Portugal: Vacina contra covid aproxima população da normalidade em Açores
CORVO, Portugal, 15 Mar 2021 (AFP) - Corvo, a menor e mais remota ilha do arquipélago português dos Açores, viu passar de longe a tempestade da pandemia de covid-19 e espera afastá-la definitivamente com uma campanha de vacinação comunitária.
"Já levamos uma vida muito próxima da normalidade e agora será ainda mais", diz António Salgado, o único médico da ilha, enquanto lista os nomes dos moradores que chegam ao pavilhão municipal para receber a segunda dose da vacina da Pfizer.
"É uma compensação pelas dificuldades que enfrentamos no dia a dia", acrescenta o médico de 62 anos, que chegou à ilha há menos de um ano. Agora, ele está acostumado com a escassez de frutas e combustível e teve de aprender a fazer seu próprio iogurte.
Com uma população de cerca de 400 habitantes, a ilha do Corvo possui um único vilarejo construído sobre uma antiga corrente de lava, encravada entre a falésia e o mar.
É a única parte de Portugal onde as autoridades decidiram imunizar toda comunidade, não se limitando aos grupos prioritários.
Entre o primeiro e único caso, detectado no final de janeiro, e a vacinação voluntária de quase toda população adulta, concluída no sábado, os habitantes do Corvo terão vivido menos de dois meses sob a ameaça direta da pandemia que, no entanto, atingiu fortemente o continente no início do ano.
No restante da Europa, a Grécia lançou um programa de vacinação semelhante em cerca de 40 ilhas com menos de 1.000 habitantes. Já foi concluído em oito delas, de acordo com a agência grega de notícias ANA.
"Como em uma cápsula"
Ao contrário dos portugueses do continente, que estão em confinamento rigoroso há dois meses, os "corvinos" podem se reunir em cafés e restaurantes para falar sobre os efeitos colaterais que a vacina causou em alguns deles.
Para Fernando Câmara, guia turístico de 67 anos, a vacinação representa "uma luz no fim do túnel". Ele espera que a vacina lhe permita retomar seu negócio, uma das poucas fontes de renda em uma ilha que depende muito do exterior.
Com sua imponente cratera vulcânica repleta de lagos e espécies raras de plantas e pássaros, Corvo está classificada como Reserva da Biosfera da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Além das riquezas naturais, a ilha de 17 quilômetros quadrados tem meia dúzia de pequenos barcos de pesca e mil vacas pastando em suas encostas sem floresta, com paredes baixas de pedra de lava e sebes de hortênsias que florescem em julho.
Até ser detectado um caso assintomático em uma moradora que passou o Natal no continente, a ilha vivia "um pouco como uma cápsula", diz Elisabete Barradas, professora de 57 anos que vive na ilha há três anos.
Mesmo assim, os ilhéus observaram "com grande preocupação" como o restante do mundo ia afundando em uma crise de saúde. "Me sinto muito privilegiada", afirma Elisabete, aliviada, logo após receber a segunda dose da vacina.
"Território imunizado"
A ilha corria perigo porque, embora tenha um respirador, não há leitos hospitalares.
"Tínhamos muito medo de que alguém viesse infectar todo mundo, como em um barco", lembra Goreti Melo, uma das duas enfermeiras da ilha, de 60 anos.
"O contágio teria sido desastroso e muito rápido", concorda o prefeito, José Manuel Silva. "Só temos uma padaria, então inevitavelmente vamos todos nos mesmos lugares", afirma, lembrando que alguns moradores chegaram a propor o fechamento da ilha.
Como a quantidade de vacinas necessárias no Corvo não comprometia a campanha em curso nas outras oito ilhas dos Açores, "a única decisão responsável era vacinar toda população de uma só vez, para criar um território imunizado", explica Clélio Meneses, responsável pela Saúde do governo desta região autônoma.
Juntamente com a vizinha ilha das Flores, que tem dez vezes mais população, Corvo se situa no extremo noroeste do arquipélago dos Açores, a 500 km de Ponta Delgada, a capital regional, e a quase 2.000 km do continente.
Por séculos, foi um refúgio e um alvo para piratas em seu caminho para as Américas.
Confrontado com a pandemia, continua a representar um refúgio de normalidade, mas agora já não é tão vulnerável.
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