Parteiras afegãs pedem a talibãs para poderem continuar a trabalhar
Elas precisaram desviar de balas em suas salas e viram o a explosão do centro de formação. Mesmo assim, as professoras de uma escola de Obstetrícia do Afeganistão querem continuar sua missão pelo bem-estar de mães e bebês.
Em um país onde menos de 60% dos partos são supervisionados por profissionais da saúde, as parteiras de Maidan Shar, um reduto talibã na província central de Wardak, pedem ao novo governo que possam trabalhar em paz.
"Faço meu trabalho por um senso de humanidade e patriotismo, e porque sinto a necessidade de servir minha comunidade e os membros mais oprimidos da nossa sociedade: mulheres e crianças", disse a professora Shafiqa Bironi, de 52 anos, à AFP.
"Nossa demanda agora é que os talibãs ofereçam um espaço aberto e seguro para as mulheres para que, pelo menos, sejamos capazes de ajudar outras mulheres", insiste.
A Escola Comunitária de Educação em Obstetrícia em Maidan Shar já formou 181 profissionais no acompanhamento da gravidez e do parto.
Hoje, acolhe 25 alunas que devem se formar em maio de 2022, após dois anos de estudos interrompidos pela violência e pela pandemia da covid-19.
Em sua sala de aula, coberta de cartazes sobre ovulação, parto, ou higiene feminina, alunas de blusa e hijabs se debruçam sobre manequins pedagógicos.
"Foi muito difícil", reconhece a diretora do curso, Khatool Fazly, cujo escritório ainda apresenta buracos de bala.
"Havia, literalmente, combates todos os dias", acrescenta ela.
O centro se viu, algumas vezes, pego no fogo cruzado entre os talibãs e as forças do antigo governo. Não foram poucas as vezes que professoras e alunas tiveram de se proteger das balas.
Em 2013, a antiga escola foi completamente destruída por uma explosão dirigida a uma prisão, onde prisioneiros talibãs estavam detidos.
Mortalidade materna
Na prática, os talibãs excluíram muitas mulheres e meninas da educação e do trabalho, como fizeram em seu primeiro governo (1996-2001). No caso das profissionais de saúde, elas são incentivadas a retornar para seus empregos, mas muitas têm medo.
Os novos dirigentes começaram a tomar alguns distritos da província de Wardak em maio e, até agora, não impuseram restrições que impactassem o trabalho deste centro de formação.
Sua diretora Fazly conta que o estabelecimento recebeu, inclusive, o apoio de um influente conselho local e que mulheres e filhos dos talibãs acabam fazendo uso de seus serviços.
O principal problema para essas parteiras, o mesmo de muitos trabalhadores no país, é que elas não recebem seus salários há quatro meses, devido ao colapso do sistema bancário do Afeganistão.
O Afeganistão tem uma das taxas de mortalidade materna e infantil mais altas do mundo, embora tenha havido um progresso nos últimos 15 anos, especialmente graças à ajuda de organizações humanitárias internacionais.
A cada 100.000 nascimentos, 638 mulheres morrem no parto. E uma em cada 17 crianças morre antes de completar cinco anos. A pobreza, a falta de acesso aos serviços de saúde e a desigualdade de gênero contribuem para esta situação.
Khatool Fazly, que colocou este centro de pé em 2004 para "superar essas graves dificuldades", estima que a maioria das complicações da gestação e as mortes poderiam ser evitadas com o pré-natal das grávidas.
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