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Seguidores de Trump e extremistas se espalham pela rede após veto de Facebook e Twitter

Seguidores do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, migraram para redes confidenciais após expulsão do Twitter e Facebook - Tom Brenner/The New York Times
Seguidores do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, migraram para redes confidenciais após expulsão do Twitter e Facebook Imagem: Tom Brenner/The New York Times

23/02/2021 09h16

San Francisco, 23 Fev 2021 (AFP) - Gab no lugar do Twitter, MeWe pelo Facebook, Telegram para mensagens e Discord para pessoas com informações privilegiadas. Vetados nas principais plataformas, os movimentos de conspiração e supremacistas dos Estados Unidos, muitos deles com redes de apoio a Donald Trump, transferiram suas atividades para redes que são mais confidenciais e mais difíceis de regulamentar.

"Os partidários mais extremos de Trump já estavam em plataformas alternativas", disse Nick Backovic, pesquisador da Logically.AI, uma empresa especializada em desinformação na rede.

"O fato de que Facebook e Twitter demoraram tanto (a proibi-los) permitiu que pessoas influentes reconstruíssem as conversas e os grupos quase perfeitamente", completou.

Depois do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro em Washington, as principais redes sociais adotaram medidas contra as organizações envolvidas, como Oath Keepers, Three Percenters e Proud Boys.

O Facebook intensificou a eliminação de perfis vinculados a movimentos armados, e quase 900 contas foram fechadas. O Twitter baniu Trump de maneira permanente e fechou 70.000 contas afiliadas ao QAnon, grupo que sustenta a teoria de que o ex-presidente está envolvido em uma batalha contra uma suposta "elite" integrada por pedófilos adoradores de Satã.

"A retirada das plataformas funciona", disse Jim Steyer, presidente da organização Common Sense Media. "Agora que Trump não está no Twitter, ele perdeu seu alto-falante".

Antivacinas

Milhões de extremistas fervorosos e teóricos da conspiração se recusam a parar, porém, segundo os especialistas, que temem que a censura vá unir algumas pessoas de perfis muito diferentes.

"Olhe a composição do QAnon, você tem pessoas que tradicionalmente se uniriam às milícias. E também tem alguns republicanos tradicionais, tem instrutores de ioga e 'soccer moms' (termo usado para se referir a uma mulher branca de classe média que passa muito tempo levando os filhos para atividades esportivas)", afirma Alex Goldenberg, analista do centro de pesquisa Network Contagion Research Institute (NCRI).

"Havia uma grande diferença entre estas comunidades de conspiração e as comunidades nazistas tradicionais, ou comunidades supremacistas brancas. Mas parece que, diante da censura, estão começando uma fusão e a virar as mesmas comunidades, porque este é realmente o único lugar que resta para seguir", disse.

Muitos estão se unindo sob outras bandeiras, em particular a do movimento antivacina. Na plataforma de mensagens criptografadas Telegram, grupos formados por dezenas de milhares de partidários de Trump compartilham boatos falsos sobre "vacinas de despovoamento", entre insultos ao presidente Joe Biden e aos imigrantes.

Aos olhos das autoridades, as trocas de mensagens são similares a conversas de bar, ou a falas em uma mesa de família.

Embora a exclusão das principais plataformas tenha limitado a capacidade de recrutamento em grande escala dos movimentos extremistas, as brasas ardem sob as cinzas.

No fim de janeiro, por exemplo, um grupo de manifestantes interrompeu o processo de vacinação contra a covid-19 em um estádio de Los Angeles.

A necessidade de regulamentar plataformas alternativas esbarra nas imposições morais e práticas. Os limites da liberdade de expressão são tema de um debate intenso nos Estados Unidos.

"Poluição" digital

A Parler, uma das alternativas ao Twitter preferidas dos conservadores, ficou fora de serviço durante várias semanas porque Google, Apple e Amazon vetaram a plataforma por não moderar o conteúdo que incitava a violência. A plataforma voltou a funcionar em meados de fevereiro.

Gab e MeWe, plataformas parecidas com o Facebook, registraram uma explosão da popularidade após o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro deste ano. De acordo com Goldenberg, as plataformas são utilizadas, principalmente, por pessoas que precisam expressar sua frustração.

"Não houve pandemia em 2020. A gripe foi utilizada como arma para destruir a economia e roubar a eleição (de Trump)", insistiu o usuário do Gab ILoveJesusChrist123 em um comentário sobre uma declaração do ex-presidente publicada na plataforma.

O Telegram é mais propício para a ação, por meio de grupos privados criptografados. Os fãs das armas de fogo utilizam mais o fórum MyMilitia.com.

As duas redes se esforçam para moderar as publicações, mas carecem dos recursos necessários.

"Temos que pensar no movimento atual como a poluição. Estes grupos cresceram em poder e influência, porque conseguiram operar livremente no Facebook e no Twitter", disse Emerson Brooking, especialista em movimentos extremistas e desinformação do Atlantic Council.

Brooking recomenda que as plataformas encontrem uma maneira de compartilhar equipes de moderadores e recursos digitais.

O governo também deveria atuar, afirma John Farmer, do NCRI: "O governo tem a responsabilidade (...) de tratar estas plataformas da mesma maneira como, por exemplo, coisas essenciais como a água e a energia elétrica, e como os meios de comunicação costumavam ser tratados, como um bem público e, portanto, submetidos a uma regulamentação razoável".