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ONU: redução de emissões na pandemia é insuficiente para metas do Acordo de Paris

09/12/2020 14h19

Paris, 9 dez 2020 (AFP) - A previsão de aquecimento do planeta continua sendo superior aos 3ºC, bem distante, portanto, dos objetivos do Acordo de Paris sobre o Clima, apesar da redução das emissões de dióxido de carbono durante a pandemia de coronavírus - alertou a ONU nesta quarta-feira (9).

Três dias antes de uma cúpula que pretende dar um novo impulso aos compromissos internacionais para manter o aquecimento global abaixo de 2°C e, se possível, de 1,5°C, em comparação com a era pré-industrial, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) volta a lançar uma mensagem de alerta.

Em seu relatório anual, no qual compara as emissões reais dos gases causadores do efeito estufa com as compatíveis com os objetivos de Paris, o PNUMA adverte que a reativação após a retração econômica, devido ao novo coronavírus, terá de ser "muito ecológica" para se evitar o pior.

Para manter a esperança de limitar o aquecimento global a 1,5°C, seria necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 7,6% ao ano, todos os anos de 2020 a 2030, de acordo com a ONU.

Essas emissões aumentaram em média 1,5% ao ano na última década, alcançando um recorde em 2019 (59,1 gigatoneladas, ou bilhões de toneladas, ou +2,6% a mais do que em 2018).

A pandemia da covid-19, que paralisou grande parte da economia mundial e das atividades humanas por vários meses, provocou uma forte queda nesse sentido. E, com isso, espera-se que as emissões destes gases diminuam 7% em 2020.

- 'Insignificante'Esse fenômeno terá, no entanto, um efeito insignificante no longo prazo, alertam os especialistas da ONU. Com a desaceleração econômica registrada no referido intervalo, teria-se evitado em torno de 0,01ºC de aquecimento para 2050.

E, até o final do século, estima-se que a trajetória do aquecimento será 3,2°C superior, mesmo que todos os compromissos do Acordo de Paris tenham sido cumpridos - o que não é o caso.

Com +1°C registrados desde a era pré-industrial, os efeitos do aquecimento já são notáveis.

Os cinco anos transcorridos desde a assinatura do Acordo de Paris foram os mais quentes da história, e "incêndios, tempestades e secas continuam a causar estragos, à medida que o gelo derrete a um ritmo sem precedentes", alerta a diretora-geral do PNUMA, Inger Andersen.

Por trás desse panorama sombrio, a ONU espera que a pandemia sirva de lição e que o mundo ponha em marcha uma verdadeira "reativação verde".

Esse movimento deve incluir um apoio direto e maciço às infraestruturas e tecnologias descarbonizadas, a redução dos subsídios para combustíveis fósseis, o fechamento das centrais elétricas movidas a carvão, o desenvolvimento de "soluções baseadas na natureza" e o reflorestamento em larga escala, entre outras medidas.

Isso permitiria "reduzir as emissões previstas para 2030 em até 25% sobre a base das políticas anteriores à covid-19" e daria 66% de chance de conter o aquecimento abaixo de 2°C.

No momento, porém, apesar das centenas de bilhões de dólares gastos pelos governos para resgatar suas economias, "em geral, perdeu-se a oportunidade de usar as medidas de estímulo para acelerar uma transição com baixas emissões de carbono", alertam os autores do relatório.

"Se não se der um giro, os objetivos do Acordo de Paris se afastarão ainda mais", completa o texto.

A ONU afirmou que a "igualdade" nos esforços será "central", já que as emissões de 1% da população mundial mais rica representam o dobro das da metade mais pobre.

Tim Gore, responsável do clima da Oxfam International, pediu uma "retomada verde" e Jennifer Morgan, diretora do Greenpeace International pediu aos governantes "provar que fazem todo o possível" cumprindo os comprissos do Acordo de Paris.

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