Investigado por tráfico de madeira, Ricardo Salles deixa Ministério do Meio Ambiente
Brasília, 23 Jun 2021 (AFP) - O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (23), pressionado por uma investigação contra ele por seu suposto envolvimento em um esquema de exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e Europa.
"Apresentei meu pedido de exoneração (ao presidente Jair Bolsonaro), que foi aceito", anunciou em Brasília à imprensa Salles, um dos ministros mais questionados, principalmente por conta do aumento do desmatamento na Amazônia brasileira e do desmonte de programas de proteção ambiental.
Salles, de 46 anos, informou ainda que será substituído por Joaquim Álvaro Pereira Leite, encarregado da Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente.
O ex-ministro esteve sob pressão e era alvo de rumores sobre sua renúncia há várias semanas, especialmente depois que o Supremo Tribunal Federal ordenou uma investigação no final de maio por seu suposto envolvimento em um esquema de exportação ilegal de madeira para Estados Unidos e Europa, o que ele sempre negou.
A Polícia Federal invadiu o ministério em Brasília após identificar um "grave esquema criminoso transnacional" no qual autoridades, inclusive Salles, estariam envolvidas.
Ele também é objeto de outra investigação no STF por supostamente obstruir uma investigação sobre a maior apreensão ilegal de madeira no Brasil.
Apesar de tudo, continuou a ter o apoio público de Bolsonaro, que após a abertura da investigação disse que ele era um "ministro excepcional", mas que enfrentava obstáculos para realizar seu trabalho por causa de alguns setores "interessados" do Ministério Público e de "xiitas ambientais", como costuma definir órgãos estatais de controle ambiental, como ICMbio e Ibama.
No anúncio, Salles defendeu que, durante sua gestão buscou um equilíbrio entre sustentabilidade e "respeito ao agronegócio, aos empresários de todos os setores, mineração, imobiliário".
- "Já vai tarde" -O governo Bolsonaro, e em particular o ministro Salles, são acusados por indígenas, acadêmicos e organizações ambientalistas nacionais e internacionais de ter favorecido o aumento do desmatamento, reduzindo os recursos dos órgãos de controle e defendendo a abertura da região amazônica à agricultura e à mineração.
Salles também era malvisto por setores do agronegócio, que consideravam que sua política ambiental prejudicava a imagem internacional do Brasil, uma potência agroexportadora.
O anúncio foi muito festejado pelos órgãos ambientais, que desde que este ex-secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo assumiu o cargo no governo de Bolsonaro, em janeiro de 2019, não param de pedir sua renúncia.
No primeiro ano de governo, a destruição da maior floresta tropical do planeta, vital para conter as mudanças climáticas, aumentou 85%, destruindo uma área maior que Porto Rico, segundo dados oficiais.
Em maio, aumentou 41% em relação ao mesmo mês de 2020, dado que lança dúvidas sobre o compromisso assumido por Bolsonaro com a comunidade internacional para eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030
"Para imprimir, emplacar e gritar bem alto pelas ruas: CAIU! #JÁVAITARDESALLES", escreveu a ONG Observatório do Clima no Twitter.
- Um "aliado do agronegócio" -Após sua renúncia, o governo divulgou o perfil do novo ministro, formado em administração de empresas e que antes de ingressar no governo era membro da Sociedade Rural Brasileira, uma das entidades representativas do setor agropecuário do país.
Ele também foi proprietário de uma empresa de café.
O Greenpeace emitiu uma nota afirmando que "mudar o ministro não garante que o governo Bolsonaro mudará seu projeto antiambiental nefasto e que vem sendo dolosamente implementado".
A organização ambientalista acrescentou que o novo ministro "é subordinado de Salles e aliado aos interesses do agronegócio".
O Greenpeace também observou que, ao mesmo tempo em que Salles anunciava sua renúncia, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) aprovou "sem debate e apressadamente" o PL 490/2007, um projeto de lei altamente polêmico que altera as regras existentes para a demarcação de terras indígenas.
Na terça-feira, confrontos entre policiais e indígenas que se manifestavam em frente ao Congresso em Brasília deixaram vários feridos.
O projeto ainda precisa ser votado em plenário antes de ir ao Senado para sua aprovação.
Em abril do ano passado, o ministro enfrentou um de seus momentos mais polêmicos, quando foi filmado dizendo em uma reunião de gabinete com Bolsonaro que o governo deveria aproveitar a atenção global voltada para a pandemia para legalizar as atividades agrícolas e extrativistas em áreas protegidas.
"Nós temos a possibilidade nesse momento que a atenção da imprensa está voltada exclusiva quase que exclusivamente pro covid (...) e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas", disse Salles, causando indignação.
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