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Eleitores votam ansiosos na reta final de eleições sem precedentes nos EUA

03/11/2020 20h56

Easton, Estados Unidos, 3 Nov 2020 (AFP) - Consciente ou não disso, Claire D'Angelo descreveu o estado de ânimo de boa parte dos americanos ao demonstrar sua ansiedade depois de votar nesta terça-feira (3) na fria Pensilvânia, usando uma máscara preta que lhe cobria o rosto.

"Dizer que eu estou nervosa ou ansiosa é pouco", disse a mulher de 45 anos, que votou no democrata Joe Biden na cidade de Easton, na Pensilvânia, um importante estado-pêndulo das eleições americanas.

Várias crises se somam nas eleições desta terça-feira. O país é sacudido pela pandemia do novo coronavírus, continuam os protestos contra os assassinatos de minorias por policiais e o presidente Donald Trump não deixa de semear dúvidas sobre a contagem dos votos.

Para ilustrar ainda mais a tensão subjacente à votação, comerciantes de várias cidades tomaram precauções e protegeram com tapumes portas e janelas de seus comércios, caso haja distúrbios.

- "Anticomunista e milionário" -Na Flórida, outro estado crucial que pode determinar o resultado final da eleição, os aposentados brancos, preocupados com a pandemia, os hispânicos que temem um suposto socialismo no coração do capitalismo mundial, os ex-detentos que recuperaram o direito a votar em 2018 e os afro-americanos motivados pelos protestos sociais podem fazer a diferença.

Em uma seção eleitoral em Miami, a septuagenária Annie Belman disse que a gestão da pandemia pelo presidente foi um fator em sua decisão de votar em Biden.

"A abordagem de Trump contra a ciência e seu comportamento imprudente é uma das muitas razões pelas quais nunca votaria nele", disse.

As pesquisas dão indícios de que os aposentados da Flórida, tradicionalmente republicanos, mas mais vulneráveis ao novo coronavírus, poderiam optar por Biden por causa da pandemia.

No entanto, Trump tem assegurado outro grupo eleitoral-chave na Flórida: os cubano-americanos e outros hispânicos convencidos de que só o presidente lhes garante estarem a salvo de um governo socialista.

Clara Giménez, uma cubana de 49 anos que chegou na embarcação "Mariel", em 1980, disse que votou em Trump "porque é anticomunista e porque ele é milionário, não precisa de dinheiro, nem de fama".

"Quem vai votar em Biden?", questionou, incrédula, usando um boné rosa com o lema de Trum, "Fazer a América grande de novo".

"Não precisamos de um presidente 'nice' (agradável), precisamos de um presidente como ele, que tenha coragem".

Biden pode se dar ao luxo de perder a Flórida e mesmo assim ser eleito presidente, mas quase todos os modelos mostram que Trump precisa de uma vitória neste estado para permanecer na Casa Branca.

- Acabar com o pesadelo -Para muitos outros, a eleição é nada menos do que uma luta para salvar a democracia americana, e mostram como prova as conspirações incitadas por Trump e seu fracasso em repudiar energicamente os grupos de supremacistas brancos.

Na cidade natal de Trump, Nova York, um homem disse ter esperado 45 minutos na fila para votar. "Mas já esperei três, quatro anos. Sim, já esperei tempo demais", disse Jess, de 54 anos, que não quis dar seu sobrenome.

"Quero acabar com este pesadelo. Estou ansioso. Estou preocupado. Só Deus sabe o que vai acontecer hoje".

Mais de 100 milhões de americanos optaram por votar antecipadamente, seja pessoalmente ou pelo correio, e em alguns locais de votação, as filas eram pequenas ou inexistentes nesta terça.

No entanto, alguns pensaram que, em um ano onde reina tanta confusão sobre as eleições, era melhor votar no mesmo dia de votação.

Foi o caso de Michael Murphy em Phoenix, Arizona, estado onde Trump venceu em 2016, mas que agora é considerado incerto.

"Esperei para que não houvesse nenhuma possibilidade de que meu voto se perdesse entre a minha mão e a máquina", disse Murphy, que usava máscara e uma camiseta com a inscrição "vote".

Os estados do meio-oeste, especialmente Wisconsin e Michigan, também serão decisivos para qualquer vitória e ali os eleitores foram votar cedo.

- A segura Califórnia -Enquanto isso, na costa oeste, não havia dúvidas de uma vitória de Biden na Califórnia e alguns demonstravam certa inveja dos eleitores dos estados indecisos, que são os que vão decidir as eleições.

"Gostaria que meu voto pudesse fazer uma diferença maior, como faria no Arizona ou em outro estado decisivo, mas estou feliz em exercer meu direito ao voto", disse Harry, de 52 anos, um trabalhador da construção que não quis dar seu sobrenome.

Em Portland, noroeste do país, que tem sido um celeiro de protestos contra a polícia nos últimos meses, os moradores estavam resignados diante da possibilidade de as tensões aumentarem à medida que o dia avançar.

"Os protestos provavelmente vão ocorrer independentemente de quem vencer, seja Biden ou Trump", disse William Anderson, um segurança de 64 anos.

"Nunca tinha visto em meus mais de 60 anos algo assim acontecer".

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