Extradição para EUA de empresário próximo a Maduro deixa diálogo venezuelano em suspenso
México, 18 Out 2021 (AFP) - A extradição aos Estados Unidos do empresário Alex Saab, apontado como testa de ferro do presidente Nicolás Maduro, deixou em suspenso as negociações entre o governo e a oposição da Venezuela, que deveriam ser retomadas no domingo na Cidade do México.
Os delegados de Maduro não compareceram à mesa de diálogo, como já haviam anunciado, em repúdio à extradição de Saab no sábado de Cabo Verde para os Estados Unidos.
O presidente da Venezuela chamou de "injustiça ignóbil" a extradição de Saab, apontado como seu testa de ferro e acusado de lavagem de dinheiro.
Trata-se de "uma das injustiças mais ignóbeis e vulgares cometidas no mundo nas últimas décadas", denunciou Maduro, em discurso transmitido pela TV estatal.
A Venezuela "está se movimentando nas Nações Unidas, em Nova York, em Genebra, nos órgãos de defesa dos direitos humanos", ante o "sequestro" de Saab, informou o presidente.
"Levaram Saab sem avisar aos advogados, à família, ninguém. Um sequestro em toda a linha do governo dos Estados Unidos! ", exclamou.
A oposição da Venezuela solicitou ao governo do presidente Maduro que retome as negociações para pôr fim à crise política no país, depois que o Executivo chavista se afastou da terceira rodada de diálogo.
"Exortamos a contraparte a retomar o quanto antes as sessões no México para produzir os acordos necessários", disse o líder da delegação opositora, Gerardo Blyde, em entrevista coletiva na Cidade do México.
O encontro deveria se estender até a próximo quarta-feira (20) na capital mexicana.
O governo Maduro anunciou no sábado que não compareceria à reunião depois que Alex Saab, empresário colombiano com nacionalidade venezuelana, foi extraditado de Cabo Verde para os Estados Unidos, que o acusa de lavar dinheiro para o governo venezuelano.
"Ninguém é mais importante que o povo venezuelano", comentou Blyde, ao lamentar o "novo atraso" produzido nas negociações iniciadas em agosto com mediação da Noruega.
O líder opositor disse que a delegação da chamada Plataforma Unitária viajou à Cidade do México por seu "compromisso com o povo venezuelano" e manifestou sua disposição para seguir avançando no diálogo.
"Tínhamos muitas expectativas sobre esta reunião e estas expectativas continuam para a próxima [...]. Queremos abordar com profundidade todos os temas da agenda, pois só assim poderemos chegar a acordos que produzam soluções para o país", acrescentou.
Blyde se referiu à "crise humanitária" na Venezuela, que, segundo ele, tem reflexos no setor da saúde, ao fracasso econômico que obrigou cerca de 5 milhões de pessoas a deixarem o país e à falta de garantias democráticas.
- Sem colaboração -O empresário Alex Saab disse que vai enfrentar o processo "com dignidade", e garantiu que não tem "nada a colaborar" com aquele país, segundo uma carta lida no domingo por sua mulher.
"Enfrentarei o julgamento com toda a dignidade. Quero deixar claro que não tenho nada a colaborar com os Estados Unidos, não cometi nenhum crime", disse Camilla Fabri ao ler o documento em Caracas, durante um evento organizado por autoridades venezuelanas em apoio à Saab, do qual participaram cerca de 300 pessoas.
Saab comparecerá a um tribunal da Flórida nesta segunda-feira, informou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
"Declaro que estou em pleno uso da minha razão, que não sou suicida, para o caso de me assassinarem e dizerem que cometi suicídio", declarou o empresário colombiano, que especialistas acreditam que conhece todas as engrenagens financeiras ocultas de Caracas.
A mulher de Saab disse que soube por sua irmã do processo de extradição do empresário a partir de Cabo Verde, realizado "pelas costas dos advogados e pelas nossas costas". "O que mais incomoda os Estados Unidos é que meu marido jamais irá ceder. Jamais!", exclamou. "Ele tem a fortaleza da verdade e da inocência", afirmou.
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