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Polícia impede protesto no Sri Lanka; governo bloqueia redes sociais

03.abr.22 - A polícia monta guarda onde manifestantes protestam contra o aumento dos preços e a escassez de combustível e outros produtos essenciais em Colombo, capital de Sri Lanka - ISHARA S. KODIKARA/AFP
03.abr.22 - A polícia monta guarda onde manifestantes protestam contra o aumento dos preços e a escassez de combustível e outros produtos essenciais em Colombo, capital de Sri Lanka Imagem: ISHARA S. KODIKARA/AFP

03/04/2022 11h45Atualizada em 03/04/2022 13h18

As autoridades do Sri Lanka bloquearam neste domingo o acesso às redes sociais, enquanto soldados e policiais armados impediram um protesto da oposição em Colombo contra o presidente Gotabaya Rajapaksa, em um momento de manifestações provocadas pela crise econômica no país.

As principais redes sociais - Facebook, YouTube, Twitter, Instagram e WhatsApp - estavam inacessíveis em todo Sri Lanka por decisão do governo.

Ativistas haviam usado as redes sociais para convocar protestos neste domingo, antes da entrada em vigor da ordem de bloqueio. "Fora com os Rajapaksa", "Não se deixem intimidar pelo gás lacrimogêneo, em breve não terão dólares para voltar a comprá-los", afirmavam algumas mensagens divulgadas no sábado.

Centenas de pessoas se reuniram diante da residência do líder opositor Sajith Premadasa e iniciaram uma caminhada até uma das praças da capital do Sri Lanka, desafiando o toque de recolher em vigor. Mas foram rapidamente bloqueados por soldados e policiais armados com fuzis.

O país do sul da Ásia, de 22 milhões de habitantes, enfrenta uma severa escassez de alimentos, combustíveis e outros produtos básicos, assim como inflação elevada e cortes de energia elétrica, a pior crise desde sua independência do Reino Unido em 1948.

O presidente Gotabaya Rajapaksa ordenou na sexta-feira o estado de emergência depois que uma multidão tentou invadir sua residência na capital Colombo. O toque de recolher seguirá em vigor até a manhã de segunda-feira.

Em períodos normais, o exército deve se contentar com o papel de apoio à polícia, mas com o estado de emergência decretado pelo governo pode operar de forma autônoma, em particular para prender civis.

"O presidente Rajapaska deveria perceber que a maré virou contra seu regime autocrático" declarou Harsha de Silva, deputado da aliança de oposição Samagi Jana Balawegaya (SJB).

"Não podemos tolerar uma tomada de poder militar. Deveriam saber que ainda somos uma democracia", acrescentou.

O chefe de Estado justificou a decisão de instaurar o estado de emergência com a necessidade de "proteção da ordem pública e manutenção dos serviços essenciais para a vida da comunidade".

No sábado à noite, centenas de pessoas desafiaram o toque de recolher e organizaram pequenas manifestações em bairros de Colombo.

Algumas divergências começaram a ser percebidas dentro do governo.

"Nunca vou concordar com o bloqueio das redes sociais" declarou o ministro dos Esportes, Namal Rajapaksa, que é sobrinho do presidente. "A disponibilidade de VPN, como o que eu uso agora, transforma os bloqueios em algo completamente inútil" acrescentou.

Gotabaya Rajapaksa é de uma família política muito apreciada por grande parte dos cingaleses por ter acabado com a guerra civil contra os 'Tigres Tâmeis' em 2009. Mas o apoio ao clã Rajapaksa desabou com a crise econômica.

O turismo e as remessas da diáspora, fundamentais para a economia do Sri Lanka, caíram durante a pandemia. E o governo impôs uma ampla proibição das importações para frear a sangria das divisas estrangeiras.

Muitos economistas afirmam que a crise se aprofundou pela má gestão do governo, o acúmulo de dívidas e as reduções de impostos.