são castigados nos EUA com uma pena mínima de 10 anos de prisão e uma máxima de prisão perpétua.
O ex-ministro se apresentou nesta sexta-feira por videoconferência durante cinco minutos ante um juiz federal de Los Angeles e confirmou que tinha lido as acusações contra ele.
Cienfuegos contratou o advogado Duane Lyons e a pedido da defesa, será celebrada outra audiência para definir as condições de sua detenção. Um eventual pedido de fiança ocorrerá na próxima terça-feira às 13h locais, informou a promotoria do Brooklyn.
O acusado, que permanece detido, será transferido para Nova York "nas próximas semanas", informaram os promotores, que pediram que Cienfuegos não seja libertado sob fiança porque apresenta "risco de fuga".
A cônsul mexicana em Los Angeles, Marcela Celorio, disse ter conversado com Cienfuegos por telefone e depois pessoalmente.
"Recebeu a devida assistência consular" e foi informado "sobre seus direitos nos Estados Unidos", tuitou.
"Narcogoverno"
Cienfuegos foi detido na tarde de quinta-feira, quando chegava com a família no aeroporto de Los Angeles.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, afirmou nesta sexta-feira que "é muito lamentável que um ex-secretário da Defesa seja detido acusado por vínculos com o narcotráfico" e assegurou que não há investigação alguma contra Cienfuegos no México.
"Esta é uma demonstração inequívoca de decomposição do regime, de como foi se degradando a função pública, a função governamental no país durante o período neoliberal (...) Poderia se falar de um narcogoverno e sem dúvida de um governo mafioso", afirmou López Obrador.
O presidente também advertiu que integrantes ativos no Exército que tenham colaborado com Cienfuegos nos delitos "serão suspensos, retirados e, se for o caso, postos à disposição das autoridades competentes".
A prisão de Cienfuegos ocorre após a captura do ex-secretário de Segurança Pública do México, Genaro García Luna, nos EUA em dezembro de 2019, acusado de conspiração para traficar ao menos 53 toneladas de cocaína e que atualmente está preso em Nova York, mas aparentemente os casos não estão relacionados.
A Promotoria do Brooklyn, que apresentou as denúncias nos dois casos, foi a mesma que acusou Joaquín "Chapo" Guzmán, ex-chefe do cartel de Sinaloa, considerado culpado de narcotráfico em fevereiro de 2019, após um julgamento histórico de três meses, e condenado à prisão perpétua.
"Tem bastante informação"
Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais da DEA e que esteve mais de uma década no México, não descarta que a captura de Cienfuegos possa levar a acusações contra outros altos funcionários, inclusive o ex-presidente Peña Nieto.
"Cienfuegos tem bastante informação. Os promotores e as agências federais (dos Estados Unidos) sempre buscam em detidos como Cienfuegos informação que os leve a pessoas de seu nível ou acima deles", disse Vigil à AFP por telefone.
Ele considerou que esta captura, somada à de García Luna, poderia minar a cooperação com os Estados Unidos em virtude de que "muitos membros das forças de segurança do México não vão querer colaborar, pois vai haver rancor, desconfiança".
A partir de dezembro de 2016, o governo de Felipe Calderón aumentou o papel do Exército mexicano na guerra contra as drogas. Segundo organizações como a Anistia Internacional, isso gerou uma espiral de violência.
Desde então, foram registrados mais de 296.000 assassinatos no México, a maioria ligados ao crime organizado, segundo cifras oficiais.
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