Topo

A 'russofobia' na guerra contra restaurantes russos de Manhattan

15/03/2022 19h49

Nova York, 15 Mar 2022 (AFP) - As reservas caíram 60% e os telefonemas e mensagens eletrônicas com insultos de ódio se multiplicaram. O restaurante "Russian Samovar", um clássico de Manhattan, trava sua própria guerra a quilômetros de distância do conflito provocado pela invasão russa da Ucrânia.

"Desde o dia 1 da guerra, começamos a receber mensagens de ódio, classificações de uma estrela no Google com fotos, pedidos para que paremos a guerra. Fotos de crianças na Ucrânia, mensagens que não podemos repetir; nos chamam de fascistas, nazistas, (dizem) que nosso restaurante deveria queimar", diz à AFP sua proprietária, Vlada Von Shats, uma russa neta de avós ucranianos e casada com um judeu ucraniano de Odessa.

Quando começava a se reerguer após dois anos de dificuldades pela pandemia de covid-19, a proprietária de um dos restaurantes russos mais antigos de Manhattan, situado em pleno coração da área de teatros ao lado da Broadway e um ambiente apagado apesar da música ao vivo, "sente que estão tentando apagar nosso restaurante porque tem a palavra 'russo'".

"Mudar o nome não é uma opção porque somos o Russian Samovar (Samovar russo) antes de que houvesse a Federação russa", diz, irritada, à AFP.

"Eu não dei o nome ao restaurante, meu padrasto e minha mãe o deram (há 36 anos), portanto não tenho o direito de mudar seu nome, nem tampouco quero", afirma.

Assim como o dela, outros restaurantes russos de Nova York têm sofrido com o assédio e o boicote dos críticos da guerra na Ucrânia, enquanto as filas de espera aumentaram ostensivamente nos restaurantes ucranianos em sinal de apoio.

Desde o primeiro dia da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro passado, a família Von Shats pôs uma bandeira ucraniana na porta e o cartaz "somos contra a guerra".

"Como explico ao meu filho, que tem 31 anos, quando atende o telefone e o chamam de nazista? Ele é judeu! Como mãe, não sei mais o que posso fazer para manifestar minha revolta", admite, acrescentando que antes de pertencer à sua família, foi um dos locais favoritos de Frank Sinatra em Manhattan.

As pessoas, afirma, "não entendem a diferença entre os russos e (o presidente russo, Vladimir) Putin. Esta é a guerra de Putin, não a nossa". "Nós não a criamos", repete como um mantra, antes de explicar que "estamos irritados" com ele tanto quanto "russos, judeus ucranianos que moramos nos Estados Unidos", porque "está roubando nosso legado, nossa liberdade".

"Não temos nada a ver com ele", dispara, antes de lembrar seu passado de "lugar seguro para os artistas que fugiam da União Soviética".

"Quero que as pessoas entendam que sua irritação está mal direcionada. Não começamos esta guerra. Não podemos dizer a Putin que a pare", conclui.

af/atm/mvv