Morte de generais: símbolo das graves baixas russas na Ucrânia
Paris, 28 Mar 2022 (AFP) - Apesar dos números continuarem sem possibilidade de verificação, a magnitude das baixas russas na Ucrânia tem proporções consideráveis, simbolizadas por um fenômeno que vem sendo observado desde os primeiros dias do conflito: a morte de numerosos generais e oficiais superiores.
Na sexta-feira (25), a Ucrânia afirmou que eliminou o comandante do 49º exército do distrito sul da Rússia, o general Yakov Rezantsev, e que, segundo o governo ucraniano, trata-se do sétimo oficial dessa categoria morto desde o início da guerra.
A morte de Andrey Paliy, comandante adjunto da frota do Mar Negro, foi confirmada em combates nos arredores de Mariupol pelo governador da Crimeia (anexada pelos russos), Mikhail Razvozhayev.
O conselheiro do presidente ucraniano, Mykhailo Podolyak, mencionou na semana passada a "extraordinária" taxa de mortalidade dos oficiais russos, o que evidenciaria uma "falta de preparação total".
"Dezenas de oficiais de categoria intermediária [tenentes, capitães] morreram", afirmou.
Além disso, veículos de imprensa noticiaram o assassinato de um oficial russo por seus próprios soldados sobrecarregados, citando comunicações russas interceptadas pelos ucranianos.
Por ora, a Rússia só reconheceu a morte de um general. Algumas fontes mencionam 15, enquanto as verificações independentes são impossíveis de serem realizadas no momento.
"Olho para esses números com bastante prudência", explicou à AFP Colin Clarke, diretor de pesquisa do Soufan Center, um think tank com sede em Nova York. "Contudo, mesmo que se fale de cinco ou 15, o fato de estarem perdendo generais mostra que a cadeia de comando e controle da Rússia é muito baixa", acrescentou.
- O alto comando como alvo -Os analistas ocidentais e especialistas militares descrevem, de maneira unânime, que a primeira fase da guerra representa um fracasso geral para os russos.
O exército russo, que antes possuía uma grande reputação, mostrou grandes debilidades em qualidade de inteligência, logística, e em suas táticas erráticas. Isso "obriga os comandos a estarem muito à frente na linha de contato", afirma um alto responsável militar francês.
Para ele, isso representa a seguinte hipótese: "as ordens são mal compreendidas ou recebidas, as unidades não obedecem, ou existe um problema maior de estado de ânimo que obriga os generais a irem para a vanguarda".
Segundo o militar francês, isso também confirma uma provável estratégia ucraniana. "Quando se pretende desorganizar uma cadeia de comando, os líderes se tornam os alvos".
A tarefa é mais fácil na medida em que o exército russo utiliza instrumentos de comunicação que são facilmente interceptáveis pelo adversário.
As unidades russas "não cuidam de seus procedimentos de segurança cibernética e [suas comunicações] são interceptadas com facilidade", garantiu à AFP Alexander Grinberg, analista do Instituto de Segurança e Estratégia de Jerusalém (JISS, na sigla em inglês).
No terreno, os responsáveis operacionais são praticamente identificáveis a uma simples vista, acrescentou, confirmando informações de outras fontes.
O veículo do comandante é identificado por suas "antenas e outros veículos que o protegem. Assim se identifica o posto de comando tático", assinalou. Os ucranianos podem então "atacar com um míssil antitanque, ou ainda melhor, com um drone de ataque".
- 'Dor de cabeça' -Os observadores ocidentais destacam que o Kremlin não parece muito preocupado com as perdas humanas e que a cultura militar russa, ainda marcada pela herança soviética, se apoia tradicionalmente em sua potência quantitativa.
"As perdas não são um freio", afirma um diplomata ocidental. Contudo, essa questão se apresenta de forma distinta para a cadeia de comando, pois, apesar de o exército possuir muitos generais, eles não são substituíveis infinitamente.
"Os números contam, em particular os oficiais superiores", afirma Colin Clarke. "Que Putin sacrifique recrutas e mercenários como bucha de canhão é uma coisa, mas, se as informações são exatas" sobre as perdas de alto escalão, "a informação chegará à opinião pública e provocará dores de cabeça à elite russa", opina.
A Rússia não tece nenhum comentário sobre essas questões. Mas o fato de não haver desmentido é considerado por algumas fontes como uma confirmação de fato.
Leonid Volkov, aliado próximo do opositor preso Alexei Navalny, assinalou que nenhum meio russo mencionou o funeral, ocorrido em 16 de março, do general Vitaly Gerasimov, morto no início do conflito.
Ele será enterrado sem que o seu nome apareça na lápide, afirmou.
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